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O melhor filme de 2022

publicado: 22/11/2022 00h00, última modificação: 22/11/2022 09h05
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‘Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo’ costura brilhantemente universos paralelos - Foto: Foto: Divulgação

tags: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo , imdb , filmes 2022

por André Cananéa*

O Internet MovieDatabase (algo como “base de dados de filmes na internet”) é a mais popular e confiável fonte de informações sobre filmes, séries, programas de TV e celebridades, como eles mesmos se definem na página www.imdb.com. Hoje integra o grupo Amazon, e é, por assim dizer, meu portal de cabeceira.

O IMDB aceita notas dos usuários cadastrados, e nesse fim de semana, o Mundo de Conforto, em seu perfil no Instagram (@mundodeconforto), totalmente dedicado a filmes e séries, ranqueou os nove melhores filmes de 2022 de acordo com as avaliações do público.

Top Gun: Maverick, a continuação – recordista de bilheteria – do sucesso de 1986 encabeça a lista. O fato é: mais gente votou nele, com notas mais altas, logo, não é surpresa que ele lidere o Top 9, porém é o segundo lugar que, para mim, é mais valioso: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo.

Ao contrário de Maverick, que recicla ideias e até sequências inteiras de Ases Indomáveis, mas, claro, é um bom filme, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo ganha pela surpreendente ousadia, pelo ritmo frenético e pelas boas ideias do roteiro. O ano ainda não acabou, eu sei, mas duvido que haja, em 2022, um filme tão mais incrível que este.

Em determinados momentos da nossa vida, somos obrigados a fazer escolhas: casar ou não casar; seguir medicina, ou direito; permanecer no emprego modorrento ou largá-lo e viver como um monge etc. O argumento do filme se baseia em que, para cada escolha que deixamos de fazer, abre-se um universo paralelo em que essa opção descartada segue adiante. Por exemplo: quando eu me casei, um outro André, solteiro, continuou a viver num universo paralelo.

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, dirigido e escrito por Dan Kwan e Daniel Scheinert, costura brilhantemente esses universos paralelos, ou “multiversos”, a partir da seguinte história: Michelle Yeoh (a estrela do fenomenal O Tigre e o Dragão) é Evelyn Wang, uma apática empreendedora chinesa que mantém uma lavanderia nos Estados Unidos de hoje, enrolada com a Receita Federal, com o casamento em ruínas e sem conseguir se entender com a filha, além de ter que levar o pai reclamão nas costas.

Mas tudo muda quando, em uma audiência na Receita com uma servidora caxias (Jamie Lee Curtis, impagável), ela recebe a visita de uma versão do marido (Ke Huy Quan, o adolescente oriental de Goonies e Indiana Jones e o Templo da Perdição, em ótima retomada da sua carreira cinematográfica), afirmando que ela é a chave para deter uma poderosa vilã que está destruindo múltiplos universos em cadeia e, por conseguinte, ameaça a existência da humanidade.

A partir daí, o que o espectador vê é um misto de filme de ação com muitas lutas (ótimas e criativas), humor ácido e uma bela lição, que está nas entrelinhas do filme quando o enredo passa a abordar questões sobre niilismo e filosofia, sem deixar de lado a adrenalina: não importa a decisão que a gente tome na vida, em nenhuma delas seremos completamente felizes e realizados, nem quando nos tornamos uma rica e influente estrela de cinema, por exemplo.

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo não é o primeiro, nem o último filme a abordar os múltiplos universos que, supostamente, existam. Aliás, em um passado próximo, partiu dos gibis de super-heróis popularizarem os tais “multiversos”, que ganharam as telas de cinema nas recentes sagas da Marvel, tanto no cinema (Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é o mais focado no tema), quanto no streaming (a série WandaVision, do Disney+).

Vale lembrar que, um pouco antes, em 2018, o desenho animado Homem-Aranha no Aranhaverso chegou a vencer o Oscar de Melhor Animação e a história é um barato: reúne, em um único plano, diversos Cabeças de Aranha, um dos mais queridos super-heróis do mundo dos quadrinhos.

Mas em tempos de Metaverso – o ambiente virtual criado pela antiga empresa Facebook (rebatizada, justamente, de Meta) – é importante que um filme de ação deixe de lado o entretenimento por entretenimento e provoque a reflexão sobre quem somos e que lugar ocupamos no nosso espaço, sejamos apenas uma pedra, ou tenhamos “dedos de salsicha”, como são retratadas as Evelyn Wangs de alguns dos múltiplos universos de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, que está disponível nas plataformas de streaming apenas para locação e venda, pelo menos até agora.

Em tempo, o Top 9 de 2022 segundo as notas do IMDB, até esse fim de semana, se completava com os seguintes filmes: RRR: Revolta, Rebelião, Revolução (3); Batman (4); Nada de Novo no Front (5); Treze Vidas: O Resgate (6); O Menu (7); Elvis (8); e Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (9).

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 22 de novembro de 2022.