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O cinema da minha época é hoje

publicado: 08/08/2023 10h37, última modificação: 08/08/2023 10h37
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Nos anos 2000, formato “multiplex” abraçado pelos shoppings se estabelecia em JP - Foto: Cinépolis/Divulgação

por André Cananéa*

A coisa toda começou com o convite de Adeildo Vieira e Cíntia Perônia para que, na semana que passou, eu trocasse o costumeiro comentário de filmes que faço na coluna De Olho na Tela para falar sobre a minha relação com os cinemas de João Pessoa. Afinal, o Tabajara em Revista, apresentado pelos dois músicos na Rádio Tabajara FM, estava embalado pelas comemorações dos 438 anos da capital paraibana.

É muito comum ler – e ver – sobre os cinemas de bairro em João Pessoa, mas há pouco material a respeito das salas instaladas em João Pessoa nos últimos 20, 30 anos. Foi nesse papo no Tabajara em Revista que me dei conta do tanto que o cinema se modificou ao longo dessas últimas três décadas. E como eu vi tudo de muito perto.

Nos anos 1980, ainda com as calças curtas, comecei a ir ao cinema. João Pessoa ainda não tinha shoppings e as salas que alcancei foram o Municipal, Plaza e o Cine Tambaú (no Hotel Tambaú), os três do empresário Luciano Wanderley (falecido em 2003). Ainda alcancei o Municipal com 900 lugares (em 1996, a capacidade caiu para menos da metade) e foi lá que conheci o hoje velho (e ultrapassado) 3D com os óculos com celofane vermelho e azul ao assistir Tubarão 3, por volta de 1984.

Em 1989 foi inaugurado o Manaíra Shopping. Lá dentro, Luciano Wanderley abriu as duas primeiras salas de cinema em shopping de João Pessoa: Rex 1 e Rex 2, vizinhas, na praça da alimentação (por conta das filas que se formavam, essa entrada saiu da praça de alimentação e foi para a lateral do cinema). Em 1998, o Shopping Sul foi aberto nos Bancários e lá também havia uma sala de cinema (Cine Shopping Sul, também de Luciano Wanderley), onde eu me lembro de ter visto Quase Famosos (2000).

No final dos anos 1990, ainda não havia chegado à Paraíba o formato “multiplex”, com várias salas dentro de um único complexo. Pelas minhas anotações, Campina Grande foi a primeira cidade da Paraíba a ter um multiplex. Inaugurado no Boulevard Shopping (hoje, Partage), em 2000, o Multiplex 4 marcava a estreia da empresa Cine Sercla fora de Minas Gerais. Em 2001, ela se estabeleceu também em João Pessoa, inaugurando o Multiplex 5 no Mag Shopping e, em seguida, outro Multiplex 4, desta vez no Tambiá Shopping.

Conversando com o amigo e crítico de cinema Renato Félix, lembramos que A Senha: Swordfish (2001), filme de ação estrelado por John Travolta, Hugh Jackman e Halle Berry, inaugurou o primeiro multiplex da capital paraibana. O segundo multiplex não demorou a se estabelecer. Em 2002, o Box Cinemas abriu suas portas no Manaíra Shopping.

O Box entrou para a história do cinema paraibano como a primeira empresa a mostrar publicamente a nova tecnologia 3D. Lembro demais desse dia 31 de março de 2010, quando foi exibido o exuberante Avatar (2009), de James Cameron, o carro-chefe dessa nova onda em todo o mundo. Em uma sessão para convidados, a exibição atraiu médicos oftalmologistas, que contaram à imprensa suas impressões sobre a nova tecnologia.

Em outubro de 2011, a mexicana Cinépolis assumiu a operação do Box Cinemas em todo o Brasil, incluindo as salas do Manaíra Shopping, expandindo o complexo com novos espaços (Macro-XE e duas VIPs) e inaugurando um multiplex no Mangabeira Shopping. É a estrutura que temos hoje.

Os multiplexes ajudaram a digitalizar as exibições em todo o mundo, e João Pessoa não foi diferente. No Mag, o Multiplex 5 saiu de cena e entrou o paulista Cinespaço, inaugurado não mais no primeiro andar, onde ficava o complexo de salas da Sercla, mas no segundo, se integrando ao que viria a ser a praça de eventos do shopping.

Foi nesse mesmo Cinespaço que assisti, com a nostalgia do pequeno Totó de Cinema Paradiso, a última exibição em película que eu tenho notícia na cidade. O filme era Mad Max: Estrada da Fúria (2015), e o cinema do Mag possuía a única cópia em celulóide de João Pessoa. Não pensei duas vezes: cravei esse marco para mim. Desde 2018, o Centerplex opera no Mag, após o fechamento das salas Cinespaço no Brasil.

João Pessoa possui, atualmente, um total de 27 salas, 26 delas distribuídas em quatro multiplexes, todas elas dentro de shopping centers. A única fora desse circuito é o Cine Bangüê. Inaugurado no segundo semestre de 1982, no Espaço Cultural José Lins do Rego, nesses mais de 40 anos, o cinema se transformou em cine-teatro (revezando sua programação com concertos de música) até ganhar, em definitivo, seu próprio espaço, em 2016, com 160 lugares e equipamento digital, com uma programação voltada ao cinema de arte, fundamental para a expressão artística e a educação cultura do pessoense.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 08 de agosto de 2023.