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E o iPod completa 20 anos em 2021

publicado: 04/05/2021 08h00, última modificação: 03/05/2021 11h16
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tags: ipod , ipad , apple , cananéa , andré cananéa


Foi através de um
podcast sobre um disco da banda White Stripes que caiu a ficha: em 2021, completam-se 20 anos do surgimento do iPod, o tocador de música da Apple que ajudou na revolução do consumo de música no início deste século.

Lançado em 23 de outubro de 2001, o iPod foi mais uma sacada de comportamento de Steve Jobs junto à Apple. É bom lembrar que no final de 1990, o LP estava démodé e o consumo de música se dava, majoritariamente, pelo CD. Mas ali, na virada do século, já começávamos a ouvir música no computador, através dos arquivos de áudio chamados MP3, que pegávamos de graça pela internet (ainda discada), mesmo que isso não fosse algo legal, do ponto de vista jurídico.

O iPod era um aparelho portátil que armazenava esses arquivos de música em MP3 e, dois anos depois do primeiro modelo chegar às lojas, já havia opções que comportavam coisa de nove mil músicas! Para quem tinha uma CDteca, ou mesmo uma bela coleção de LPs, ter quase dez mil músicas em um aparelho do tamanho de uma carteira de cigarros, era um sonho!

Vamos pensar assim: a partir dos anos 1960, começamos a ouvir músicas em vitrolas através de discos de vinil. Entre 1970 e 1980, passamos, também, a degustar nossos discos favoritos em fitas k7, que poderíamos ouvir, por exemplo, enquanto caminhávamos no parque (o velho walkman é visto como um avô dos iPods de Steve Jobs). Começamos os anos 1990 ouvindo música digital, através de CDs, no som “3 em 1” da sala, mas antes daquela década terminar, já sentávamos na frente do computador para procurar discos em uma coleção infindável de músicas, tudo ao alcance de um clique.

Eu vi, de perto, o iPod chegar. Já colecionava meus CDs e vi quando aquele pequeno aparelho, colorido, com poucos botões, chegou às lojas por uma pequena fortuna (pelo menos, aqui no Brasil). Nos EUA, berço do gadget, foi um sucesso estrondoso, que lançaria moda e, definitivamente, mudaria a maneira como hoje ouvimos música. 

“As pessoas adoravam aquelas coisas estúpidas. Era difícil sair de casa sem ser atropelado por algum idiota correndo com fones de ouvido brancos e um Shuffle preso da roupa”, escreveu Stephen Witt no célebre livro Como a Música Ficou Grátis, obra que analisa o fim da indústria do disco, como era conhecida no século 20. “A caixinha com um Nano elegante do tamanho de um biscoito wafer dentro foi o presente mais popular da história do Natal. Enfim, a Apple havia criado o dispositivo mais onipresente da história”, acrescentou o pesquisador norte-americano, referindo-se a um dos modelos do iPod.

O iPod teve vida curta, mas marcante. Para além do que nós, consumidores, víamos nas vitrines, havia toda uma movimentação nos bastidores pela venda de canções digitais em um ambiente como a internet, que oferecia música gratuitamente, embora não totalmente legal, como afirmei mais acima. Por trás desse trabalho hercúleo, mais uma vez, estava Steve Jobs, que lutava junto às gravadoras para que essas liberassem seus catálogos para o iTunes, onde cada música seria vendida a 99 centavos de dólar. E embora essa coisa de “comprar MP3” tenha sido algo que já nasceu obsoleto, enterrado pelos serviços de streaming, por exemplo, vejo como ele foi importante para ensaiar o futuro da música tal qual conhecemos hoje.

O iPod surgiu na hora certa, a ponto de tirar a música dos grandes PCs para um dispositivo que poderia ir para qualquer lugar. É bom lembrar que, por essa época, o conceito de smartphone engatinhava e streaming era impensável na era da internet discada, em que nós, pobres lascados, virávamos a noite para poder nos conectarmos ao mundo cibernético entre meia-noite e 6h, pagando apenas “um pulso” na conta do telefone (fixo, claro).

Mas logo os telefones inteligentes chegariam ao mercado com sua função “canivete suiço”, reunindo mensagens, jogos, calendário, despertador e, claro, espaço para a música. Os modelos de uma era pré-Spotify e similares traziam até discos “embarcados” - lembro de álbuns do Skank, Madonna e U2, que vinham com novos modelos de smartphones.

“O telefone vai ser o novo meio de ouvir música”, sentenciava o dono de uma gravadora independente em uma roda de conversa nos bastidores do festival Mada (RN), do qual eu participava... há quantos anos mesmo? Talvez uns 15 anos… E assim foi. Hoje, a esmagadora maioria do público utiliza um serviço de streaming para ouvir suas canções favoritas, seja através de fones de ouvido ou das práticas caixinhas bluetooth, quase sempre a partir de um smartphone.

E mesmo com essa facilidade, há quem prefira ouvir um disco em uma vitrola, a partir de um LP de vinil; ou em CD, utilizando o aparelho de videogame ou de DVD (ainda em voga no mercado), e, pasme, até mesmo em fita k7, ressuscitada em forte onda revival de colecionismo. Portanto, o mundo que vivemos hoje abre inúmeras possibilidades para que a gente ouça música, cada uma proporcionando uma experiência diferente. Menos com o iPod, descontinuado oficialmente em 27 de julho de 2017, após 16 anos de bons serviços prestados ao nosso entretenimento e cultura.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 04 de maio de 2021.