Os Estados Unidos estão no foco de um novo surto de covid-19. O que chama a minha atenção, em particular, é que desta vez o engajamento de artistas renomados, da música, cinema e TV, parece bem maior, com súplicas a atitudes que evitem a propagação do coronavírus e, sobretudo, pregando a necessidade da população tomar a vacina como medida sanitária para transformar a covid, de fato, numa “gripezinha”.
Somente nos últimos dez dias, vi astros de rock como Gene Simmons (do grupo Kiss) e Sebastian Bach (ex-vocalista do Skid Row) conclamando os fãs a tomarem o imunizante, já que nos EUA, a adesão não é tão intensa quanto no Brasil, por exemplo. Na América do Norte, até a semana passada, apenas 50% da população havia sido vacinada, apesar da oferta abundante de imunizantes à disposição da população.
“Eu não estou preocupado se um idiota pegar covid e morrer. Eu estou preocupado que ele leve outras pessoas consigo, que não tiveram uma escolha. Não precisa ser morte. Estar em um hospital é horripilante. Há tantos casos de pessoas que são negacionistas e que estão implorando no hospital para receber a vacina, mas é tarde demais”, declarou o baixista do Kiss, famoso, veja só, por sua grande língua, literal e metaforicamente falando.
Sebastian Bach fez um apelo para que a vacina se torne obrigatória a todos os cidadãos norte-americanos, e não opcional, como é hoje. O vocalista de 53 anos, que já está imunizado, revelou que testou positivo para covid recentemente, mas teve sintomas leves. “Eu procurei o que especificamente a vacina faz, e dizem que ela concentra qualquer crise que você tenha no trato respiratório superior. Ela mantém (o vírus) longe dos nossos pulmões — bem no fundo dos seus pulmões. É assim que eu ganho a vida — cantando a plenos pulmões e correndo pelo palco e sendo aerobicamente saudável”, relatou.
O vocalista da banda Iron Maiden, Bruce Dickson, também testou positivo após tomar duas doses da vacina contra covid-19. Assim como Bach, precisa dos pulmões saudáveis para fazer a alegria dos fãs — que não são poucos — felizes. E embora também tenha tido sintomas leves e ter sido obrigado a cancelar alguns shows por esses dias, ao contrário dos colegas do Kiss e Skid Row, o vocalista do Iron Maiden não defende que as pessoas sejam obrigadas a tomar o imunizante.
“Eu tenho 63 anos de idade. Eu não tenho dúvidas de que se eu não tivesse tomado a vacina, eu poderia estar com sérios problemas”, declarou em uma entrevista a um portal de rock na última quinta-feira, antes de ponderar sobre a obrigatoriedade da dose: “É uma escolha pessoal. Pessoalmente, eu acho que as pessoas são simplesmente muito mal aconselhadas se não forem tomar as duas doses da vacina o mais rápido possível, não pelo fato de ir a shows, mas por suas próprias saúdes”.
Arnold Schwarzenegger não é integrante de nenhuma banda de rock, mas deu vida a papéis inesquecíveis em filmes como O Exterminador do Futuro e Conan, O Bárbaro. Ele, que chegou a ser eleito governador da California, também saiu em defesa da vacinação em massa, evocando a ciência e citando que são os especialistas que estão recomendando o uso de máscaras e distanciamento social. “Eu sou um especialista em desenvolver um bíceps. Não há ninguém que saiba mais sobre bíceps do que eu, porque eu estudei isso por 50 anos. E é a mesma coisa com o vírus. Há pessoas por aí que são especialistas que estudaram isso ano após anos após ano”.
Outra estrela das telas, a atriz Jennifer Aniston (do seriado Friends) foi mais radical: cortou relações com pessoas que se recusaram a se vacinar contra covid-19. Seu posicionamento gerou um amplo debate sobre o direito de poder escolher tomar o imunizante, ou não.
Falando em debate, um dos mais polêmicos veio de dois ícones da música. Cansado das declarações negacionistas do famoso guitarrista Eric Clapton, Brian May, cofundador do Queen, chamou o colega de “maluco”. Não custa lembrar, May tem formação em astrofísica, portanto, tem os pés na ciência.
Clapton... bem, Clapton é guitarrista e tem negado a vacina desde que, segundo ele, teve “reações desastrosas”. Mas não é só isso. Ele também tem negado o isolamento social e até participou de uma campanha “antilockdown”. Recentemente, disse que não iria fazer shows em locais que exigissem a vacinação do público contra covid, mas lamentava que estivesse sendo ignorado por muitos amigos, também músicos.
A vacinação é importante nessa retomada, assim como a manutenção das medidas de segurança sanitária. Vi imagens de uma multidão aglomerada em um megafestival de música realizado agora, em julho, na cidade de Chicago (EUA). Em muitas dessas imagens, divulgadas em rede social, os fãs criticaram a reunião de tanta gente em um momento tão delicado.
Entretanto, li em diversas reportagens que, mesmo com a aglomeração de aproximadamente 100 mil pessoas em cada um dos quatro dias de evento, as autoridades sanitárias registraram pouco mais de 200 casos de covid-19 e atribuem o baixo índice justamente a exigência de testes negativos e comprovantes de vacinação para o público poder ter acesso aos shows.
Ídolos, heróis, influenciadores digitais, enfim, toda figura pública que se faz acompanhar pelo talento, discurso ou simples capacidade de atrair uma multidão, em qualquer parte do mundo, tem a obrigação de, neste momento, zelar pela saúde e bem estar da coletividade. Nada menos que isso.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 17 de agosto de 2021.