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Com a graça do Nordeste

publicado: 08/11/2022 00h00, última modificação: 14/11/2022 10h34
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Edmilson da Silva Filho (E) e Luisa Arraes (D) no elenco da série ‘Cine Holliúdy’ - Foto: Foto: TV Globo/Divulgação

tags: cine holliúdy , nordestinos na tv

por André Cananéa*

O Nordeste voltou a ser o centro das atenções na televisão brasileira. Não só na TV, no streaming também! Atualmente, duas novelas da Rede Globo evocam a temática e reúnem artistas da região. Na das seis, Mar do Sertão, os paraibanos Isadora Cruz, Everaldo Pontes, Suzy Lopes, Nanego Lira e Thardelly Lima contracenam com veteranos da emissora do quilate de Debora Bloch e José de Abreu. Isso sem esquecer a divertidíssima participação dos músicos Juzé e Lukete, fazendo dupla ao final de cada capítulo do folhetim.

Lucy Alves vive seu grande momento na televisão, estrelando a novela das oito, Travessia, que tem elenco bastante heterogêneo, misturando atores e atrizes várias partes do país – por exemplo, o interesse romântico de Brisa, personagem da paraibana, Oto, é vivido pelo maranhense Rômulo Estrela.

Eu dei uma pincelada somente nos artistas da terra que têm se destacado em âmbito nacional, mas há muito mais pululando na televisão de 2022. Destaco a divertidíssima série Cine Holliúdy, cuja segunda temporada chegou ao fim, na TV Globo, dia 25 de outubro, mas está completíssima na plataforma de streaming da emissora.

Cine Holliúdy é ambientada na fictícia Pitombas (que tem até uma padroeira, veja só, a Nossa Senhora da Pitombas) e se passa na década de 1970, quando a televisão ganha o interior do Nordeste e o dono do único cinema da cidade, Francisgleydisson (vivido pelo ator cearense Edmilson da Silva Filho), vê seu negócio ameaçado.

Nessa Pitombas de foco cinematográfico (que em muito lembra os dois longas-metragens homônimos, sucesso nos cinemas da vida real, lançados, respectivamente, em 2013 e 2019), há espaço para o romance, para a politicagem e, claro, para aquele absurdo nordestino que nos divertimos tanto através de obras como O Bem-Amado e O Auto da Compadecida.

A segunda temporada mantém o foco da primeira, mas a dinâmica é diferente. Neste segundo ano (a bem da verdade, a primeira temporada foi ao ar em 2019), a então primeira-dama Maria do Socorro (Heloísa Périssé) se torna prefeita e o prefeito da primeira temporada, Olegário (Matheus Nachtergaele, o João Grilo de O Auto da Compadecida, lançado por Guel Arraes em 2000), passa a atuar na Câmara de Vereadores da cidade, numa espécie de “fogo amigo” da esposa-prefeita.

O enredo acaba por refletir muito da polarização política que tomou conta do Brasil na disputa de 2022 e rende, portanto, ótimas tiradas, como a confusão que se dá quando a direita conservadora, representada pelo casal Lindoso (Carri Costa) e Belinha (Solange Teixeira), trabalha para que os cachorros parem de “furunfar” no meio da rua e convencem a Prefeitura a construir um motel para doguinhos.

Os episódios são praticamente temáticos (há um sobre os tradicionais parques do interior, outro sobre fantasmas etc.), ligados, novamente, pela combinação do humor político, querelas de costume e com o fio romântico, desta vez entre Francisgleydisson e Francisca, personagem de Luisa Arraes, filha de Guel Arraes com a atriz Virginia Cavendish, estrela de Lisbela e o Prisioneiro (2003), filme de Guel que também é referência para o seriado cearense.

Aliás, esse par romântico é extremamente sabotado pelo interesse da irrequieta “espilicute” Formosa no “cinemista”. A personagem, que está na primeira temporada, ganha não só mais espaço, como também uma interpretação mais exagerada da atriz Lorena Comparato. Mas tudo dentro da proposta, claro!

Nesta temporada também há paraibanos, como a citada Suzy Lopes, que deu um tempinho na novela para viver uma mulher-barbada, mãe da personagem de Nanda Costa, e o humorista campinense Lucas Veloso, no papel do famigerado bandido Saia Vermelha.

Por trás da minissérie e também dos filmes Cine Holliúdy – além de outras comédias de sucesso nos cinemas, como Shaolin do Sertão e Os Parças - está o diretor e roteirista Halder Gomes, um cearense que se aventurou por trás das câmeras após atuar em Hollywood como dublê de lutas em filmes de artes marciais. Assim como Guel (que este ano assina uma nova versão para Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa), Halder desponta como um dos grandes nomes da nova comédia nordestina. E que venha a terceira temporada.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 8 de novembro de 2022.