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Sepultura pela Paraíba

publicado: 09/07/2024 09h16, última modificação: 09/07/2024 09h16
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Sepultura tocará pela terceira vez na Paraíba no Centro de Convenções, este mês | Foto: Divulgação/ Imagineland

por André Cananéa*

Quando o grupo Sepultura subir ao palco que será armado no estacionamento do Centro de Convenções de João Pessoa, no próximo dia 27 de julho, será para apresentar um marco histórico na carreira do grupo, mas também no show business nordestino. Uma das mais importantes bandas de thrash metal do planeta passa pela cidade numa articulação do Imagineland para: a) se despedir do público, afinal a Paraíba entrou na rota da Celebrating Life through Death; b) inaugurar o projeto Music Arena, iniciativa do próprio Imagineland em parceria com a Universal Music Brasil e a GTS; e c) realizar o primeiro show na área externa do Centro de Convenções.

Será apenas a terceira vez do Sepultura na Paraíba. A trajetória do grupo que nasceu em Belo Horizonte (MG) em 1984 para ganhar o mundo – e cujo total de cópias vendidas dos 16 álbuns que lançou em 40 anos de carreira ultrapassa 20 milhões, feito que iguala o grupo brasileiro aos gigantes do gênero, como Slayer – tem passagens épicas pelo Nordeste.

A primeira vez do quarteto na Paraíba – os irmãos Max (voz, guitarra) e Igor Cavalera (bateria); Andreas Kisser (guitarra) e Paulo Xisto Jr (baixo) – data de 19 de março de 1988. Nesse dia, o grupo desembarcou em Campina Grande para um único show no extinto CEU, o Clube dos Estudantes Universitários. O cartaz, bem simples, com o nome Sepultura estilizado (como é praxe das bandas do estilo) no topo e uma foto em xerox dos integrantes logo abaixo, informava que além do Sepultura, a noite teria shows dos grupos locais Restos Mortais e Nephastus. E que os ingressos estavam à venda na ECS-Maluketii, loja de street wear bem conhecida na Rainha da Borborema.

Não mais que 500 headbangers testemunharam aquele momento histórico, que chegou a ser registrado até em livro. Em Sepultura: Toda a História (Editora 34, atualmente fora de catálogo), os autores André Barcinski e Silvio Gomes falam em “bizarrice” ao se referirem à apresentação e afirmam que fãs foram vestidos de múmia, padre e até de morte (“com foice e tudo”) para ver o grupo que vinha arrebatando público a bordo  do segundo LP, Schizophrenia (1987).

O livro também conta que Igor e um amigo, ao procurarem o camarim, foram parar no quarto do porteiro do CEU. “Foram atacados pelo velhinho, brandindo uma faca de manteiga: ‘Que camarim porra nenhuma, isso é meu quarto, suas pestes!’”, registraram Barcinski e Gomes. A obra só não menciona que ao invés de hotel, os integrantes do Sepultura ficaram hospedados na casa de um magistrado, afinal o filho dele, Gilberto Jr, ou “Gilbertão”, era do metal e integrava a Nephastus, que abriu o show.

Mas a apresentação em Campina Grande não foi a primeira passagem pelo Nordeste. Sepultura: Toda a História atesta que o primeiro show fora do eixo Minas-Rio-São Paulo aconteceu no ano anterior, em Caruaru (PE), para onde os integrantes foram de ônibus, uma viagem que consumiu 36 horas e alguns litros de Old Eight ao som de Venom, Slayer e Possessed.

Óliver Lawrence (ele mesmo, da Óliver Discos) não só estava no show de 30 de maio de 1987 no Teatro João Lyra, em Caruaru, como participou dele. Óliver integrava a banda pessoense Incubus, atração de abertura ao lado da recifense Sendero Luminoso, mas já conhecia os meninos Paulo Xisto e Andreas Kisser de antes. “Brutal Death Tapes era um catálogo de gravações que eu tinha e distribuía para o Brasil e para o mundo (numa espécie de mala direta pré-internet). Eu gravei muita fita para muita gente, inclusive para Paulo Xisto Jr. Acho que gravei para ele Exciter e Kiss, que eram as bandas preferidas dele”, recorda Óliver.

Óliver também lembra que o show já trazia músicas que seriam lançadas poucos meses depois, no citado Schizophrenia. “Eles tocaram ‘From the past comes the storms’, mas com outro nome, ‘The past reborns the storms’, porque ainda não dominavam tão bem o inglês, mas acabou registrada em demo tapes da época (e pode ser ouvida no YouTube)”, comenta.

A segunda apresentação do grupo na Paraíba só iria ocorrer 22 anos depois do show de Campina Grande, quando o Sepultura foi escalado como headline da primeira e única edição do Sun Rock Festival no Almeidão, em João Pessoa, e além do quarteto de thrash metal, tocaram Scorpions, Angra e o grupo Cachorro Grande, além de bandas locais. Na formação não estavam mais Max (substituído pelo norte-americano Derrick Green), nem Igor (a bateria era de Eloy Casagrande, hoje integrante de outra gigante do gênero, Slipknot).

Derrick, Andreas e Paulo estarão novamente em breve em João Pessoa, desta vez acompanhados de outro norte-americano, o novaiorquino Greyson Nekrutman, que assumiu as baquetas com a saída recente de Casagrande. Além do show, o quarteto participa de um painel exclusivo, onde irá repassar os 40 anos de trajetória, além de encontrar pessoalmente os fãs em sessões de fotos. Para mais informações, consultar www.imagineland.com.br.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 09 de julho de 2024.