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Os Beatles no cinema

publicado: 09/12/2025 09h23, última modificação: 09/12/2025 09h23
Hard Day's Night - 01.jpg

Paul, George, Ringo e John, correndo por Londres em “A Hard Day’s Night” | Foto: Divulgação/Imagem Filmes - Foto: United Artists

por André Cananéa*

Não me pergunte como eu consigo dilatar as 24 horas do dia para dar conta da minha vida pessoal, dos afazeres junto à Parahyba FM, da cobertura do Fest Aruanda 2025 — que termina amanhã, aqui em João Pessoa —, dos filmes que concorrem ao Prêmio EPC Vladimir Carvalho de melhor documentário do Aruanda, do qual faço parte do júri ao lado dos amigos/colegas Renato Félix e Audaci Júnior, e ainda arrumar tempo para ver a série The Beatles – Antologia no Disney+. O fato é: cada minuto conta.

Tema de capa deste caderno na edição de 25 de novembro passado, Antologia é um documentário em nove episódios (a nova versão), lançado originalmente em 1995, que passa a limpo toda a trajetória dos Beatles, do momento em que John conhece Paul, Paul apresenta George e, depois de alguns shows, o trio resolve contratar “o melhor baterista do Reino Unido” (palavras de Paul), Ringo, até a dissolução do grupo, regado à célebre frase “o sonho acabou!”.

Lá pelo meio do episódio 3, um acorde de guitarra irrompe a narrativa. Um segundo de silêncio depois, John, Paul e George entoam em uníssono “It’s been a hard day’s night / And I’ve been workin’ like a dog…”, enquanto rolam imagens dos quatro Beatles fotografados em preto e branco.

Como bem lembra Harrison, em 1964 os quatro rapazes de Liverpool também tentaram dilatar as 24 horas: naquele ano, os Beatles fizeram turnês pela Inglaterra e parte da Europa, shows nos Estados Unidos, lançaram dois álbuns, uns quatro EPs e três singles. E ainda rodaram um filme. “Jesus, como nós conseguimos fazer aquilo?”, se pergunta o guitarrista.

Na série, Paul revela que o desejo por estrelar um filme não veio após o sucesso; já acompanhava a banda desde quando sair do pequeno palco do Cavern Club e ganhar o mundo era apenas o sonho. Na esteira da chamada “beatlemania”, acabaram estreando na tela grande com um musical cômico que retrata o frisson e o cotidiano da banda mais popular do planeta de então. O filme? A Hard Day’s Night (1964), de Richard Lester.

Visto hoje, o filme é bem bobo, mas tinha — e ainda tem — o que realmente importa: os números musicais, verdadeiros videoclipes dignos da MTV, muito embora a emissora estivesse longe de nascer e popularizar o termo surgido no final dos anos 1950.

Exibido primeiro no Reino Unido, com première em Londres em 6 de julho de 1964, e de lá para quase todo o mundo, o filme só chegou ao Brasil em meados do ano seguinte, com o título de Os Reis do Iê-Iê-Iê.

Fã dos Beatles na mesma medida que é fã de cinema, Ivan Cineminha me contou que viu no jornal o anúncio da estreia do primeiro filme dos Beatles nos cinemas do Recife e não contou conversa: pegou o ônibus na rodoviária de João Pessoa com destino ao Cine Art-Palácio, no coração da capital pernambucana, na tarde de 17 de julho de 1965.

Diferente da onipresente distribuição digital dos dias de hoje, há 60 anos, os filmes rodavam em película, e fazer uma cópia no modelo analógico era dispendioso, sobretudo para uma distribuidora independente como a Lumiére, que, pelo número limitado de cópias, fazia uma verdadeira turnê com elas, levando-as de cidade em cidade. Então, foi por isso que, ao voltar a João Pessoa, Cineminha teve que esperar duas semanas para ver Os Reis do Iê-Iê-Iê no Cine Municipal, numa tarde modorrenta de domingo, 1o de agosto de 1965.

Por sorte, Ivan voltaria aos cinemas para ver mais dois filmes — de um total de cinco — que os Beatles fizeram. Help! (1965), também dirigido por Lester, pelo menos tinha um fiapo de história (Ringo é perseguido por devotos de um culto enquanto os Beatles tentam gravar um disco). Estreou mundialmente em 29 de julho de 1965, em Londres, mas só chegaria a João Pessoa quase dois anos depois, em março de 1967 (Cineminha acabaria por vê-lo no dia 2, no Cine Municipal).

Nosso “Chat GPT humano para filmes” também veria Let It Be (1970) na tela grande, em 26 de janeiro de 1971, também no Municipal (ele guarda até hoje o ingresso daquela sessão). Exibido originalmente oito meses antes, o filme de Michael Lindsay-Hogg ganhou uma revisão necessária em 2021, através do cineasta Peter Jackson, que utilizou praticamente todas as imagens feitas para o filme. O projeto, com quase oito horas de duração e também disponível no Disney+, foi rebatizado como Get Back.

Ivan Cineminha só não assistiu nos cinemas ao média-metragem Magical Mystery Tour (1967), feito para televisão e com direção dos próprios Beatles, e a animação em longa-metragem Yellow Submarine — ou Submarino Amarelo (1968) —, de George Dunning, que estreou no Brasil em dezembro de 1968 e chegou às telas de João Pessoa no ano seguinte, ou talvez no início de 1970, já que eu não consegui localizar a data exata.

Em 2028, os fãs dos Beatles — tanto novos quanto antigos — voltarão aos cinemas, desta vez para assistir ao magnânimo projeto que prevê quatro filmes, um para cada integrante do grupo, todos dirigidos pelo tarimbado Sam Mendes. Já estou com a roupa de ir!!

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 9 de dezembro de 2025.