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Sessão nostalgia

publicado: 22/09/2020 00h03, última modificação: 22/09/2020 09h24
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- Foto: Foto: Arquivo Jornal A União

tags: cinema , plaza , municipal , tubarão , spielberg

 

A foto que você vê nesta página saiu dos arquivos do jornal A União. Infelizmente, não há o autor da imagem nem a data de quando ela foi feita. Tudo que sabemos está nela: uma multidão, em frente ao extinto Cine Plaza, toma parte da avenida Visconde de Pelotas para assistir a Tubarão, um dos títulos mais importantes da filmografia do diretor Steven Spielberg, lançado originalmente nos EUA em 20 de junho de 1975 e, no Brasil, no natal daquele ano. 

Recorri, então, à Ivan Cineminha e seu infalível caderninho, onde há o registro de todas as milhares de sessões em que esteve nos cinemas de João Pessoa. “Assisti esse filme no dia 26 de dezembro de 1975 no Plaza, acredito que um dia depois da estreia”, cravou, acrescentando que Tubarão teve uma lançamento nacional que incluiu João Pessoa no roteiro, algo raro para a época. O comum era estrear primeiro em Recife (PE) e, só depois, chegar à Paraíba.

Dando uma pesquisada rápida, descobri que Jaws (o título original, em inglês) atraiu cerca de 13 milhões de pessoas aos cinemas brasileiros. Feito que se manteve até 1997, quando o recorde foi quebrado pelo arrasa-quarteirão Titanic, de James Cameron, com 16 milhões de espectadores no Brasil, segundo uma nota na Folha de S.Paulo de 23 de dezembro de 1998.

Semana passada, recebi essa foto da nossa sempre prestativa arquivista Ana Flor e, por ser fã do filme, postei em minhas redes sociais. Para minha surpresa, o filme de Spielberg bateu um novo recorde: se tornou a foto mais curtida, comentada e compartilhada que eu postei, estrapolando os limites do Instagram para chegar aos grupos de WhatsApp, dos que reúnem cinéfilos até o do condomínio, com vizinhos, admirados, compartilhando a imagem.

O feito me fez refletir sobre a nostalgia que as redes sociais, se não criaram, ao menos potencializaram. Sim, afinal nostalgia está no nosso sangue e estampada em velhos álbuns. Cresci em uma família que preserva, até hoje, vários álbuns com fotos antigas, de modo que, olhar para trás, sempre foi uma das nossas diversões.

Mas não só nossa. As redes sociais provam que faz parte de todo mundo: observo que os usuários mais mais velhos gostam de postar, comentar e compartilhar lembranças que não voltam mais; os mais novos, de “curtir” e compartilhá-las, com a curiosidade de repartir um tempo que eles não viveram. Essas foram as impressões que colhi da postagem que fiz e que você pode acessar através do QR Code ao final desta coluna.

A imagem, claro, atraiu antigos cinéfilos que se expressaram em postagens recheadas de nostalgia. Como frequentador do Plaza, onde devo ter visto mais de uma dezena de filmes estrelados pelos Trapalhões, e do Municipal, cujas exibições acompanhei até o fim das atividades da sala, também vejo imagens como essa com os olhos marejados de lembrança.

Cinemas como Municipal, Plaza, Glória, Rex, Santo Antônio etc., os chamados “cinemas de rua”, com sua arquitetura única, seus foyes exclusivos, suas poltronas características que distinguiam uns dos outros, estão cravados na memória afetiva de quem os frequentava, bastante diferente das gerações posteriores, que só alcançaram os “multiplex de shopping”, padronizados em todo o país a partir de uma receita internacional. O Plaza é o Plaza até hoje aos olhos de quem o frequentou, afinal sua característica arquitetônica permanece intacta, embora hoje sirva a uma loja de sapatos.

Daqui de onde estou, observo que quanto mais o mundo avança para uma sociedade ultraconectada, repleta de gadgets, como celulares que são verdadeiros canivetes suíços tecnológicos, ou televisores que “conversam” e interagem com o espectador, mais retornamos ao básico. LPs e até os velhos VHS parecem ganhar espaço entre jovens que assistem filmes no Netflix e ouvem música pelo Spotify. Mas ao contrário destes aplicativos frios e impessoais – por mais pessoais que queiram ser – é a velha fita K7 que realmente tem algo mais a dizer. Afinal, tem as marcas de uma missão heroica. Tem alma.

*coluna publicada originalmente na edição impressa de 22 de setembro de 2020.