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Lives, da música à literatura

publicado: 05/05/2020 00h03, última modificação: 04/05/2020 11h17

tags: lives , festivais online , web , andré cananéa

 

As “lives” estão, cada vez mais, ganhando força e dimensão. Dá para notar isso nos grupos de WhatsApp do prédio, dos amigos e até da família, no qual a prima, o sobrinho ou até mesmo o neto preferido tem informado a agenda de apresentações do fim de semana. Caseiras ou sofisticadas, como foi a do DJ Alok, na noite do último sábado. Só o jogo de luz que podia ser visto de Marte deve ter consumido a energia de três meses da minha casa. 

A performance do DJ brasileiro mais famoso do mundo foi mega, digna dos eventos de grande porte, com várias câmeras (incluindo um drone) cobrindo arrojado palco montado na sala do apartamento de Alok, com direito a aparição da esposa com o filho de 4 meses do casal e de várias celebridades da Globo (que transmitiu a performance tanto pela TV, quando pela internet) como contrapartida à diversão: afinal, lá estavam eles procurando conscientizar a população da importância do isolamento social para conseguirmos fazer a curva da pandemia cair no Brasil. Até ontem à tarde, o país chegava perto dos 100 mil casos e passava de sete mil o número de mortos em decorrência do coronavírus.

Curioso como nestes tempos de covid-19, o sucesso (ou o prestígio) das “lives” têm sido medido pela repercussão em redes sociais ou em memes que elas têm gerado. As gozações em cima da performance pra lá caseira de Ivete Sangalo, em meio a filhos e marido, não param de surgir, assim como as nostálgicas e hilárias performances dos foliões de velhas micaroas que viralizaram nas rede sociais simulando a dinâmica dos blocos de axé, com seus empurra-empurra, brigas e seguranças truculentos, à luz da longa apresentação de Bell Marques (foram mais de cinco horas de show).

As “lives” também se tornaram comuns por aqui. Domingo, quem estava ligado no Instagram de Jurandy do Sax pode matar a saudade de assistir ao pôr-do-sol ao som do ‘Bolero’ de Ravel. Ao invés de um barquinho no Rio Paraíba, o músico paraibano se posicionou no topo de um prédio, de onde saudou a chegada do crepúsculo. Teve quem assistisse a performance pela telinha do celular, mas teve também que deixou o aparelho de lado e, com o som ligado, foi para a janela dos fundos contemplar a beleza, com a trilha sonora de Jurandy, ao vivo.

Acertadamente, a Energisa também entrou no circuito, proporcionando uma programação diversificada nas noites de sexta, sábado e domingo através do projeto ‘Fique em Cena’ com atrações daqui da Paraíba, Rio de Janeiro e Minas Gerais, sede da empresa. Nesse mix, teve Cátia de França, Cabruêra, Wister, Nathalia Bellar, Polyana Resende e o Gonzaga, entre outros.  

Despojadas e com boa estrutura, as “lives” reuniram, até aqui, algus dos nomes mais relevantes da atual cena musical do nosso Estado, em performances caseiras e intimistas, daquelas que alimentam a alma e acalentam o espírito nestes tempos de pandemia e isolamento social. No próximo fim de semana tem mais.

Mas prestem bem atenção: “live” não é sinônimo apenas de música. Praticamente todo mundo que coloca seu rosto na frente de uma câmera de celular para o mundo está fazendo uma “apresentação ao vivo”, seja contando uma piada, ensinando a fazer um bolo de chocolate, palestrando sobre vida extraterrestre ou apenas contando como foi seu dia na quarentena.

Esta semana, o Sebrae-PB realiza a Feira de Negócios Criativos e Colaborativos com palestras, mesas e expositores, tudo 100% digital através do site https://fincc.com.br/2020. Começou ontem e vai até sexta-feira. Ontem mesmo, eu tive a oportunidade de falar sobre a fase atual do Correio das Artes, do qual tenho orgulho de editar há exato um ano. No papo, fui escudado pelo mestre, William Costa, meu antecessor no suplemento literário, editor por nove anos do querido CdA. 

Mas não para por aí. As chamadas “Lives de Literatura”, habilmente orquestradas pelo poeta Juca Pontes, reúnem um dream team da literatura paraibana para falar de assuntos como “O ofício de escrever”, palestra de Políbio Alves com a participação de Bernardina Freire como debatedora, que vai ao ar nesta terça, às 18h.

Amanhã tem "A voz literária do Sertão", com Linaldo Guedes intermediado por Bruno Gaudêncio e na quinta-feira, o crème de la crème com um bate-bola literário entre Sérgio de Castro Pinto e João Batista de Brito, sempre às 18h. Usufrua - é gratuito - e #fiqueemcasa.

*publicada orignalmente na edição impressa de 05 de maio de 2020.