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#Cuscuzteam: Juliette, essa arretada

publicado: 13/04/2021 08h00, última modificação: 13/04/2021 09h14
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Figura central do ‘reality show’ BBB21, paraibana posa imitando o famoso cartaz da ‘Rosie, a Rebitadora’, símbolo da luta feminista - Foto: Foto: Lara Imperiano

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E eis que em meio a pandemia, no Brasil que chora 350 mil mortos pela covid-19, uma nação dividida entre esquerda e direita, entre quem odeia o presidente e quem (ainda) o defenda, surge uma super-heroína, arretada, de chapéu de couro, língua pra fora e o braço em riste, como se desse uma popular “banana” de antigamente para todo o tipo de preconceito, injustiça e intolerância – numa imitação regional do famoso cartaz de Rosie, a Rebitadora, popularizado a partir dos anos 1970, como símbolo da luta feminista.

Com seu jeito autêntico, enfático e firme, a paraibana Juliette Freire já é a grande vencedora da 21ª edição do Big Brother Brasil, levado ao ar pela Rede Globo e seus canais, aberto e privados, independente do resultado que se anuncia nas próximas semanas, em que ela disputa um gordo prêmio de R$ 1,5 milhão com outros nove participantes.

Nunca vi mais que um ou dois episódios inteiros de um Big Brother, qualquer um deles. Não faz a minha praia. Mas qualquer pessoa que tenha o mínimo de contato com uma rede social como Twitter ou Instagram, como é o meu caso, sabe bem o que se passa na autoproclamada “casa mais vigiada do país”, sobretudo as polêmicas que ali surgem.

Juliette – uma completa anônima até 25 de janeiro deste ano, quando chegou à casa do BBB – participa de um programa em que ilustres desconhecidos convivem, em confinamento, com celebridades e artistas ditos famosos. E isso nem é novidade, até para a Paraíba. Em 2002, o querido jornalista Sérgio Montenegro, hoje na TV Correio, viveu uma experiência bastante similar na Casa dos Artistas, do SBT, que também reuniu famosos e fãs durante quase dois meses. O elenco tinha, em meio a gente como a gente, Agnaldo Timóteo, Solange Frazão (cuja “vaga de fã” foi para o paraibano), Jorge Pontual e Luiza Ambiel, que saiu do programa de braços dados com Serginho, o grande campeão daquela edição.

Quase 20 anos depois, a Paraíba volta a se destacar em programa similar. Mas o contexto e as reflexões de hoje são bem diferentes. O BBB21 trouxe à pauta nacional discussões sobre racismo, colorismo, transfobia, preconceito e intolerância (das mais diversas) e política, temas “sufocados” nos meios tradicionais, como o jornalismo, pelo cotidiano da grave pandemia que nós estamos vivendo.

No olho desse furacão, surge a pequena Juliette, de fala arrastada e jeito tímido, que foi crescendo, crescendo e crescendo à medida que os demais participantes caçoavam de seu sotaque, de sua condição de nordestina, de seus gostos e sua postura. “Cancelada” – como se diz hoje o termo para “escanteada”, ou “vítima de bullying” - por artistas como Karol Conká, Juliette brilha ao mostrar a força da mulher paraibana, sobrevivendo nessa selva de ignorância e xenofobia.

Daqui de onde estou, sem acompanhar direito o BBB, tenho a percepção que Juliette ganhou o Brasil, e os feitos numéricos em suas redes sociais atestam isso: recentemente, ela se tornou a participante do programa mais seguida no Instagram, por exemplo, batendo todos os outros famosos, inclusive Viih Tube, agora a segunda mais popular da casa na rede social. No domingo passado, quando escrevia este texto, Juliette chegou aos 20 milhões de seguidores no Instagram. Nada mal para uma garota que amealhava aproximadamente 4 mil no início do ano.

No ambiente da rede social – seja Instagram, ou Spotify, onde a moça tem até “diretor musical” – ela é um grande fenômeno, e não vejo isso como outra coisa a não ser o resultado das convicções e posturas da paraibana frente ao desmantelo que são os embates dentro do BBB, embates em que ela sempre se sobressai como a vítima que não baixa a cabeça, a “sister” que transborda sororidade, a nordestina que estende a mão a qualquer um, independente de raça, credo ou opção sexual.

Juliette é a personificação de um Brasil que queremos para o futuro, um futuro de agora, depois de uma onda sombria e retrógrada que chegou ao país pregando tudo de ruim que o BBB acabou de mostrar, e que a Paraíba, através de sua brava e jovem advogada, que gosta de cuscuz, Chico César e Seu Pereira, tem combatido exemplarmente.


*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 13 de abril de 2021