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Harrison Ford, um (super)herói

publicado: 26/12/2023 14h17, última modificação: 26/12/2023 14h18
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Ford na sequência inicial do 1º filme da franquia, ‘Caçadores da Arca Perdida’ (1981) - Foto: Paramount Pictures/Divulgação

por André Cananéa*

Desde 1º de dezembro, o Disney + dispõe em seu catálogo da quinta e última aventura de Indiana Jones, personagem criado por George Lucas e Steven Spielberg na virada dos anos 1970 para 1980, e que rendeu uma série de filmes estrelado pelo ator Harrison Ford. Simultaneamente a estreia de Indiana Jones e a Relíquia do Destino, o serviço de streaming também disponibilizou o documentário Heróis Lendários: Indiana Jones e Harrison Ford.

O foco do featurette é a trajetória de Ford na saga Indiana Jones, iniciada com Caçadores da Arca Perdida, em 1981. O longa de 90 minutos cobre, portanto, desse primeiro filme até o último, passando por O Templo da Perdição (1984), A Última Cruzada (1989) e O Reino da Caveira de Cristal (2008), além da série O Jovem Indiana Jones (levada ao ar entre 1992 e 1993, com participação de Ford).

Ao contrário de outros artistas, Harrison Ford não “nasceu” no cinema. Demorou até conseguir uma ponta (não creditada) em O Ladrão Conquistador (1966), comédia policial de Bernard Girard estrelada por James Coburn. O futuro arqueólogo mais famoso do cinema já contava com 24 anos. Mas o glamour de Hollywood não bancava as contas, e Harrison tinha contas a pagar. Foi quando ele abraçou a carreira de carpinteiro, estreando, por sinal, na casa de um brasileiro.

No documentário, Harrison Ford confirma uma história que já circulava há muito tempo entre amantes da música brasileira: mesmo sem dominar o ofício, o ator aceitou construir um estúdio na casa do músico Sérgio Mendes, à época (1966) morando em Los Angeles, Estados Unidos. Não sabia o líder do grupo Brasil 66 que estava contratando o futuro astro do cinema, que embolsaria, dez anos depois, nada menos que 100 milhões de dólares para viver o divertido Han Solo na trilogia original de Star Wars.

A estrela de Ford brilhou no cinema quando ele topou com o cineasta George Lucas, dois anos mais novo que ele, que contratou o ator para viver o vilão Bob Falfa da hoje comédia cult American Graffiti (Loucuras de Verão, no Brasil). Lucas viu potencial naquele jovem de 1,85m, tanto que o escalou para os três primeiros filmes da multimilionária franquia Guerra nas Estrelas, como um dos três personagens principais.

Ford, entretanto, não foi a primeira escolha para Indiana Jones. Foi o ator Tom Selleck (que é até mais alto que Ford, com 1,93m), mas este não pode assumir o papel, pois estava com contrato assinado para viver o papel principal na série Magnum, que iniciava, ali, em 1980, sua trajetória de sucesso, com oito temporadas na televisão.

Spielberg – um dos entrevistados do documentário – revela que foi justamente assistindo a Star Wars que apontou para George Lucas e disse: “Ali está nosso Indiana Jones”, revela, referindo-se a Harrison Ford.

O documentário passeia, portanto, pela participação de Ford nos cinco filmes da franquia Indiana Jones, mas também mostra como o astro criado à reboque de duas franquias poderosas também era um ator versátil, estrelando desde  a ficção científica cult Blade Runner: O Caçador de Andróides (1982) até dramas como A Testemunha (1985) e A Costa do Mosquito (1986) – ambos do diretor Peter Weir, que também está no documentário sobre o ator.

Óbvio que o documentário não se estende por toda a filmografia do ator, que conta com quase 90 produções audiovisuais, entre filmes e séries para a TV (somente este ano ele estrelou duas: a comédia Falando a Real, disponível na Apple TV, e o faroeste 1923, ambas muito elogiadas). E talvez Indiana Jones não seja papel para Oscar, mas Harrison Ford é um ator esnobado pela Academia de Artes de Hollywood, mesmo com tantos personagens que marcaram a história recente do cinema. Sua única indicação se deu em 1986 para ator principal no citado A Testemunha, prêmio que perdeu para William Hurt, consagrado por seu papel em O Beijo da Mulher-Aranha, do nosso Hector Babenco.

Vamos aguardar, portanto, que Oscar, ao menos, lhe dê um prêmio honorário pelo conjunto da obra, como o renomado American Film Institute lhe concedeu, em 2000.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 26 de dezembro de 2023.