O Jampa Rock Festival, realizado no último sábado (24), no Espaço Cultural, em João Pessoa, foi uma grande celebração do “rock dos anos 1980”, como costumam dizer os mais velhos. Figura icônica dessa leva, Charles Gavin, ex-baterista dos Titãs, passou pelo festival, não em cima do palco, mas nos bastidores, como comentarista/entrevistador da transmissão oficial do evento.
Um dia antes, a meu convite, Gavin apareceu na Parahyba 103.9 FM para uma entrevista que fiz com ele. Uma entrevista incrível que irá ao ar em dezembro, como parte da programação que irá celebrar o primeiro ano da nova rádio da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), da qual fazem parte a Rádio Tabajara e este jornal A União, entre outros produtos.
O papo com Charles Gavin será o primeiro episódio de uma atração que ainda estamos desenvolvendo. Um programa — cujo nome ainda mantenho em sigilo — que terá 12 episódios, e deverá funcionar muito bem tanto no rádio, quanto, posteriormente, no formato podcast, como temos feito com todos os programas da faixa das 18 horas (você pode acessá-los nas principais plataformas de streaming, como Deezer e Spotify, por exemplo).
Voltando a Charles Gavin: minha ideia nunca foi gravar uma entrevista com o baterista dos Titãs apenas, mas ir muito além: queria ouvir a opinião de um dos principais pesquisadores de música do Brasil, de um grande colecionador de discos (LPs e CDs, como ele enfatizou) e de uma figura importantíssima para o resgate de discos preciosos da nossa música, lançados antes da digitalização do mundo, materializada na forma de reedições comandadas pelo músico e pesquisador, como a série Dois Momentos, lançada entre 1999 e 2000, que trouxe para o CD resgates dos mais valiosos, de discos de artistas como Secos & Molhados, Walter Franco, Guilherme Arantes, Paulinho da Viola, Carlos Dafé, Zezé Mota e tantos outros, numa soma de 15 volumes.
Charles Gavin também é o nome de proa de O Som do Vinil, programa do Canal Brasil dedicado a desvendar alguns dos mais icônicos LPs e CDs lançados pela música brasileira, a partir de conversas como os artistas que fizeram esses discos, dos titulares a produtores, engenheiros de som etc. Lançado em 2007, o programa rendeu, até 2023, mais de 350 episódios até agora: “Falei praticamente com quase todo mundo de relevância da MPB, faltou pouquíssima gente”, me disse durante a entrevista, acrescentando que o programa estava “pausado no momento”, e daqui eu torço para o programa ter continuidade.
Um projeto que deveria ter corrido em paralelo a contento, mas deu errado — e Gavin lamenta muito por isso — eram as edições em livro dos principais programas. A série de livros Som do Vinil morreu após 10 volumes, “mas tenho esperanças de retomá-lo”, confidenciou o âncora do programa. Os livros trazem, entre outros, a transcrição da entrevista que Gavin fez com Milton Nascimento e Lô Borges sobre o seminal LP Clube da Esquina (1972), ou Paulinho da Viola contando as histórias por trás de Nervos de Aço (1973). O bom é que as transcrições partem da entrevista bruta, ou seja, contém mais informações que a versão editada, levada ao ar em programas de apenas 28 minutos.
E aqui cabe um spoiler da entrevista ainda inédita que fiz com Charles Gavin para a Parahyba FM: fã de Zé Ramalho, ele me contou que gravou cerca de três horas de entrevista com o cantor e compositor paraibano. Quando o papo terminou, Zé quis saber: “Quanto tempo tem o programa?”. Meio sem jeito, Gavin respondeu: “Vinte e oito minutos”. Por sorte, o apresentador conseguiu convencer a direção do Canal Brasil a utilizar dois programas para aproveitar melhor o papo de Zé Ramalho sobre um dos pontos altos de sua discografia, A Peleja do Diabo com o Dono do Céu (1979). O livro, por sua vez, traz bem mais que as quase uma hora de conteúdo levado ao ar.
Felizmente, a música, seja ela brasileira ou internacional, tem rendido ótimos livros. Para além de biografia de artistas, coleções como O Som do Vinil e O Livro do Disco trazem muitas informações sobre o processo criativo que moveu artistas a criarem algumas das obras mais sublimes, interessantes e revolucionárias da história da música, algo fundamental na era do streaming, em que a música abunda, mas apenas para consumo ligeiro e superficial, longe da experiência completa de saber, por exemplo, quem foi o produtor do discos ou o nomes dos talentos que acompanham o protagonista na execução dos arranjos, algo que os velhos vinis (e CDs) sempre nos ensinaram muito bem.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 27 de agosto de 2024