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Cinquentões

publicado: 19/01/2021 15h26, última modificação: 05/02/2021 10h48
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Iniciada quatro anos antes, com a estreia, nos cinemas, de Bonnie & Clyde: Uma Rajada de Balas (1967), a “Nova Hollywood” lançaria, em 1971, três ótimos espécimes do movimento que deu uma baita renovada criativa na indústria do cinema. De quebra, esses três filmes receberam um total de 16 indicações ao Oscar, arrebatando sete estatuetas. Portanto, saudemos, este ano, o cinquentenário das obras-primas Operação França, Perseguidor Implacável e A Última Sessão de Cinema.

Operação França e Perseguidor Implacável (junto com Bullitt, lançado em 1968) entraram para a história como a trinca que revolucionou o cinema policial. Dirigido com maestria por William Friedkin (que dois anos depois lançaria O Exorcista) e vencedor de nada menos que cinco prêmios Oscar, incluindo Filme, Diretor e Ator, Operação França é fruto de uma ousada costura estética entre filme de ação e documentário, trazendo como protagonista um policial (Gene Hackman) de caráter dúbio, até então algo diferente das dicotomias tradicionais da “velha” Hollywood, e com um final amargo, o que também não era comum até então.

Perseguidor Implacável é o primeiro dos cinco filmes que colocaram o ator Clint Eastwood no papel do policial casca-grossa “Dirty” Harry. Dirigido por Don Siegel, o filme ganhou notoriedade pela criatividade de câmera do diretor de Alcatraz: Fuga Impossível (também com Eastwood) e é muito lembrado pela canseira que o vilão dá no policial Harry, fazendo-o percorrer, a pé, as enladeiradas ruas de São Francisco.

A Última Sessão de Cinema é o segundo longa-metragem de Peter Bogdanovich, que faria uma bela carreira no cinema entre ficção e documentário (entre eles, o notável Dirigido por John Ford) e, ao contrário dos seus contemporâneos, não buscava a inovação, mas saudar, com muita competência e talento, o bom e velho cinema norte-america. É o filme que lançou alguns dos principais astros de Hollywood a partir dos anos 1970 – Jeff Bridges, Cybill Shepherd (recém-saída da adolescência, com exuberantes 1,85 metros de altura, que conquistaram o coração do diretor, prestes a ser pai do seu segundo filho), Randy Quaid – e premiando os veteranos Ben Johnson (que acabou aceitando o papel no filme graças a uma forcinha de John Ford) e Cloris Leachman com o Oscar de Coadjuvante para cada um.

Uma série de outros marcos da história do cinema também chegam aos 50 anos em 2021. Um dos mais emblemáticos é Laranja Mecânica, o controverso filme de Stanley Kubrick baseado no livro homônimo de Anthony Burgess sobre uma gangue de “drogs” que vive a praticar ultraviolência ao som de Beethoven.

Igualmente lançado em 1971, o policial Shaft, de Gordon Parks (um célebre fotógrafo que faria poucos filmes), também frequentaria o Oscar (levou o de Melhor Canção Original para a fantástica música-tema composta por Isaac Hayes), porém, mais do que isso, iria inaugurar um subgênero intitulado “blaxploitation”, produções estreladas por atores negros e embaladas por soul e funk, bem ao gosto do público-alvo, a comunidade negra norte-americana, e que rendeu ótimos filmes ao longo dos anos 1970.

O ano de 2021 também vai marcar o cinquentenário do simpático A Fantástica Fábrica de Chocolate, de Mel Stuart, com Gene Wilder no papel do excêntrico fabricante de doces Willy Wonka, e do melancólico Ensina-me a Viver, de Hal Ashby, filme cujo Globo de Ouro reconheceu o talento da veterana Ruth Gordon, então com 76 anos, e do novato Bud Cort, com uma indicação para cada, performances injustamente ignoradas pelo Oscar. Poucas vezes o cinema viu uma química tão forte entre um par romântico, uma união que transpôs qualquer (pre) conceito a respeito de idade, sexo e morte.

Na seara nacional também há festa. Da estreia de Jorge Bodanski no cinema (Os Caminhos de Valderez), ao popular Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora, filme de Roberto Farias estrelado por um Roberto Carlos em brasa, passando por Um Certo Capitão Rodrigo, de Anselmo Duarte, a safra produzida no Brasil de 1971, mesmo com todas as restrições impostas pela ditadura, é digna de nota.

Há de se registrar, ainda, que dois filmes de Júlio Bressane fazem 50 anos este ano: Amor Louco, história em que Guará, Rosa Dias, Joca e Luis Pelé Mendes (que também atuam na equipe do cineasta) discutem o que é o amor dentro um apartamento, e Memórias de um Estrangulador de Loiras, filme sobre um assassino em série rodado em Londres.

E para além de cinquentenários, 2021 tem outra data especial para o cinema brasileiro: os 90 anos de Limite, filme vanguardista de Mário Peixoto que é considerado o “Cão Andaluz do cinema latino-americano”. Mas isso é papo para outra coluna...

 

*coluna publicada originalmente na edição impressa de 19 de janeiro de 2021.