De todas as manifestações públicas que li, no último domingo (9), a respeito de Juca Pontes, a do querido amigo Astier Basílio foi precisa: “Poucos trazem no próprio nome o sentido de uma vida, Juca: Pontes”. Compartilho com Astier essa visão de que Juca criou pontes ao longo da vida. Pontes que uniram pessoas a ideias, ideias a projetos, projetos a livros… Esse era o Juca que eu conheci.
Não raro, seus livros de poesia faziam a ponte entre texto e imagem, reunindo a excelência poética de Juca com nomes para lá de relevantes das artes visuais, vide Mar do Olhar (com Flávio Tavares), As Flores do Meu Jardim (com Jô Cortez) e Itacoatiara (com José Rufino), para ficar em apenas três exemplos. Juca – ou Juquinha, como muitos de nós o chamávamos – tinha bastante sensibilidade para a arte, e essa sensibilidade também era aplicada tanto na vida, quanto nos projetos que encabeçava.
Tive a felicidade de ter Juca como amigo. Marcávamos cafés para colocar o papo em dia e nos falávamos com frequência ao telefone. Ter a oportunidade de conviver com Juca Pontes era uma dádiva que só sabe quem poderia pegar o telefone e bater um papo com ele.
O nascimento dos meus dois filhos, o diagnóstico de diabetes do mais velho (Juca também era diabético), a nefasta ascensão de Bolsonaro ao poder (que contávamos as horas para terminar), pandemia de Covid-19, mercado literário, jornalismo, música, cinema… tudo era tema de conversa. Nos momentos mais difíceis que passei nesses últimos anos, conversar com Juca era ser abençoado com palavras inteligentes de um ser de iluminada espiritualidade.
Conheci pouquíssima gente com o coração tão grande quanto o de Juca. Afável, amoroso, nunca vi o poeta apertar a mão de alguém; ele sempre abraçava! Os abraços únicos de Juca Pontes, apertados, calorosos, afetuosos. Abraços que tinham algo a dizer: Olá, como vai você?! Espero que esteja tudo bem! Estou aqui para o que der e vier... esses eram alguns significados daquele abraço único.
Meu último abraço em Juca foi no dia 21 de março de 2023, por volta das 17h, na Livraria A União do Espaço Cultural, aqui em João Pessoa, onde o encontrei ao lado do igualmente querido Fernando Moura. A gente nunca imagina que um abraço será o último. Mas esse foi. O abraço que só Juca sabia dar.
Conversávamos muito, mas creio que só o entrevistei uma única vez, em julho de 2021, quando nos sentamos na sala do editor geral do Jornal A União, cargo que ocupava à época, para conversarmos sobre As Flores do Meu Jardim, que ele acabara de lançar.
A entrevista rendeu uma matéria para o Correio das Artes daquele mês e ano (você pode baixá-la neste link). De uma obra afetuosa que tem nos filhos e netos (dele e de amigos muito próximos) o destinatário de carinho em forma de versos, tive a ideia de registrar, no texto, um pouco da infância do próprio autor, de forma a construir um pequeno perfil do jovem José Alves Pontes Júnior, o caçula de dois irmãos, filhos de dona Maria Lúcia.
Está lá, por exemplo, o motivo pelo qual Juca nasceu em Campina Grande, e não em Caruaru (PE), onde seus pais moravam e onde ele viveu a infância. “Minha infância em Caruaru teria dois marcos: um, a música, sobretudo o forró, que aprendi a gostar vendo Luiz Gonzaga, ali, ao vivo; o outro, a arte do Mestre Vitalino, cujos bonecos minha mãe comprava na feira para eu brincar. Eram cavalos, bois, bonequinhos de pífanos… infelizmente, não tinha idade para entender o valor de arte que aqueles brinquedos tinham”, confidenciou.
Juca Pontes fará muita falta, não só a mim, aos filhos, netos e amigos próximos! Mas à cidade de João Pessoa, onde veio morar nos anos 1980 e desenvolver tantos projetos incríveis. Sem você, Juca, a cidade perde um pouco da sua graça e o mundo perde poesia. Essa partida repentina, nessa Semana Santa, não foi... bacana, expressão que você adorava. De qualquer forma, inté!
Aos filhos Maíra, Iam, Tao e Jade, e aos netos Ravi, Maya, Ben e Joaquim (que ele espelhava nos meus filhos, Gael e Jude, cujo nascimento o fez ir até a maternidade para conhecê-la), meu abraço de conforto neste momento difícil. Juca deixa um legado lindo em vocês.
*Coluna publicada na edição impressa de 11 de abril de 2023.