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Documentário reverencia o blues de Buddy Guy

publicado: 19/12/2023 10h36, última modificação: 19/12/2023 10h36
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Filme promove um tributo a um dos últimos ícones do gênero nos Estados Unidos - Foto: Globoplay/Divulgação

por André Cananéa*

Lançado em CD e DVD em 2012, Checkerboard Lounge: Live Chicago 1981 entregava aos fãs um encontro único, descontraído e espontâneo entre um criador e suas criaturas: o bluesman norte-americano Muddy Waters e o grupo inglês The Rolling Stones. Bar apertado, com espaço para, talvez, umas 60 pessoas, localizado na zona Sul de Chicago, aquele encontro histórico de 1981 (que ainda incluiu, entre outros, Buddy Guy e Junior Wells) ajudou a popularizar o bar.

O Checkerboard Lounge foi uma iniciativa de Buddy Guy, que no início dos anos 1980, frente a extinção massiva dos clubes de blues na Chicago que adotara como lar a partir de 25 de setembro de 1957, tentava preservar um santuário para o gênero musical. “Eu tinha uns 500 dólares e decidi tentar manter o blues vivo em um clube de blues”, diz o próprio Buddy Guy ao lembrar da história para o filme Buddy Guy: The Blues Chase The Blues Away.

Documentário-tributo a um dos últimos ícones do blues-raiz norte-americano, The Blues Chase The Blues Away (2021) é, por conseguinte, uma bela homenagem ao blues, partindo de um músico transgressor que bebeu – e até conviveu – com os grandes ícones do gênero em meados do século 20, mas soube imprimir sua marca no panteão que tem, entre outros, Muddy Waters, John Lee Hooker e Howlin Wolf.

Disponível na plataforma Globoplay, através do canal Bis, o filme é didático ao narrar a trajetória do bluesman – que está com 87 anos e passou recentemente pelo Brasil, onde se apresentou no festival Best of Blues em Rock – e reúne depoimentos de muitas lendas que surgiram antes dele, todas elas refletindo sobre o blues.

O filme parte das raízes do músico na pequena Lettsworth, em Louisiana, ao Sul dos EUA, o que ele ouvia e como deu seus primeiros passos na música até o momento em que decide ir para Chicago ver os ídolos de perto e, quem sabe, descolar uma carreira.

Até ser percebido por um promoter de shows, o jovem George “Buddy” Guy passou perrengues e até três dias de fome. Diz que nunca irá esquecer quando mostrou seus dotes musicais em um bar, mas com fome, não foi muito longe. Chamaram, então, Muddy Waters para ver aquela jovem promessa do blues que, enquanto tocava para o ídolo, o autor de ‘Mannish boy’ lhe preparava um sanduíche.

São passagens assim que fazem de The Blues Chase The Blues Away uma delícia para quem gosta de música em geral, especialmente o blues-raiz. Depoimentos de discípulos ilustres, a começar por Eric Clapton e Carlos Santana, até Gary Clark Jr., John Mayer e Kingfish, ajudam a entender o lugar de Buddy Guy na música norte-americana do século 20. E também puxam histórias incríveis, e hilárias, como quando Guy descobriu que John Lee Hooker, outro mestre de quem era devoto, era gago.

O enredo aborda como Buddy Guy foi esnobado pela gravadora Chess Records, que lançava os LPs de Chuck Berry, Muddy Waters, Bo Diddley, Howlin’ Wolf e Etta James, entre outros bambas. Os irmãos Leonard e Phil Chess simplesmente achavam que Buddy não tinha talento, mas o jogo virou após o jovem de Lettsworth se apresentar em Londres e ser ovacionado por guitarristas do naipe de Eric Clapton. A repercussão atravessou o Atlântico e Buddy Guy foi procurado pela gravadora. Mas já era tarde, e a Chess teve seu troco, à altura.

A morte de Muddy Waters, que faleceu em abril de 1983, e, sobretudo, a de Stevie Ray Vaughan, que perdeu a vida em um acidente de helicóptero, logo após se apresentar com Buddy Guy, Eric Clapton e outros, em 27 de agosto de 1990, são sentidas pelo personagem central do filme.

O documentário termina com uma série de reflexões em momentos chaves da carreira do músico, entre elas o convite que Buddy Guy recebeu do então presidente Barack Obama para tocar na Casa Branca. “Quantos artistas de blues já tocaram na Casa Branca? Quem poderia imaginar que, enquanto colhia algodão, um dia eu iria tocar na Casa Branca? E eu toquei!”, afirma.

Um filme assim é imperdível!

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 19 de dezembro de 2023.