Seleção competitiva voltada a produções audiovisuais feitas no Nordeste, a Mostra Sob o Céu Nordestino do Fest Aruanda terá apenas produções paraibanas este ano. E por que isso? Porque o volume de inscrições de longas feitos aqui no estado foi tão grande que chegou a transbordar até para a Mostra Competitiva Nacional. Então, se você acompanha cinema, torce pelas produções locais e pela cultura paraibana, preste atenção aos sinais: a nossa produção vai bombar em 2026!
Ao apresentar a programação da 20ª edição do Fest Aruanda, na semana passada, o professor Lúcio Vilar, idealizador do festival, celebrou o número de inscrições de longas-metragens locais (curtas também, mas sobretudo os longas) e afirmou que a Paraíba vive uma “nova primavera”, fazendo referência ao título que o crítico de cinema Luiz Zanin, do jornal O Estado de São Paulo, utilizou na cobertura do festival há sete anos: “Aruanda 2018: a primavera do cinema paraibano”.
Críticos de cinema costumam tomar emprestado da chamada “Primavera de Praga” o uso do termo “primavera” como metáfora para indicar um período de florescimento artístico. Recentemente, com Ainda Estou Aqui, seguido por O Auto da Compadecida 2 e, agora, em O Agente Secreto, leio que o Brasil está passando por uma nova “Primavera do Cinema Brasileiro”, com filmes de alta octanagem artística arrebentando nas bilheterias.
Em um texto publicado em seu blog no dia 10 de dezembro de 2018, Zanin disse estar “impressionado com a safra atual do cinema paraibano”. Lembrava que, até ali, a Paraíba raramente conseguia produzir um longa-metragem e que o cinema do estado era conhecido mais, ou tão somente, pelo cinema documental de Linduarte Noronha e Vladimir Carvalho.
“A atual safra, que mescla documentários e ficção, é de encher os olhos”, ponderou Luiz Zanin ao listar a safra com seis longas-metragens “que vêm provocando a admiração dos espectadores de fora, como o crítico Jean-Claude Bernardet, que a classificou de ‘excepcional’” (Bernardet, que morreu em julho, irá receber uma homenagem póstuma no festival deste ano).
Beiço de Estrada, de Eliézer Rolim; Estrangeiro, de Edson Lemos Akatoy; O Seu Amor de Volta (Mesmo que ele não Queira), de Bertrand Lira; Rebento, de André Morais; Sol Alegria, de Tavinho Teixeira; e Ambiente Familiar, de Torquato Joel, foram os seis filmes paraibanos exibidos no Aruanda de 2018 e reverenciados pelo crítico paulista.
Zanin, certamente, ficará feliz em saber que o jardim do audiovisual paraibano anuncia uma nova primavera. No Fest Aruanda 2025, cinco novos longas-metragens serão exibidos, incluindo as novas produções de três cineastas da primavera de 2018: Tavinho Teixeira, que exibe o aguardado Batguano Returns - Roben na Estrada (desta vez em parceria com Frederico Benevides) no sábado que vem (6); Torquato Joel com Corpo da Paz, que será exibido na segunda-feira (8); e André Morais, que comparece com Malaika na terça-feira (9).
Somam-se a eles Tiago Neves com seu Outono em Gotham City no domingo (7) e Arthur Lins e André Moura com o documentário O Nordeste sob a Caravana Farkas na segunda-feira (8). Os filmes serão exibidos dentro da Mostra Sob o Sol Nordestino, no Cinépolis Manaíra, sempre às 18h, com exceção de Corpo da Paz, que integra a programação da Mostra Competitiva Nacional e está na sessão das 21h30. Lembrando que todos esses filmes ainda estão inéditos nos cinemas, então só deverão estrear em 2026 ou 2027.
E pelo andar da carruagem, a Paraíba deve voltar em peso ao Fest Aruanda do ano que vem. Conversando com o multiartista Lukete, ele me confidenciou que está em duas produções engatilhadas para 2026.
A principal é Chofre, de Odécio Antonio, cuja trama gira em torno turmalina. O elenco — paraibano — é tão reluzente quanto a pedra preciosa: além de Lukete, estão Luiz Carlos Vasconcelos, Thardelly Lima, Suzy Lopes, Buda e Nanego Lira, Everaldo Pontes, Duda Moreira, Ingrid Trigueiro, Fernando Teixeira e Daniel Porpino.
Lukete também estará na comédia Bom Dia, Vizinho, estreia de Jackson Kakito, de Catolé do Rocha, na direção. O elenco conta com Bonerges e Vinicius Guedes, entre outros. Cely Farias também está no filme, no papel de Kátia Silene Seagal, uma clara referência à personagem de Camila Pitanga em Saneamento Básico.
A primavera que se inicia agora, no Fest Aruanda 2025, há de render um jardim de muitas ideias, criatividade e talento. Vida longa ao audiovisual paraibano.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 2 de dezembro de 2025.