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Onde estão os bebês do rock?

publicado: 13/07/2021 08h00, última modificação: 13/07/2021 11h21
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Os ídolos do rock vêm atravessando gerações, e o “velho” é o novo para a garotada

tags: dia do rock , 13 de julho


Foi em 2011, durante o Rock in Rio, que a atriz Christiane Torloni proferiu a frase que seria lembrada todo dia 13 de julho: “Hoje é dia de rock, bebê!”. Exatos dez anos depois, cá estou eu pensando com meus botões, onde estão os bebês do rock? Me refiro às novas gerações que são capazes de eternizar discos e músicas no inconsciente coletivo, como o fizeram Beatles, Rolling Stones, Who e, em casos mais recentes, Guns N’ Roses, Nirvana e, forçando uma barra, Foo Fighters, banda que emplacou hits que já têm 20 anos. E os de dez anos para cá?

Como diria Belchior, naquela famosa canção: nossos ídolos ainda são os mesmos… e depois deles, não apareceu mais ninguém. Diferente de um sertanejo, um rap, um funk, o “velho” do rock é que é o novo, sendo redescoberto a cada nova geração. O gênero se tornou uma instituição que passa de pai/mãe para filho(a).

A hereditariedade artística e musical é algo que, assim como ocorre com a MPB, garante a permanência no imaginário coletivo das bandas supracitadas, assim como Roberto e Erasmo Carlos, Caetano, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa, que seguem produzindo com relevância, já perto de completar 80 anos.

Então é isso! A chamada Geração Z, que passou a me chamar de “cringe”, por ter me tornado um “velho saudosista” está aí, ouvindo Paralamas, indo a shows dos Titãs (quando se podia ir), venerando o Skank (que parou de existir oficialmente no ano passado…) e comprando (sim, comprando) LPs dos Stones, Beatles, Nirvana… mas não há uma banda de rock, de dentro ou fora do país, que tenha se tornado uma unanimidade de… vejamos… 2010 para cá. Por quê? Eis a pergunta que não quer calar…

Eu arrisco algumas teorias, enquanto jornalista e consumidor voraz desse tipo de música. Uma delas diz respeito à fragmentação dos canais de música. Até os anos 1990, quando não existia Spotify e a indústria fonográfica ainda respirava sem ajuda de aparelhos, era relativamente fácil fazer um artista de rock acontecer.

O público ainda ouvia rádio e a MTV era uma referência a toda uma geração brasileira, por exemplo. Então Pato Fu, O Rappa, Skank, Charlie Brown Jr., Los Hermanos e tantos outros se valeram dessa fórmula e conseguiram cair no gosto popular, vendida como uma geração seguinte ao rock dos anos 1980 (Legião Urbana, Titãs, Capital Inicial, Paralamas etc.), mas como artistas mais abertos à mistura de influências. E produziram grandes hits que permanecem no imaginário até hoje.

Ai veio a segmentação. As rádios de música perderam força e espaço para uma rádio de notícias, como ouvimos hoje. A indústria ficou anêmica com novos modelos de negócio, que deu uma força descomunal ao artista independente, ou seja, sem contrato com gravadoras, esse artista aprendeu a dar as cartas por conta própria (o pessoal do forró e sertanejo soube “se vender” muito bem, e Anitta é, certamente, o maior modelo de negócios da nova era, quer você goste da música dela ou não) e as bandas que empunham guitarras, ou mostram uma pesquisa rica em mistura de ritmos, ficaram relegadas a nichos de fãs.

Sinto falta de uma nova banda de rock genuinamente brasileira que consiga se destacar neste oceano de informações que nos bombardeia diariamente. BaianaSystem, talvez?! Mas é rock? É massificado? Está nos “trends”?! É um fenômeno em Salvador, dizem, terra natal do grupo. Mas não vejo a banda ir muito além das divisas da Bahia.

Enquanto isso, artistas de sertanejo e funk agem como uma fábrica de montagem, produzindo hit após hit, fazendo videoclipes estourarem, com facilidade, a barreira do milhão no YouTube. Falta, ao rock, uma figura como KondZilla, produtor que faz o dinheiro girar no mundo do funk brasileiro, por exemplo. Ok, o negócio é faturar com o artista do momento em um estilo extremamente efêmero, mas o paulista sabe fazer a engrenagem funcionar nos tempos atuais.

E por que faltam peças que façam a engrenagem industrial girar, a ponto de alçar artistas de rock ao estrelato neste mundo segmentado do streaming? Faltam artistas com carisma? Falta concessão (artistas de rock sempre tiveram fama de arredios e colocar sua música acima dos negócios)? Falta o quê?

Enquanto o digníssimo leitor fica aí, a refletir, eu vou ali pegar meu CD do Led Zeppelin III, colocar no meu toca-discos digital e voltar à 1970, quando os gigantes caminhavam sobre a Terra.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 13 de julho de 2021.