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Quem é você, Slash?

publicado: 19/03/2024 10h28, última modificação: 19/03/2024 10h28
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O guitarrista Slash apareceu de surpresa no Oscar, ao lado de Ryan Gosling | Foto: Ampas/Divulgação

por André Cananéa*

A internet veio abaixo, semana passada, quando um portal publicou um texto a respeito do guitarrista do Guns N’ Roses, Slash. A manchete: “Quem é Slash, o guitarrista que tocou com Ryan Gosling no Oscar 2024”. A matéria trazia um perfil do músico, justamente à luz da aparição surpresa dele na performance de Gosling na música do filme Barbie, que concorria ao Oscar de Melhor Canção.

“Quem é Slash? Como assim?”. Foi o que eu mais ouvi de amigos indignados, incrédulos de que alguém, na face da Terra, não pudesse saber quem é um dos grandes guitarristas de nossa geração.

Embora tenha uma carreira solo sem grandes repercussões, Slash é mais conhecido por integrar o Guns N’ Roses, banda de hard rock que ganhou o mundo a partir de seu disco de estreia, Appetite for Destruction, que emplacou sucessos como “Welcome to the jungle”, “Paradise city” e a balada “Sweet child o’ mine”.

No iniciozinho dos anos 1990, com um empurrãozão da MTV, o grupo norte-americano alcançou o estrelato com os dois álbuns Use Your Illusion, repleto de sucessos, entre baladas em alta rotação (“Don’t cry” e “November rain”) e um hit em O Exterminador do Futuro 2 (“You could be mine”), além de versões para Paul McCartney & Wings (“Live and let die”) e Bob Dylan (“Knockin’ on heaven’s door”).

Não precisei pesquisar isso no Google. Eu vivi essa ascensão do Guns de Slash, Axl Rose e cia., em tempo real, e escrevo o texto com a pilha dos quatro CDs do grupo que tenho na minha coleção - inclusive vi a banda, esfacelada, no Rock in Rio 2001 (apenas com Axl do time original), mas não me importei em ir ao Recife quando o grupo tocou por lá em setembro de 2022, com três integrantes da formação clássica.

Entendo a colocação da matéria que esclarece aos desavisados sobre aquele sujeito de cabeços desgrenhados e roupa preta em meio ao contexto pink, afinal a banda reinou nos anos 1990, mas perdeu força a partir dos anos 2000, com a derrocada da MTV e do apogeu do Spotify e similares, que deixaram o mundo mais pop, pulverizado e imediatista.

O Guns N’ Roses é uma banda velha, para velhos e saudosistas fãs. Não chega à garotada do TikTok. Não me espanta que alguém precise explicar quem é Slash num mundo em que, em meio a adolescentes, é difícil encontrar quem tenha ouvido Beatles, Rolling Stones, AC/DC… Dia desses, meu filho de 13 anos lamentou: “Meus colegas não sabem quem é Milton Nascimento”, e se apressou em dizer que, sim, eles ouviram falar, mas não foram atrás das canções que, além da excelência em música e letra, formam uma obra capaz de inspirar qualquer geração.

Pode parecer absurdo, e é mesmo, mas a Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) em diante, ao que me parece, não se interessa pelo que já passou, ignora os grandes que fizeram nossa música, nosso cinema, nosso teatro, nossa literatura, enfim, nossa arte, e esse conhecimento não é fundamental apenas para uma bagagem intelectual, mas para a vida, de modo geral.

Vivemos tempos de consumo rápido e imediato ditado pelas redes sociais, cuja indústria (musical, especificamente) já entendeu como elas funcionam e se vale disso para fazer a roda girar.

Não tenho dados aqui, de pronto, para comprovar esses pensamentos, mas tenho uma impressão muito forte sobre isso, do ponto de vista de quem acompanha o consumo de música e filme profissionalmente desde 1994 e que, olhando o futuro, não se esquece do passado. E nem me considero o saudosista que reclama que antigamente era melhor. Sou bem aberto às novas produções, mas, cá entre nós dois, eu e você, leitor, a garotada precisa de uma boa base para seguir em frente. Concorda?

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 19 de março de 2024.