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Bond, James Bond: 60 anos

publicado: 11/10/2022 00h00, última modificação: 14/11/2022 10h28
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Sean Connery (D) como o famoso agente secreto, ao lado da ‘bondgirl’ Ursula Andress (E) - Foto: Foto: Divulgação

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por André Cananéa*

Há 60 anos, chegava às telas a franquia mais longeva do cinema, que já soma 25 filmes regados a agentes secretos, perigos eletrizantes, carros velozes, mulheres estonteantes e, claro, doses e doses de dry martini (batido, nunca mexido!), além de outras três produções extraoficiais. Estamos falando, claro, dele, Bond... James Bond!

Tudo começou em 5 de outubro de 1962, quando 007 Contra o Satânico Dr. No teve sua estreia mundial em Londres, dando vida ao sétimo livro do escritor britânico Ian Fleming – os produtores apostaram em Dr. No, pois acharam que era o livro, de cara, mais adaptável para o cinema, e conceberam um roteiro que fosse o mais fiel possível ao texto do autor.

Antes de pensar no elenco, os produtores escalaram o diretor. O experiente Terence Young já tinha 17 filmes no currículo – além de uma série de TV – quando foi convidado para assumir o projeto. O cineasta já havia transitado em vários gêneros e trabalhava escrevendo roteiros para os sócios Irving Allen e Albert R. Broccoli, quando a dupla adquiriu os direitos autorais das aventuras de James Bond. Além de Dr. No, Young ainda faria dois outros filmes do agente secreto, Moscou contra 007 (1963), e 007 Contra A Chantagem Atômica (1965).

Sean Connery ainda não era uma estrela (vinha, sobretudo, de uma carreira de filmes para televisão), mas coube a ele o papel do agente secreto mais famoso do mundo. Deu muito certo. Em um especial que acompanha o filme em blu-ray, Connery atribui ao diretor as características que fizeram de James Bond um ícone: sofisticado, espirituoso e sempre bem-vestido, com ternos feito sob medida na Savile Row, rua de Londres famosa pelas vestimentas impecáveis. Mas foi o ator quem lhe deu cara e forma.

007 Contra o Satânico Dr. No tira o agente secreto da mesa de cartas para uma missão na Jamaica: descobrir o motivo que levou ao assassinato de outro agente na América Central. Lá, em meio a belas praias e femme fatales, ele escapa da morte com a mesma facilidade com que conquista as mulheres, enquanto persegue o primeiro de muitos vilões marcantes, o tal Dr. No, vivido por Joseph Wiseman (Christopher Lee e Noel Coward, respectivamente primo e amigo de Ian Fleming, foram cogitados para o papel). Aliás, Fleming teria baseado seu vilão no famoso personagem Fu Manchu, do também britânico Sax Rohmer.

O filme já tem muito da fórmula que marcaria a franquia: o protagonista charmoso e galanteador, carros de luxo velozes, locações exóticas, frases de efeito, sequências de ação de tirar o fôlego, e claro, as belas companhias femininas, eternizadas como as “bondgirls”, que, aqui, encontra na estonteante Ursula Andress (em início de carreira), saindo do mar do caribe, a definição imagética para o papel.

Até a abertura já mostra os caminhos que a série tomaria ao longo dos anos. Está lá a icônica imagem do agente andando de lado e, num salto, virando-se e atirando em direção à tela, movimento que antecede o famosíssimo tema instrumental de Monty Norman (executado pela John Barry Orchestra) – as canções só começariam a figurar na abertura a partir do terceiro longa, 007 Contra Goldfinger, na inesquecível interpretação de Shirley Bassey.

É essa base que daria as características mais reconhecíveis dos filmes de James Bond ao longo dos anos, claro, com as variações comportamentais que o mundo passou a exigir nesses últimos 60 anos. Revi, agora, 007 Contra o Satânico Dr. No, que para mim segue como um entretenimento de primeira linha, mas ainda traz as marcas do mundo naquele início de anos 1960.

Entre os exemplos, está o fato do núcleo da história ser formado apenas por homens brancos, enquanto negros e mulheres ficam relegados ao segundo plano – rota que seria corrigida com o passar dos anos, inclusive dando à atriz Judi Dench o papel de M, chefe da agência de segurança a qual James Bond está vinculado, mas isso só viria a acontecer em 1995, com 007 Contra GoldenEye.

007 Contra o Satânico Dr. No custou a bagatela de um milhão de dólares e arrecadou, em bilheteria, 16 vezes mais. Para o leitor ter uma ideia, 007: Sem Tempo para Morrer, lançado no ano passado (e que marca a despedida do ator Daniel Craig do papel), teve um orçamento estimado em 250 milhões de dólares.

A estreia de James Bond no Brasil, entretanto, demoraria quase um ano, começando a ser exibido no país em 7 de setembro de 1963. Na Paraíba, custou mais um pouquinho: uma pesquisa realizada nos arquivos do Jornal A União localizou o anúncio do filme no Cine Municipal, em João Pessoa, em junho de 1964 – quase dois anos após a premiére mundial.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 11 de outubro de 2022.