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Parahyba FM completa dois anos

publicado: 23/12/2025 09h04, última modificação: 23/12/2025 09h04
Equipe Radio Parahyba Fm © Edson Matos.JPG

Em dois anos, a 103.9 FM levou ao ar cerca de 340 horas de um conteúdo cultural exclusivo | Foto: Edson Matos/Arquivo A União

por André Cananéa*

Na semana passada, a Parahyba FM completou dois anos no ar. Por volta das 11h14 da manhã do dia 18 de dezembro de 2023 — uma segunda-feira —, a irmã caçula da Tabajara FM entrava no ar ao som de Angry, dos Rolling Stones. A canção havia sido lançada dois meses antes, abrindo o repertório de Hackney Diamonds, primeiro disco de inéditas da banda inglesa em quase 20 anos.

Para não “brigar” com a audiência da Tabajara, sugeri que fizéssemos uma rádio completamente diferente da quase centenária emissora da EPC (Empresa Paraibana de Comunicação), cuja audiência estava consolidada em torno de clássicos da música brasileira e paraibana, sobretudo do século 20. Assim, faríamos a “rádio do século 21”, expressão que adotamos como slogan.

Com isso, a ideia que seguimos até hoje é simples e clara: tocar apenas gravações lançadas a partir de 1º de janeiro de 2001, quando o novo século efetivamente começou, valendo, contudo, versões de grandes clássicos do passado. Além disso, não nos restringimos à música brasileira e paraibana — que tocamos bastante, sobretudo artistas novos —, abrindo espaço também para a música internacional, incluindo o k-pop. É uma proposta ousada.

Por isso, estrear a frequência 103.9 com uma música nova dos Rolling Stones, para mim, gerente executivo da emissora, foi lançar mão de uma série de simbolismos. Entre eles, o fato de que, sim, tocaríamos artistas veteranos, mas sempre com material novo, criando no ouvinte uma nova memória afetiva, que só será plenamente sentida daqui a alguns anos. Além do mais, tratava-se de uma música internacional, um contraponto à programação da Tabajara.

Outro braço da Parahyba FM que considero ainda mais importante são os conteúdos produzidos pela equipe da PBFM ao longo desse período. Em dois anos, a 103.9 FM levou ao ar cerca de 340 horas de conteúdo exclusivo de arte e cultura. O ouvinte precisaria de mais de 14 dias ininterruptos para consumir todo esse material, sem sequer parar para um cochilo. É uma marca expressiva.

Esses 22.400 minutos de gravação estão divididos em sete programas, cinco deles exibidos regularmente na faixa das 18h: Pincel & Lápis (no qual artistas detalham seus processos criativos à luz das próprias obras); Um Livro, Uma Conversa (um diálogo entre dois escritores, especialistas ou leitores, a partir de um tema); Respeitável Público (atores, atrizes, dramaturgos e profissionais do teatro resgatam montagens encenadas na Paraíba); Ouça Um Filme (realizadores ou espectadores conversam com a equipe sobre obras cinematográficas); e História do Disco (álbuns lançados por artistas paraibanos ou radicados no estado, analisados faixa a faixa).

Esses programas vão ao ar de segunda a sexta-feira, levando informação e conhecimento ao ouvinte e, mais importante, após levado ao ar pelo dial, ficam disponíveis na chamada “podosfera”, isto é, nas principais plataformas de podcast. Trata-se de um resgate sistemático da memória artística do estado que poucos — entre eles este jornal A União — vêm realizando de forma tão contínua e abrangente.

Muito me orgulha, portanto, que a rádio da qual faço parte tenha registrado momentos históricos, como o encontro dos poetas Astier Basílio (radicado em Moscou) e Hildeberto Barbosa Filho para falar sobre poesia russa; Flávio Tavares detalhando aspectos inéditos de sua obra No Reinado do Sol; ou a banda Papangu — sensação internacional da nova música paraibana — analisando seus álbuns Holoceno (2021) e Lampião Rei (2024) ainda “quentes”. Todo esse material terá valor incomensurável para futuras pesquisas sobre a música paraibana, assim como sobre o teatro, a literatura, as artes visuais e o cinema.

Os outros dois programas — Negritons e E Com Vocês… — têm temporadas limitadas a 12 episódios. O primeiro, dedicado à arte e à cultura negra, já contou com duas temporadas conduzidas pela apresentadora Nice Lima, que realizou entrevistas marcantes com Thiago André (do podcast História Preta), a escritora Kiusam de Oliveira e os músicos Socorro Lira, Escurinho e Cannibal (vocalista da banda pernambucana Devotos).

Em E Com Vocês…, a vida e a obra de personalidades da cultura e das artes são exploradas a partir de uma playlist afetiva composta por cinco músicas. Conduzido por Alex Carvalho, apresentador do Parahybeats, que anima as tardes da 103.9, o programa teve, em sua primeira temporada, entrevistas especialmente reveladoras com nomes como Charles Gavin (Titãs), Ney Matogrosso, Sérgio de Castro Pinto, Fuba, Mike Deodato e Lucy Alves. A dinâmica permite que as conversas sigam caminhos inesperados, como quando Maria Valéria Rezende revelou sua paixão pela ópera.

Iniciei recentemente as gravações da segunda temporada de E Com Vocês…, que contará com novas personalidades ilustres, a serem apresentadas ao ouvinte da 103.9 a partir do início de 2026, juntamente com outras surpresas preparadas para que a Parahyba FM siga fazendo história — e contando histórias — ao longo dos próximos anos.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 23 de dezembro de 2025.