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Refilmagens com algo a mais

publicado: 18/01/2022 08h00, última modificação: 18/01/2022 12h00
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por André Cananéa*

O experiente diretor Wes Craven vinha de uma longa tradição em filmes de horror (Quadrilha de SádicosA Hora do PesadeloA Criatura Atrás das Paredes etc.) quando, em 1996, ao lançar Pânico, sabia que, no mínimo, estava jogando nas telas uma nova lufada de originalidade ao brincar com as produções de serial killer, combinando um vilão caricato, metalinguagem e pitadas de humor. O resultado foi uma franquia de sucesso, com direito a uma elogiada refilmagem, lançada nos cinemas na semana passada.

Pânico 2022, desta vez dirigida por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, é algo que se tornou bastante comum na Hollywood dos últimos anos: a refilmagem com algo a mais, ou seja, o chamado reboot que evoca a história original, mas com algumas diferenças, muitas delas fazendo uma conexão nostálgica com o filme-matriz, num mix de continuação e homenagem.

Ainda não vi o novo Pânico, mas pelo que li, ele segue essa cartilha. No entanto, vi outros filmes fundados sobre essa mesma base: o Halloween de 2018; Ghostbusters: Mais Além e Matrix Resurrections, e – ouso dizer – também Homem-Aranha: Sem Volta para Casa – e vou explicar o porquê já já.

Dirigido por David Gordon Green, Halloween se conecta diretamente a Halloween: A Noite do Terror, que John Carpenter lançou em 1978, desprezando as sequências que surgiram entre ambos os filmes. Ele parte de dois podcasters que buscam recontar a história de Michael Myers ao procurar Laurie, personagem de Jamie Lee Curtis, 40 anos depois do fatídico e sanguinolento Halloween daqueles anos 1970. A personagem de Lee Curtis, claro, está 40 anos mais velha também e, basicamente, revivendo o primeiro filme com olhos revisionistas, Gordon Green conseguiu um ótimo resultado, do ponto de vista da crítica e do público.

Essa é a intenção desses reboots aditivados: não é só refilmar o enredo original – como tantas refilmagens levadas às telas ao longo das décadas –, mas recontar a história sob o outro prisma, na maioria das vezes, equilibrando dois eixos: atualizando o ambiente narrativo, de olho em uma nova audiência, ao mesmo tempo que resgata elementos originais, para o deleite do público mais velho.

Este é o caso de Ghostbusters: Mais Além, de Jason Reitman, filho de Ivan Reitman, diretor de Os Caça-Fantasmas (1984), filme que serve de base para esse novo longa. Ghostbusters parte de dois adolescentes que, numa pequena cidade rural do Meio-Oeste americano, se veem às voltas com entidades malignas querendo dominar o mundo. O antagonista dessa história é o mesmo Zuul que assombrou Nova York no filme de 1984, com direito a cachorros medonhos, uma variante do fantasminha camarada Geleia e até uma referência fanfarrona ao gigante de marshmallow. E, claro, o filme promove a bem colocada conexão nostálgica com o quarteto original de protagonistas. O resultado é fantástico, para ambos os públicos.

The Matrix Resurrections (assim como Ghostbusters, o título no Brasil manteve o original, em inglês) vai na mesma vibração. No quarto filme da franquia, Lana Wachowski, que codirigiu o primeiro com a irmã, Lilly, utiliza a metalinguagem para criticar o lançamento de um quarto filme (no enredo, um quarto jogo Matrix, feito pelo Mr. Anderson, ou Neo, ambos personagens de Keanu Reeves), refaz, sem um pingo de brilhantismo, as sequências icônicas do primeiro longa e salpica, a todo instante, imagens do Matrix original, em enredo preguiçoso, sequências de ação pífias e atuações sem inspiração. Um filme constrangedor, para dizer o mínimo.

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, ainda em cartaz nos cinemas, não é, a rigor, um reboot como os demais filmes citados aqui. Mas como fim de uma trilogia estrelada pelo ator Tom Holland, se utiliza da nostalgia para fisgar o público. A história é para lá de boba, as cenas de ação, anêmicas, e o investimento pesado é no encontro dos três “Aranhas” que levaram milhares de fãs do super-herói aos cinemas nos últimos 20 anos: Tobey Maguire, Andrew Garfield e Tom Holland, além de seus respectivos vilões, vividos pelos atores originais.

Essa receita garantiu à nova aventura do “Cabeça de Teia” feitos impressionantes (como ter se tornado a segunda maior bilheteria da história nos cinemas brasileiros), emocionando os fãs com frases de efeito e uma “tragédia” pessoal na vida de Peter Parker, alter ego do Homem-Aranha, além de se fartar no que o cinema de entretenimento chama de “fan service”, extremamente comum nos filmes baseados em personagens da Marvel, que é quando os realizadores trazem à tona referências das histórias em quadrinhos para a tela. Criou-se, com isso, um boca a boca de proporções épicas, impulsionado pelas redes sociais, que fez a garotada amar o filme. Mas, sinceramente, estou para ver um filme mais sem graça do que esse.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 18 de janeiro de 2022.