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Filme esmiúça o “lado B” de Marilyn Monroe

publicado: 10/05/2022 08h29, última modificação: 10/05/2022 08h57
Marylin entre os irmãos Kennedys, uma das raras imagens a escapar da ação dos políticos, segundo o filme.png

Foto: Netflix/Divulgação

por André Cananéa*

Foi Kubitschek Pinheiro quem soprou para mim: veja o documentário sobre Marilyn Monroe que está no Netflix. E assim o fiz, lembrado pelo texto que ele próprio escreveu sobre o filme para sua coluna dominical, aqui em A União. Exatos 60 anos após a morte da estrela de cinema, o mito ainda ecoa, e O Mistério de Marilyn Monroe: Gravações Inéditas, como seu título já escancara, toca nas múltiplas feridas da artista, incluindo sua misteriosa e trágica morte, oficialmente dada como suicídio (se intencional, ou não, até hoje nunca foi esclarecido), mas com versões que dão como certo o assassinato da atriz.

Era madrugada de 5 de agosto de 1962 quando o corpo da estrela de O Pecado Mora ao Lado e Quanto Mais Quente Melhor, em meio a tantos outros sucessos lançados entre o fim dos anos 1940 e início de 1960, foi encontrado pela governanta, sem vida, na casa que ela havia comprado em Los Angeles. Marilyn estava com 36 anos, era linda, rica e famosa. Vinha de dois casamentos fracassados e uma busca incessante por uma família, de acordo com depoimentos dados ao longo do filme.

Essas entrevistas foram gravadas pelo jornalista norte-americano Anthony Summers, que empreendeu um trabalho detetivesco ao ser escalado por um jornal inglês para acompanhar a reabertura do inquérito que investigou a morte da atriz, a partir de 1982, 20 anos após aquela fatídica noite. Essas gravações deram origem ao livro A Deusa: As Vidas Secretas de Marilyn Monroe, lançado em 1985, após quase mil entrevistas com pessoas que, de alguma forma, se relacionaram com a atriz, direta ou indiretamente. Em tempo: no Brasil, a obra teve apenas uma única edição, pela Best Seller, em 1987, e hoje só pode ser encontrada em sebos.

Eis que, 40 anos depois, a Netflix resolveu bancar um filme sobre a pesquisa de Summers, com o próprio jornalista, nos dias atuais, conduzindo o enredo e, pela primeira vez, trazendo à luz as gravações que fez com diretores (como John Huston e Billy Wilder), gente influente do cinema, amigos e até a proprietária do restaurante que Marilyn costumava frequentar em Hollywood. Tudo com o objetivo de retratar a beleza, o talento e a personalidade da artista.

Fundamental nesses depoimentos é a presença da viúva e dos filhos do psiquiatra que acompanhou Marilyn Monroe, Ralph Greenson. Ele chegou a conclusão que ela, que teve uma infância bastante turbulenta, sem pai, com mãe internada em hospital psiquiátrico, pulando de orfanato em orfanato, de lar adotivo em lar adotivo, era carente de família, coisa que a própria família do dr. Greenson tratou de resolver.

As quase duas dezenas de gravações que são reveladas no filme – selecionadas em meio a 650 registros em fitas cassete – tem muito a dizer sobre a atriz, principalmente sobre o “lado B” dela, aquele que passou longe dos holofotes que iluminaram sua carreira, mas foi esmiuçado em livros e reportagens nos últimos 60 anos.

É aí que reside o valor de O Mistério de Marilyn Monroe: por mais que você conheça os detalhes sórdidos da atriz, vê-lo escancarado, na tela, causa um grande impacto. “A verdade sobre Marilyn é como entrar na cova dos leões”, afirma Summers, logo no início do filme.

O documentário toca em praticamente todas as feridas da vida pessoal da atriz, incluindo seu romance com os irmãos John e Robert Kennedy, até as teorias da conspiração envolvendo a morte dela junto aos dois dos políticos mais conhecidos da história dos Estados Unidos – pelos depoimentos, fica-se sabendo que ela foi investigada de perto pelo FBI, que a colocou na lista dos “prováveis comunistas” infiltrada no círculo íntimo da Casa Branca, em plena Guerra Fria – ou com o polêmico sindicalista Jimmy Hoffa, desafeto dos Kennedys. Ou seja, sua vida, naquele início de anos 1960, estava no centro de efervescentes pautas políticas, tanto externas, quanto internas.

Segundo o filme, a vida de Marilyn Monroe era um livro aberto em um ciclo mais próximo, e ela nunca escondeu seu romance com os Kennedys. Em sua investigação, Anthony Summers ouviu – e gravou – gente ligada à alta esfera da política naqueles anos 1960 que afirmam que, sigilosamente, Bob Kennedy teria estado com a atriz na noite que ela morreu, e que por recomendação do FBI, tanto Bob, quanto JFK deveriam colocar um ponto final naquele romance… ponto final que abre múltiplas interpretações. Até hoje.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 10 de maio de 2022