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Jackson do Pandeiro vive!

publicado: 30/07/2019 11h00, última modificação: 30/07/2019 11h00
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tags: jackson do pandeiro , correio das artes , centenário


Em aproximadamente um mês, no dia 31 de agosto, o Brasil inteiro estará lembrando os 100 anos de nascimento de José Gomes Filho, o famoso Jackson do Pandeiro, paraibano de Alagoa Grande que era ritmo da cabeça aos pés, até no jeito de falar! Jackson está mais vivo do que nunca e sua importância, enfim, é reconhecida. Depois de sua morte, em 10 de julho de 1982, talvez nunca se tenha falado e ouvido tanto sobre Jackson do Pandeiro como agora. Pelo menos, não como nos últimos 10 anos.

De 2009 para cá, foi erguido um memorial em Alagoa Grande dedicado a vida e obra do artista, rico em informações e em constante ampliação (os restos mortais do músico também repousam lá); também foram editados alguns CDs com gravações importantes e remasterizadas, incluindo a fabulosa caixa ‘Jackson do Pandeiro — O Rei do Ritmo’ (2016), que ampliam o acesso ao legado musical deixado por ele, e até um longa-metragem foi finalizado sobre Jackson.

Mas, talvez, o mais importante, seja o valioso acervo que subiu para as nuvens nesse período. Refiro-me a dezenas de documentários e centenas de imagens raras e performances que hoje podem ser encontradas a apenas um clique, e gratuitamente, no Youtube, além dos discos presentes nas plataformas de streaming, como o Spotify e Deezer. Tudo isso “postado” por fãs e colecionadores, que generosamente compartilharam seus acervos com o mundo.

Entre essas preciosidades, há a famosa entrevista de Jackson ao jornalista Fernando Faro para o programa ‘Ensaio’, exibida pela TV Cultura em 1972 e que, de certa maneira, norteia o longa-metragem ‘Jackson, na Batida do Pandeiro’, de Marcus Vilar e Cacá Teixeira, exibido em pré-estreia para convidados no último sábado, dentro da programação do Festival de Artes Jackson do Pandeiro.

Aliás, o festival realizado pela Funesc, entre quinta e domingo passado, foi o pontapé da celebração pelo centenário do Rei do Ritmo. Ao longo de quatro dias, respirou-se no Espaço Cultural José Lins do Rego a batida do pandeiro, a música e o legado de Jackson em um festival multi-artístico, com cinema, teatro, cultura popular, oficinas, debates e, claro, muita música.
Foi nesse ambiente efervescente de cultura, prestigiado em peso pela população, que o novo Correio das Artes foi lançado. Como não poderia deixar de ser, a edição de nº 5 do seu 70º ano traz, na capa, sua majestade, o Rei do Ritmo, e pode ser encontrada em bancas de revista em João Pessoa, Campina Grande e Cajazeiras.
Não foi por acaso que celebramos o centenário de Jackson um mês antes: com 33, das suas 54 páginas dedicadas ao músico, a edição é um relicário de memórias, fatos e análises que procuram dar, ao leitor, informações que elucidem a importância daquela figura morena e franzina, que saiu a pé com a mãe e os irmãos, de Alagoa Grande a Campina Grande, para ganhar a vida e o mundo.
Muito bem orientado pelo biógrafo de Jackson, o pesquisador e jornalista Fernando Moura, a edição traz textos exclusivos dos historiadores Vanderley de Brito e Ida Steinmüller (ambos do Instituto Histórico de Campina Grande), dos jornalistas José Nêumanne e José Teles, do pesquisador-doutor Cláudio Campos e do escritor Braulio Tavares, além de depoimentos de dois artistas que conviveram de perto com o famoso ritmista: Jarbas Mariz e Biliu de Campina.


E não para por aí: eu e Fernando Moura conversamos por uma hora com Dona Neuza Flores, viúva de Jackson, cujo depoimento rendeu um retrato íntimo do homem por trás do artista: que religião ele seguia; por qual time torcia; que tipo de perfume usava; quais discos gostava de ouvir etc.

A edição ainda traz uma reportagem atual sobre as raízes do músico em Alagoa Grande. E coroamos o material com uma playlist feita a seis mãos - por mim, Fernando e o pesquisador Érico Sátiro -, com 20 canções que Jackson do Pandeiro gravou, comentadas faixa-a-faixa e com a possibilidade de ouvi-las através de um QR Code impresso na página.

Tenho muito orgulho - e sou muito grato a todo mundo que colaborou com essa edição especial - desse rico material que o Correio das Artes traz neste mês de julho. Ele se tornou um pedaço importante de informação para que nós, paraibanos, possamos compreender melhor a genialidade e a importância de Jackson que, parece, enfim consegue se estabelecer em pé de igualdade com o Rei do Baião. 

E se a comparação, porventura, não se dá por popularidade, se dá, certamente, pela importância majestosa que José Gomes Filho tem para a música brasileira, como um desbravador, um bandeirante que mostrou um novo caminho na estrada do ritmo, tanto para os andarilhos do forró, quanto do samba, como fica claro como água mineral no filme de Marcos e Cacá.
Portanto, Jackson do Pandeiro, aos 100 anos, está mais vivo do que nunca!

*publicado originalmente na edição impressa de 30 de julho de 2019.