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Pinto do Acordeon em discos

publicado: 28/07/2020 08h33, última modificação: 28/07/2020 08h33
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tags: pinto do acordeon , andré cananéa , opinião , cultura


Há sete dias morria Pinto do Acordeon. De lá para cá, tenho ouvido alguns discos dele pelos serviços de streaming. Infelizmente, não há muitos dos álbuns que ele gravou em plataformas como Deezer, ou Spotify, principalmente os independentes, ou seja, os que ele lançou custeando a produção do próprio bolso, já que não estava sob contrato com gravadora. 

E por que eu destaco isso? Porque as gravadoras são uma ótima ponte para se chegar ao streaming de maneira oficial, com pagamento de direitos autorais etc. Afinal, as empresas do ramo negociam por acervo, tipo: Universal Music disponibiliza todo catálogo e lá estarão os discos lançados pela BMG, EMI, Capitol, Decca, Verve, Island etc. É nesse embalo que encontramos alguns – não todos – discos lançados  pelo músico paraibano.

Em quase 50 anos de carreira, Pinto do Acordeon gravou pouco. Somando LPs e CDs, talvez chegue a soma de 20 títulos. A boa fase da produção discográfica do artista está concentrada no final dos anos 1970 e os anos 1980. Após uma estreia tímida com Gosto da Bahia, lançado pelo selo Japoti ainda nos anos 1970 (sem data precisa), saiu, em 1978, Forró Cocota. 

Gravado no Recife, no lendário estúdio Rozenblit, Forró Cocota foi produzido por Fernando Borges e traz 12 canções autorais (ele ainda as assinava como Ferreira Pinto) e apenas uma parceria, com Walter (na contracapa não informa o sobrenome), em ‘Ilusão de Nortista’. Entre as faixas, destacam-se ‘Seringueiro’, ‘Fazenda Conceição’ e ‘As moças da Paraíba’.

Dois anos depois, saiu um de seus clássicos, também pela Rozenblit (via o selo Passarela), mas já produzido pelo próprio músico: As Filhas da Viúva. É o LP que traz ‘Toca sanfoneiro’, ‘Sou mais forró’ e ‘Tarde de domingo’.

Os três primeiros discos saíram pelo Passarela (que também lançou vários discos de frevo na época), mas em 1986 e 1987, Pinto do Acordeon lançou dois LPs (gravados no estúdio da EMI, no Rio de Janeiro) pelo selo carioca Jangada: Me Botando Pra Roer e Na Quentura Do Forró, respectivamente.

Pinto do Acordeon já era um nome consagrado quando foi contratado pela Polydor para lançar (pelo selo Polyfor) A Voz do Sertão (1989). É nele  que está o maior sucesso do forrozeiro paraibano, ‘Paixão de beata’, a famosa ‘Neném mulher’, que o levou a embalar o Brasil através da novela Tieta.

Produzido pelo maranhense Zé Américo Bastos (que faria arranjos para discos de Elba Ramalho e ganharia um Grammy Latino com o CD Iluminando Dominguinhos), A Voz do Sertão trazia a participação da própria Elba (na faixa ‘O amor que a gente faz’, outro grande hit de Pinto do Acordeon), uma parceria com com Otacílio Batista (‘O dólar e o cruzado’, exemplo da vertente sócio-econômica gravada por Pinto) e emplacava algumas canções não autorais, como ‘Quixeramobim’, de Gordurinha e João Grimaldi, e ‘Xandusinha’, do amigo Luiz Gonzaga em parceria com Humberto Teixeira.

Na sequência, Pinto do Acordeon lançou mais dois LPs antes de aderir aos lançamentos em CD: Eco Nordeste (1992) e O Rei do Forró Sou Eu (1994), ambos com repertório estritamente autoral.

A discografia em CD é a mais difusa. Como boa parte foi lançada de maneira independente, a catalogação desta fase ainda é imprecisa. Por exemplo: 20 Anos de Estrada, que deve ter saído na segunda metade dos anos 1990, tem edições lançadas tanto pela Natasha Records (criada em 1992 por Caetano Veloso e Paula Lavigne, cujo catálogo, hoje, pertence a Universal Music, herança da BMG), quanto de maneira independente, datada de 2006 – quando o músico já contabilizava, pelo menos, 30 anos de carreira, e não os 20 do título. É um disco importante, recheado de sucessos (‘Forró, vaquejada e mulher’, com participação de Alcymar Monteiro, ‘Neném mulher’ etc.) e uma versão empolgante de ‘São João em João Pessoa’, de Nando Cordel. 

Lançado em 2008, Vem Viver Essa Paixão mistura clássicos e material inédito. Desta segunda leva, destaca-se, de acordo com o biógrafo Onaldo Queiroga no livro Por Amor ao Forró (2015), ‘Vida boa aperreada’. A marcha junina, outro dos grandes sucessos de Pinto do Acordeon, frequentou o repertório do Clã Brasil de Lucy Alves e chegou a ser gravada por Flávio José antes do autor, no CD Pra Amar e Ser Feliz (2004). 

Criado em torno do compartilhamento de discos de forró por amantes do gênero de todo o país, o site Forró em Vinil (forroemvinil.com) procura preencher as lacunas deixadas pelos serviços de streaming, mas mesmo ele, tem suas próprias lacunas em relação à discografia de Pinto do Acordeon. Por outro lado, lá é possível baixar, em MP3, o primeiro – e raro – disco do artista.

*publicado originalmente na edição impressa de 28 de julho de 2020.