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Djavan em Montreux

publicado: 26/04/2022 08h00, última modificação: 25/04/2022 16h46
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- Foto: Reprodução/Youtube

tags: djavan , Montreux Jazz Festival

por André Cananéa*

Escondido no oceano do streaming, há um pequeno baú com um tesouro precioso de Djavan, lançado em março deste ano (somente nas plataformas de música na internet), após 25 anos de seu registro, permanecendo inédito até o mês passado. Fruto de uma parceria entre o alagoano e a Sony Music, Djavan Ao Vivo no Montreux Jazz Festival resgata a íntegra do show que o músico fez no prestigiado festival suíço em 5 de julho de 1997, no Auditorium Stravinski.

“Na época, nós fizemos esse show sob uma expectativa grande, tanto nossa quanto do público que estava ali. Não sei se já tínhamos feito Montreux ou se era a primeira vez, não me lembro. Mas sei que foi um show que a gente gostou muito de fazer, e acho que vai ser bom revê-lo agora”, declarou Djavan, através de um comunicado distribuído com a imprensa.

A performance impressiona. Ciente de estar em um dos festivais mais importantes do mundo – por onde passaram, entre outros, a nata do jazz – Djavan investiu em sonoridade bastante jazzística (que o diga o teclado do hit ‘Fato consumado’), recriando arranjos de sucessos como ‘Meu Bem-Querer’, ‘Oceano’, ‘Samurai’, ‘Flor de Lis’, ‘Lilás’, entre outros, e escudado por uma banda de feras (Glauton Campello, teclados; Marcelo Mariano, contrabaixo; Armando Marçal,  percussão; Carlos Bala, bateria; Walmir Gil, trompete; François Lima, trombone; e Marcelo Martins, sax, flauta), deitando e rolando com seus “tchubirus” e mandando ver uns scating vocals que deixariam o mestre Louis Armstrong orgulhoso.

Djavan chegou por lá no embalo da turnê Malásia, disco que lançou no ano anterior. É o CD em que ele experimenta seu lado intérprete pela primeira vez, regravando ‘Coração leviano’ (Paulinho da Viola), ‘Correnteza’ (parceria de Jobim com Luiz Bonfá) e ‘Sorri’ (tema de Chaplin vertido para o português por Braguinha), nenhuma delas no repertório show de 1997, que é completamente autoral. Mas é desse disco que ele pesca quatro faixas para o repertório de 15 números da apresentação: ‘Que Foi My Love?’, ‘Sêca’, ‘Malásia’ e ‘Irmã de Neon’.

Por sorte, o show foi gravado em áudio e também em vídeo, e disponibilizado nos dois formatos. O áudio pode ser ouvido através de aplicativos como Spotify, Deezer etc. Os vídeos estão disponíveis no canal do artista no YouTube com qualidade extraordinária de imagem e som… dá para fazer uma playlist e assistir ao show completo.

Leio que o projeto contou com remasterização do engenheiro de som Steve Fallone (que além de vencer um Grammy, masterizou discos de Bob Dylan, Beatles e o primeiro de Tony Bennett com Lady Gaga) no lendário Sterling Sound, em New Jersey (um dos principais estúdios de masterização do mundo). Todas as etapas, supervisionadas pelo próprio Djavan e seu engenheiro de gravação, Marcelo Saboia.

Além do cantor e compositor alagoano, muitos brasileiros passaram pelo Festival de Montreux desde que ele foi criado, em 1967. Essas apresentações renderam discos espetaculares, como o famoso LP de Elis Regina lançado em 1982, cuja íntegra dos dois shows que a Pimentinha faria naquele 20 de julho de 1979 só viria ao público em 2012, através de um CD duplo rebatizado de Um Dia.

Hermeto Pascoal (cuja famosa participação no show de Elis, enfim, aparece no CD 2 da reedição de 2012), João Gilberto, Gilberto Gil, A Cor do Som, Titãs e até Elba Ramalho também tiveram suas apresentações em Montreux devidamente registradas em disco, entre outros artistas brasileiros que passaram pelo festival. Elba aparece em um hoje raro LP chamado Brasil Night - Ao Vivo (lançado pela Ariola em 1981), em que a paraibana divide a bolacha com Moraes Moreira e Toquinho. Em 1983, a gravadora lançou outro título do projeto, desta vez reunindo Alceu Valença, Milton Nascimento e Wagner Tiso. Quem sabe não é hora de resgatar, também, essas outras preciosidades.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 26 de abril de 2022.Djavan em Montreux