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Com 50 anos de carreira, Spielberg segue na ativa com a marca de um cinema diversificado

Steven Spielberg chega aos 75 sem ficar velho

publicado: 14/12/2021 11h27, última modificação: 14/12/2021 11h27
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Foto: Divulgação

por André Cananéa*

Como muitos cineastas, Steven Spielberg cresceu sonhando em ser diretor de cinema. Corriam os anos 1950 quando o então adolescente Steven Allan Spielberg, um judeu ortodoxo, nerd e fã de pulp fictions (não o filme, que ainda não havia sido rodado, mas as populares revistas de antigamente) de ação e ficção científica, até arriscou fazer algumas produtoras amadoras utilizando a câmera do pai.

Mas esse sonho quase foi interrompido em 1962, quando, aos 16 anos, ele entrou pela primeira vez em um cinema para assistir ao épico Lawrence da Arábia, de David Lean, uma projeção em 70mm com som estereofônico, tecnologia de ponta, na época. “Quando o filme terminou, eu não queria mais ser diretor, porque eu não poderia fazer algo melhor”, confidenciou, anos depois, o já consagrado Spielberg.

Após rever o filme algumas vezes, a obra-prima de Lean acabou por morder Spielberg com o doce veneno da Sétima Arte. Os planos que até hoje impressionam e as ideias cinematográficas, como a que o diretor dá ao personagem título (vivido por Peter O’Toole), contectando a vaidade do oficial inglês refletida em uma adaga com sua derrota, ferido pelos turcos, fizeram o jovem Steven entender o que, de fato, é a Sétima Arte. “Cheguei a conclusão que eu queria fazer aquilo, ou, ao menos, morrer tentando”, declarou em 2017.

Steven Spielberg completa, no próximo sábado (dia 18), 75 anos de vida. Não parece ser um quase octogenário, do ponto de vista de sua arte. Parece o mesmo diretor de Tubarão (1975), de Os Caçadores da Arca Perdida (1981) e de E.T.: O Extraterrestre (1982), três dos mais celebrados filmes do cineasta norte-americano, que, assim como seu diretor, não envelheceram um dia sequer.

Com 50 anos de carreira no cinema (contados a partir do impressionante Encurralado, lançado em 1971), Spielberg segue na ativa, trabalhando em um novo filme, The Fabelmans (ainda sem título no Brasil), baseado em sua própria infância, e previsto para estrear em 2022. Enquanto isso, os cinemas daqui exibem sua releitura para o clássico musical Amor, Sublime Amor, seu sétimo longa-metragem em apenas 10 anos.

Sete filmes em dez anos – 2011 a 2021 – dão a tônica do ritmo de trabalho do diretor. Ok, o período não rendeu títulos tão marcantes quanto sua produção entre 1983 e 1993, por exemplo. Aquele intervalo reúne obras como Cavalo de Guerra (2011), Lincoln (2012), Ponte dos Espiões (2015) – que é o meu favorito do período – O Bom Gigante Amigo (2016), The Post: A Guerra Secreta (2017) e Jogador Nº 1 (2018). Curioso notar a variedade de temas, com obras que miram da garotada dos 8 e 18 anos aos vovôs contemporâneos do diretor.

No outro grupo estão Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984), A Cor Púrpura (1985), Império do Sol (19867), Indiana Jones e a Última Cruzada (1989) e termina com O Parque dos Dinossauros e o premiadíssimo A Lista de Schindler (ambos de 1993). E aí fica difícil escolher o melhor (em tempo: nesse período, ele também dirigiu dois filmes menores, Além da Eternidade, de 1989, e Hook, a Volta do Capitão Gancho, de 1991).

A esta altura, o leitor sabe que a marca do cinema diversificado de Spielberg é o de contar uma boa e acessível história para um público bastante variado. Nisso ele é mestre. Na extensa filmografia do diretor, há aventura, ficção científica (e além de E.T., cabe lembrar, também, Contatos Imediatos do Terceiro Grau, de 1977, filme que sucedeu o aclamado TubarãoMinority Report: A Nova Lei, de 2002, e a refilmagem de Guerra dos Mundos, em 2005, entre outros menos cotados) e dramas, sobretudo baseados em fatos ou personagens reais, como é o caso dos citados A Lista de Schindler e Lincoln, e ainda Prenda-me se For Capaz (2002) e Munique (2005), além de guerra, como Império do Sol e O Resgate do Soldado Ryan (1998).

Eu poderia fechar esta página inteira falando só sobre os filmes que Steven Spielberg dirigiu, mas há uma outra filmografia dele… eu não diria pouco falada, mas pouco creditada a ele. Enquanto produtor – aquele sujeito que financia o filme, até “interfere”, digamos assim, na produção, mas não está lá, no set, por trás das câmeras, papel que cabe ao diretor – Spielberg bancou longa-metragens incríveis!

É atribuída ao cineasta a produção de nada menos que 180 filmes. Eis alguns deles: Febre de Juventude (1977), inspirado na beatlemania; o terror Poltergeist: O Fenômeno (1982) – note que ele próprio não dirigiu nenhum filme do gênero –; Os Goonies (1985); Cabo do Medo (1991), embora não creditado (o filme foi dirigido por Martin Scorsese), além da trilogia De Volta para o Futuro, a franquia Transformers e até mesmo os três filmes Gremlins – o terceiro, em fase de pré-produção.

Há ainda uma contribuição extraordinária em seriados – muitas das quais, premiadíssimas e ancoradas em fatos históricos, sobretudo de guerras –, um pilar que renderia mais páginas de jornal, mas o volume de produção de Spielberg não se mede por números, mas por momentos de pura emoção e entretenimento da melhor qualidade, que seguem a encantar e, quem sabe, inspirar novos cineastas em todo o mundo.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 14 de dezembro de 2021