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Os bons ventos da Paraíba

publicado: 08/04/2025 09h24, última modificação: 08/04/2025 09h24
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Ator paraibano Daniel Porpino (à esq.) em uma cena do longa-metragem “Oeste Outra Vez” | Foto: Divulgação/O2 Play

por André Cananéa*

Muitas vezes, os ventos da arte e da cultura paraibana sopram fortes dentro do estado. Nessa lógica, a semana passada foi um furacão para o audiovisual, a começar com a passagem de dois filmaços pelo circuito comercial. Um é um filme 100% paraibano, Pele Fina, dirigido por Arthur Lins (de Desvio), e estrelado por Ingrid Trigueiro (Bacurau), Tavinho Teixeira (Batguano, Aquarius) e Mariah Benaglia (do curta Os Mortos).

Drama intenso sobre uma dramaturga que se isola em uma praia para escrever uma peça e no processo acaba misturando ficção e realidade. É inspirado na peça Psicose 4.48, da dramaturga britânica Sarah Kane, e está em cartaz no Centerplex Mag Shopping, em João Pessoa, até amanhã. Depois, segue no Cine Bangüê, com horários alternados no fim de semana (veja o Instagram da sala de cinema para conferir os horários).

Mas o filme de Lins não fica restrito só a João Pessoa. Por meio do edital Paulo Gustavo, Arthur Lins e sua equipe conseguiram distribuir o filme também pelo interior da Paraíba (com exibições em Areia, Bananeiras, Cajazeiras, Aparecida, Sousa e Campina Grande) e também em praças Brasil afora (salas em Brasília, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Paraná).

O outro foi rodado no interior de Goiás, mas tem sangue paraibano no elenco. Oeste Outra Vez, de Erico Rassi, é estrelado por Ângelo Antônio, Babu Santana, Rodger Rogério, Antônio Pitanga e Daniel Porpino, paraibano com carreira de prestígio no teatro e que tem no currículo séries como Cangaço Novo (cuja segunda temporada foi gravada, no ano passado, e pode estrear no fim deste ano) e o citado Desvio, de Arthur Lins.

Com ótimos diálogos e interpretações magistrais, o filme de Rassi (também em cartaz, no Centerplex) desconstrói o faroeste tradicional ao colocar em rota de colisão dois homens (Ângelo e Babu) que querem se matar (com a ajuda de Rogério e Porpino, respectivamente), mas antes precisam resolver suas masculinidades frágeis e tóxicas. Seco e visceral, é um filme com um tempo próprio, embalado por clássicos da música popular, como “Eu também sou sentimental”, de Nelson Ned, e “Espere um pouco, um pouquinho mais”, famosa na voz de Nilton César.

Na sexta-feira passada (4), entrou no catálogo do streaming Disney+ Maria e o Cangaço, minissérie em seis capítulos estrelada por Isis Valverde e Júlio Andrade, e com a presença de um elenco fino de atores e atrizes paraibanos, como o já citado Daniel Porpino, Zezita Matos, Soa Lira, Buda Lira, Joálisson Cunha, Osvaldo Travassos e Kassandra Brandão, além de Mariana Gondim, que faz Maria Bonita mais jovem.

A minissérie em seis capítulos (todos já disponíveis) também foi rodada na Paraíba (Cabaceiras, Lajedo do Pai Mateus) e Alagoas (Piranhas), embora a história se passe nos rincões da Bahia e Sergipe, sobretudo. É lá que se encontra o grupo de Lampião (Andrade) e Maria Bonita (Valverde). E, apesar de Lampião já ter rendido inúmeros filmes e séries, aqui a história do mítico anti-herói é vista pelo olhar da mulher, ou seja, o pilar do enredo não é tanto o Capitão Virgulino, mas Maria Bonita.

O diretor-geral da série, Sérgio Machado, revelou que a obra é inspirada no livro Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço, de Adriana Negreiros, que lhe foi entregue por Wagner Moura, que tinha interesse em integrar o projeto, mas abriu mão para se dedicar a produções internacionais.

Por esse ângulo, temas como o papel das mulheres no cangaço, gravidez e a luta para se impor frente o ambiente masculino e tóxico ganham enfoque na trama, que se passa entre as décadas de 1920 e 1930.

O enredo se concentra na perseguição de Silvério Batista (Rômulo Braga) ao grupo de Lampião. Cruel e sádico, o personagem de Braga é o responsável por Maria e o Cangaço não ser recomendado para menores de 18 anos.

Com uma força descomunal, Isis Valverde entrega os dilemas da primeira mulher a integrar o cangaço, ora frágil e exausta, ora valente e destemida. Some--se a isso a fotografia que reforça as belezas do nosso Sertão, a cargo de Adrian Teijido, que deixou a Paraíba ao fim das gravações e foi direto para o Rio de Janeiro trabalhar no que viria a ser o primeiro filme do cinema brasileiro a levar um Oscar, Ainda Estou Aqui.

E que mais ventos assim soprem e arejem as produções paraibanas, ou as rodadas aqui no estado.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 08 de abril de 2025.