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O CD está mesmo morto?

publicado: 02/02/2021 00h00, última modificação: 10/02/2021 09h26
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O Shopping Centro Terceirão – como ostenta (ou, pelo menos, ostentava) a fachada na Av. General Osório, no coração de João Pessoa – é um ótimo termômetro de mercado. Vi ali a explosão do consumo de DVDs piratas, em uma época pré-Netflix e outros serviços de streaming, da mesma forma que o vi definhar, até sumir dali, assim como de praticamente de toda capital paraibana.

Hoje dominado pelo comércio de acessórios para celular – de “películas” que prometem proteger a tela do celular a iluminação para lives –, é lá que eu costumava encontrar as estimadas caixinhas de acrílico para manter minha coleção de CDs sempre nova e impecável.

Pois bem… os tais “jewel box”, como são conhecidas no mercado internacional, começaram a rarear no Terceirão, o que, para muitos, é um forte indício da morte em definitivo do compact disc. “Não há previsão ainda”, me responderam os vendedores das duas únicas lojas que comercializam as tais caixas de acrílico com bandeja transparente (meu alvo de consumo).

Em setembro do ano passado, um relatório da Recording Industry Association of America (que acompanha o mercado de discos no mundo) relatou que, pela primeira vez desde 1986, as vendas de LPs superaram a de CD no mercado norte-americano, numa proporção de US$ 232 milhões em vendas para o primeiro, contra US$ 130 milhões do segundo. Uma merreca se comparado aos quase US$ 5 bilhões gerados ao mercado pelo Spotify, a principal plataforma de streaming de música.

Mesmo com esses números, não acho que o CD esteja no fim, e não está mesmo em países como o Japão (onde o revival do LP não emplacou) e na França (vi com meus próprios olhos em 2019). Há muito chão ainda para os velhos compact disc. Entre os que consomem mídia física, os argumentos que é melhor colecionador CD do que LP passam por justificativas do tipo, “é melhor de manusear”, “é mais barato que o LP”. Além do mais, para ouvir um vinil, você precisa de uma vitrola (as melhores são relativamente muito caras). Já o CD toca em aparelhos de DVD, de blu-ray e até em videogames, além dos sistemas de som, que hoje congregam bluetooth e gaveta para CD.

Curiosamente, o CD e o LP mantêm vivas duas lojas físicas em João Pessoa, a Música Urbana e a Óliver Discos – uma terceira foi inaugurada ontem, em Manaíra, a Estilhaços Discos, que prometo conhecer em breve. Óliver, inclusive, inovou nestes tempos de pandemia: criou um leilão virtual de CDs. Através de um grupo no WhatsApp, ele anuncia o evento e, a partir do horário combinado, vai chamando os títulos, disponíveis para arremate a partir de R$ 10. 

Para os colecionadores, é uma boa oportunidade para conseguir CDs preciosos a preço de banana, além da diversão que gera a disputa pelos títulos. Para quem vende, é a chance de tirar do estoque aquele CD que repousava há anos no fundo da gaveta, afinal, os leilões se valem, e muito, da compra por impulso. 

Para a loja, há riscos, claro. Risco de vender um CD que vale uns R$ 90 por R$ 10, ou R$ 20. Mas há boas surpresas também, com títulos que não venderiam nem por R$ 5, alcançarem R$ 50, como já aconteceu. Na média, enxergo como um bom negócio para os dois lados.

O fato é, se o CD anda em baixa (pelo menos nos EUA, conforme dados da RIAA), acredito que ele ainda tenha uma longa vida pela frente. Pelo menos, eu espero que sim!

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 02 de fevereiro de 2021.