A Parahyba 103.9 FM deu outro passo importante para consolidar o que nos meios acadêmicos é chamado de “rádio expandido”, conceito promovido pelo professor Marco Kischinhevsky em 2012 no qual uma estação de rádio moderna não se limita somente ao dial, mas marca uma existência multiplataforma, com presenças em redes sociais (no caso da 103.9, no Instagram), no celular (a Parahyba tem aplicativo próprio Android e está em outros, como o RadiosNet) e até em assistentes virtuais (a exemplo da Alexa).
Na terça-feira passada (6/5), a rádio saiu do estúdio para o cinema. Literalmente. Em parceria com a Centerplex Cinemas, empresa que detém o complexo de salas do Mag Shopping, e com apoio da Vivass Comunicação, a 103.9 estreou o projeto “Papo na Tela”, uma sessão comentada na qual o público é convidado a ficar após o filme para uma roda de conversas com convidados especiais, mediado por um profissional da EPC, Empresa Paraibana de Comunicação, da qual a rádio faz parte.
A ideia surgiu quando a Centerplex, parceira da Parahyba desde junho de 2024, convidou a 103.9 para promover um bate-papo após a exibição de um filme do Varilux, festival de cinema europeu realizado em novembro daquele ano. A experiência foi tão bem-sucedida que plantou a vontade de realizarmos mais sessões comentadas, afinal assistir ao filme e logo em seguida conversar sobre ele traz uma experiência muito mais rica ao espectador.
Essa vontade foi concretizada com o filmaço Homem com H, ainda em cartaz no cinema. Alguns outros filmes foram pensados, mas quando a cinebiografia do cantor Ney Matogrosso começou a despontar no horizonte do hype, e pela importância que Ney tem na música popular, e, ainda, por ser um filme brasileiro, a estreia do Papo na Tela alinhada ao filme de Esmir Filho caiu como uma luva.
Casou também meu desejo particular de reunir duas pessoas que sei que privam da amizade pessoal com o próprio Ney Matogrosso: o diretor Tavinho Teixeira, que além de hospedar de vez em quando o cantor em sua casa na praia de Sagi, teve a presença do ex-Secos & Molhados em dois de seus filmes, Batguano (2014) e Sol Alegria (2018), e o psicoterapeuta, escritor e colunista de A União, Nelson Barros, que além de ter conhecido Ney, é um grande fã de música brasileira em geral.
Comigo na mediação dessa conversa, concluímos com sucesso a primeira edição do Papo na Tela com sessão lotada no Centerplex (entre convidados e pagantes) e um ótimo público participando da conversa, trocando impressões sobre o filme que acabamos de ver e relatando experiências pessoais com Ney Matogrosso e sua arte.
Homem Com H condensa a trajetória artística do cantor, hoje com 83 anos, vivido na tela por um Jesuíta Barbosa entregue de corpo e alma. E ao deixar de lado pudores para qualquer tipo de assunto, inclusive sexo, Esmir Filho faz uma cinebiografia completamente condizente com a trajetória firme de Ney.
Começa com ele ainda criança, embasbacado com o remelexo da vedete Elvira Pagã (interpretada pela cantora Céu), ao mesmo tempo que leva surras de um pai intransigente, que não aceita comportamento de filho que não seja dentro da ótica do genitor, militar. Passa pelo período em que Ney de Souza Pereira serviu à Aeronáutica, pela fase “Secos & Molhados” e pelos muitos amores do cantor, homens e/ou mulheres.
É bom que se diga que o foco do enredo é o Ney em suas lutas artísticas para se impor enquanto “bicho” (palavra repetida diversas vezes) em cima do palco, com suas atitudes provocativas (em plena ditadura, inclusive), e também as delícias e dores de amar e ser amado, e não um filme eminentemente sobre música, como é a fraquíssima cinebiografia de Gal Costa, por exemplo. Ao entender que Ney é mais que um excelente cantor, que é um artista que lutou sem concessões por sua visão de mundo, Homem com H acerta com “A” maiúsculo.
O romance repleto de extremos com Cazuza (Jullio Reis) - da paixão ardente ao ódio físico - é uma reparação em relação ao filme Cazuza – O Tempo Não Para (2004), que ignora por completo a presença do cantor na vida do autor de “Pro dia nascer feliz”. A aids também é ponto crucial do filme, afinal além de Cazuza, Ney perdeu Marco de Maria, com quem teve um relacionamento estável por mais de dez anos.
O Papo na Tela irá acontecer a cada dois meses, portanto a próxima edição será em julho, com filme ainda a ser divulgado. Julho costuma ter as grandes estreias blockbusters do ano, e vem aí Superman e Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, que são filmes bastante alinhados com a personalidade pop que a Parahyba Fm carrega desde a sua fundação. Mas para saber o que vai acontecer, sugiro ao leitor ficar ligado na sintonia 103.9 FM e no perfil @parahybafm103.9 do Instagram.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de maio de 2025.