Os podcasts estão na ordem do dia. Ontem, o grupo Globo lançou uma série de podcasts em suas plataformas e na semana passada, o jornal Correio Braziliense cravou: os podcasts são uma tendência mundial. A palavra tem sido muito falada, mas muita gente ainda não sabe direito do que se trata. Deixe-me tentar trocar em miúdos: podcasts são programas de áudio distribuídos através de episódios pela internet e você pode ouvi-los quando quiser. Mas só é possível acessá-los a partir de uma conexão com a internet, através do streaming. É tipo o Netflix, só que sem imagem, e podem ser encontrados em plataformas já populares, como o Spotify, iTunes, Deezer etc., até aplicativos específicos, como Tune In e o Castbox.
Nele se fala de tudo um pouco: política, economia, religião, tecnologia, cultura… e ainda tem dicas de faxina, mecânica de carro, carreira e negócios etc. Muitos são bate-papos informais (alguns, até demais!); outros, entrevistas nas quais um âncora puxa, de um ou mais convidados, um assunto palpitante do momento. As empresas de comunicação, tipo o The New York Times (que já contabiliza cerca de 2 milhões de ouvintes), Folha de SP, Estadão, Nexus etc., utilizam muito esse modelo de entrevista.
De acordo com a Associação Brasileira de Podcasters (Abpod) - olha aí, o Brasil já tem uma associação voltada para o seguimento! - há, no país, cerca de dois mil podcasts ativos, ou seja, os que oferecem episódios com regularidade (em geral, eles são semanais) nas mais diversas plataformas.
Um estudo realizado pela Abpod, em parceria com o Ibope Inteligência, concluiu que 40% dos 120 milhões de usuários de internet no Brasil já ouviram pelo menos uma vez um programa desse tipo. É um número bastante volumoso (corresponde a 48 milhões de pessoas) e está localizado, ainda segundo o levantamento, entre o público mais escolarizado e com renda superior à média da população.
Ainda segundo a pesquisa, os ouvintes de podcasts preferem programas curtos (de até 15 minutos) e que os celulares são o meio escolhido para escutar os conteúdos, com 75% de predominância entre os usuários. E, tenho para mim, que a aproximação dos smartphones com caixas de som bluetooth e fones de ouvido cada mais melhores e mais confortáveis estão por trás da popularização dos podcasts.
Eu sou um neófito no assunto. Tem pouco mais de dois meses que passei a ouvir, com assiduidade, esses episódios de áudio. Instalei o Castbox no meu celular e escolhi uns cinco canais para acompanhar de perto. O Castbox é uma plataforma com centenas de canais de podcast e, até agora, não me cobrou um centavo de real pelo acesso (embora haja uma versão paga). Da mesma forma, os canais que eu escolhi seguir. O que não significa que não haja canais pagos.
Os podcasts aposentaram minha playlist de música durante minhas caminhadas matinais. E se você começou a perceber a quantidade de fones de ouvido ao seu redor, quando você sai na rua, saiba que nem todo mundo está ouvindo música. Outro ambiente em que os podcasts se proliferam são os carros; afinal, basta conectar seu celular no media center, ou naquela velha entrada auxiliar do som, apertar o play e encarar o trânsito.
O fato é que hoje, dedico um bom tempo do meu dia a ouvir papos sobre cinema (me tornei fã do Podcast Filmes Clássicos), notícias (são vários…), nerdices (o popular Braincast), quadrinhos (Universo HQ) e história (Vozes: Histórias e Reflexões). Os episódios que me cativam têm o que eu mais prezo: informação apurada, robusta, livre de fake news e transmitidas com segurança e leveza.
Nos dias de hoje, em que nossa atenção é disputada, segundo a segundo, por atrativos que são numerosos e onipresentes (redes sociais, aplicativos de filmes e séries, além das atividades pessoais e profissionais), não há espaço para amadorismos. Quem se propuser a investir tempo e dinheiro para produzir seu próprio podcast, saiba que precisa ter algo a dizer, trazer informação exclusiva e detalhes minuciosos que, imagino eu, é o que o exigente ouvinte de podcast mais preza.
E não acho que o podcast venha para matar o rádio. Eles são irmãos e, no meu entender, um começa onde o outro termina. O rádio, como fonte de notícia e espaço para discussão, é essencial no ambiente do hard news, das notícias do cotidiano, com a velocidade que só o rádio possui, e por isso ele segue fundamental. Esta não é a praia do podcast, que segue uma outra dinâmica, a dinâmica do papo com especialistas, sem hora para começar, nem hora para terminar. E assim ganhamos mais uma fonte de conhecimento.
*publicada originalmente na edição impressa de 26 de agosto de 2019