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Cinquentões – Parte 2

publicado: 26/01/2021 00h00, última modificação: 10/02/2021 09h24
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Na semana passada, falei sobre alguns filmes que chegam aos 50 anos agora em 2021. Hoje é a vez de elencar alguns discos que estão celebrando a mesma idade este ano e, ao longe, me parece que a música rendeu mais frutos importantes que o cinema em 1971. Foi nesse ano, por exemplo, que saíram discos tropicalistas antológicos, que Roberto e Erasmo chegavam à maturidade discográfica com álbuns impressionantes e que alguns dos mais fantásticos discos de rock foram lançados.

Nesse ano, a soul music produziu What’s Going On, de Marvin Gaye, certamente um dos discos mais importantes da história, além da trilha sonora do filme Shaft, composta por Isaac Hayes, um marco no cinema. Como se não bastasse, é o ano que também saiu o incendiário There’s a Riot Goin ‘On, do Slyand Family Stone, e MaggotBrain, talvez o melhor álbum do Funkadelic.

Definitivamente, 1971 foi o grande ano do rock! Foi o ano de Sticky Fingers, dos The Rolling Stones; Led Zeppelin IV, do Led Zeppelin; Hunky Dory, de David Bowie; Who’s Next, do The Who; Surf’s Up, dos Beach Boys; Electric Warrior, do T-Rex; o monstruoso álbum ao vivo At Fillmore East, do The Allman Brothers; The Yes Album, do Yes; Tarkus, do trio Emerson, Lake & Palmer; Aqualung, do Jethro Tull, e L.A. Woman, o derradeiro álbum de estúdio do The Doors, lançado três meses antes da morte do vocalista Jim Morrison.

Foi o ano de alguns dos discos mais importantes de ex-Beatles: John Lennon compareceu com Imagine; Paul McCartney lançou nada menos que Ram e Wild Life, e George Harrison mandou às lojas o premiado registro do Concerto para Bangladesh, organizado por ele e RaviShankar com a participação de Bob Dylan, Eric Clapton e Ringo, entre outros.

Assim como Elton John, que em meio a gravação de duas trilhas sonoras ainda teve tempo de lançar Madman Across the Water (o que deu ao mundo a famosa ‘Tinydancer’), Rod Stewart também trabalhou bastante, já que figura em nada menos que três discos lançados em 1971, dois deles com o Faces, seu antigo grupo que incluía o guitarrista Ron Wood (antes deste se mudar em definitivo para os Rolling Stones): Long Player e o aclamado A NodIs as Good as a Wink... To a BlindHorse. Solo – pero no mucho – lançou Every Picture Tells a Story, gravado com a ajuda dos companheiros de banda.

Ufa! Tem tantos discos impressionantes lançados esse ano no exterior que nem cabe neste espaço, mas não posso ignorar os álbuns de três cantoras extraordinárias: Joni Mitchell, Carole King e Janis Joplin. A primeira comparece com a obra-prima Blue, cujo repertório, confessional, é de uma dor tão lancinante que ele é tido como um dos álbuns mais verdadeiros da história.

Despojado, o segundo disco solo de Carole King, Tapestry, é um feito único na carreira da cantora e lançou alguns dos grandes sucessos dela. Já Janis, que neste disco trocou a companhia da Big Brother pela Full Tilt Boogie Band, concebeu um dos maiores discos de blues-rock que se tem notícia (é daqui que saíram ‘Move over’, ‘Cry baby’, ‘Me and Bobby McGee’ e ‘Mercedes Benz’).

No Brasil, 1971 foi um ano igualmente fértil. Foi ali que saiu o mais importante disco da carreira de Chico Buarque, Construção, cujas dez faixas de seu repertório (incluídas a homônima ‘Construção’, ‘Deus lhe pague’, ‘Samba de Orly’) se tornaram clássicos da carreira do carioca.

É desse ano também o antológico registro da turnê Fa-Tal, de Gal Costa, apontado como um marco na carreira da baiana. Mesmo no exílio, Gil e Caetano não interromperam a discografia e, naquele ano de 1971, ambos lançaram discos que guardam muitas semelhanças entre si: foram gravados em Londres, ambos trazem como títulos os respectivos nomes dos artistas, nas capas, fotos dos rostos dos músicos (devidamente barbudos) e o repertório contempla canções predominantemente em inglês (Gil até incluiu uma bela versão baiana de ‘Can’t find my way home’, do Blind Faith, banda que tinha Eric Clapton na formação).

O homônimo disco lançado por Roberto Carlos esse ano é o que tem ‘Detalhes’, ‘Como dois e dois’ e ‘Todos estão surdos’ e é apontado pela crítica como um dos melhores trabalhos do Rei. A mesma inspiração abençoou o repertório de Carlos, Erasmo, tido como um dos pontos mais altos da carreira do Tremendão Erasmo Carlos, extrapolando os limites do rock e abraçando soul e samba.

Da mesma forma, há 50 anos chegava às lojas o antológico Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, que reunia Raul Seixas, Sérgio Sampaio, Edy Star e Miriam Batucada, além de discos de Jorge Ben Jor (Negro é Lindo), Elis Regina (Ela), o segundo álbum de Tim Maia (Tim Maia), o terceiro da cantora Vanusa (Vanusa), o quarto de Clara Nunes (Clara Nunes), também o quarto dos Mutantes (Jardim Elétrico) e o quarto da cantora Cláudia (Você, Cláudia, Você), entre tantos outros.

O ano de 1971 também marca a estreia de Toni Tornado em disco e vale lembrar que também saiu Dono do Forró, primeiro disco do nosso Jackson do Pandeiro pela gravadora CBS (atual Sony), com sucessos como ‘Morena bela’ e ‘Forró em Campina’. Agora é correr para o streaming e (re)ouvir todos esses clássicos!

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 26 de janeiro de 2021.