Recentemente me juntei à Feira Paraíba Vinil. Autoproclamada “Primeira feira itinerante de LPs da Paraíba”, há seis edições ela reúne lojas de discos — físicas e virtuais — para movimentar a cena de colecionadores de João Pessoa. E, para além dos LPs, faz uma coisa bastante acertada: abrange outras mídias físicas, como CD, DVD e blu-ray. Acrescente aí uma boa ala gastronômica, com salgados, doces, cafés e cervejas artesanais, e também vestuário, criando um espaço heterogêneo de economia criativa, valorizando o chamado pequeno comerciante.
Eu não tenho loja, mas tenho uma enorme coleção de CDs, DVDs, blu-rays, livros e HQs que estavam precisando do carinho e da atenção de outros colecionadores. Foi assim que cheguei à Feira Paraíba Vinil em junho e voltei agora na edição “Dia dos Pais”, no começo de agosto, após fazer uma inscrição a partir do chamamento público realizado através do Instagram do evento (@paraibavinil).
Gostei de ser “feirante” por um fim de semana na aprazível Usina Cultural Energisa, um espaço de uma energia e um astral bastante revigorantes. Nessas duas edições de que participei, a feira integrou o maravilhoso projeto Viva Usina 2025, que mantém uma programação de arte e cultura com artistas locais ao longo do ano.
Então, estou lá, na segunda banquinha do lado esquerdo de quem entra no “corredor do vinil”, vizinho à Música Urbana, do meu amigo Robério Rodrigues, que conheço há uns 20 anos ou mais, em frente a outro amigo, este até mais antigo, Óliver de Lawrence, da Óliver Discos, e a duas bancas do meu amigo mais novo, Sérgio Pacheco, da Taioba Discos e organizador da feira.
Ficar um total de 18 horas naquele lugar foi mais que uma experiência comercial. Diria antropológica, mas talvez não vá a tanto. Vencer minha certa timidez para atender ao público foi a primeira barreira a ser superada. Lidar com pessoas que nunca vi sempre me deu “um nervoso”, mas não tive problemas. Escudado pelo meu fiel companheiro de banca, o professor e especialista em HQs Joelson Nascimento, conversamos com muita gente e eu até fiz amigos, que chegaram a voltar à feira com um presente para mim.
Basicamente, uma feira assim atrai, antes de mais nada, gente que coleciona LPs. No olhômetro, posso dizer que o público tem entre 20 e 40 anos. Os 45+ que vi por lá, de certa forma, foi o que encostou na minha banquinha e na de outros colegas para comprar CDs.
É curioso o apelo que o LP tem nos mais jovens. Com preços variando de R$ 5 a mais de R$ 1 mil na feira, a indústria conseguiu convencer a garotada a gastar uma grana num disco que ela pode ouvir nas plataformas digitais até de graça. No obrigatório livro A Vingança dos Analógicos: Por Que os Objetos de Verdade Ainda São Importantes, o autor David Sax assertivamente pondera: “Cercados pelo digital, nós agora ansiamos por experiências que sejam mais táteis e humanocêntricas”.
Minha banquinha atraiu muitos colecionadores de HQs e, para minha boa surpresa, de DVDs. Sim, eles existem. E têm idades bem variadas. Uns estudam cinema, outros são velhos colecionadores do tempo em que a Americanas os ofertava em grandes cestos, e teve até um fã do Nirvana que comprou um DVD, adquirindo-o como mero souvenir, mesmo não tendo nenhum aparelho para tocá-lo.
Teve um senhor de aproximadamente 60 anos que encostou lá em busca de filmes de super-herói. Foi na sexta-feira. Acabou levando minhas duas raras edições em DVD de Superman: O Filme (1978) e Superman II: A Aventura Continua (1980). De quebra, ainda levou uma HQ do super-herói. E disse que recomendaria a banquinha ao filho, que coleciona filmes. Pois não é que a família inteira apareceu no domingo, e o tal filho fez uma ótima compra também.
E, embora muita gente me encoraje a abrir uma loja de usados, acho que comércio não é minha praia — a não ser que a carreira de jornalista fique insustentável. De qualquer forma, a ideia de abrir um espaço virtual em plataformas de e-commerce não está descartada. Quem sabe?
*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de agosto de 2025.