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Streaming se rende aos clássicos

publicado: 28/04/2020 11h21, última modificação: 28/04/2020 11h21
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Filme 'Psicose' (1960), de Alfred Hitchcock, é um dos títulos disponíveis em plataformas de streaming

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Em um passado recente, cinéfilos, estudiosos de cinema e até diretores e atores manifestaram uma tremenda preocupação com os serviços de streaming: eles estariam ignorando os grandes clássicos! É fato! Minutos antes de começar a escrever estas mal-traçadas linhas, fiz uma busca por Alfred Hitchcock no catálogo da Netflix Brasil. Não há, hoje, um único filme do grande mestre do cinema, embora pessoas próximas tenham jurado, de pés juntos, que viram Psicose (1960) por lá em algum lugar do passado. Se já esteve, não está mais.

E embora não haja nada de Hitchcock por lá atualmente, o serviço me oferece obras de Orson Welles (O Estranho, de 1946), Fred Zinnemann (Matar ou Morrer, 1952), George Stevens (Os Brutos Também Amam, 1953)  e Dennis Hopper (Sem Destino, 1969). E para por aí. Afinal, o foco da Netflix se divide entre blockbusters contemporâneos, dramas e documentários originais e conteúdo teen. A aba “clássicos” do serviço se resume a poucos títulos de não mais de 45 anos de idade, cujo carro-chefe são filmes de Steven Spielberg, Tubarão (1975) e Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977).

Mas para meu espanto (e alegria), o perfil tem mudado no streaming. A começar pela própria Netflix, cuja matriz, nos EUA, anunciou uma parceria com a distribuidora MK2, agregando ao catálogo obras de Charlie Chaplin, François Truffaut, Jacques Demy, Alain Resnais e Krzysztof Kieślowski, entre outros. Domingo passado, os títulos começaram a chegar ao catálogo dos países de língua francesa, mas ainda não há previsão de entrar na Netflix Brasil.

Filmes de Chaplin e Truffaut não são corpos estranhos no aplicativo do Telecine, por exemplo. Muito provavelmente em função do Telecine Cult, no app é fácil encontrar, atualmente, os curtas de Chaplin e Domicílio Conjugal (1970) e Amor em Fuga (1979), de Truffaut, entre dezenas de clássicos fundamentais da história do cinema.

Vi por lá O Sétimo Selo (1957), de Bergman, 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1968), de Kubrick, Blow-Up: Depois Daquele Beijo (1966), de Antonioni, Três Homens em Conflito (1966), de Leone, Crepúsculo dos Deuses (1950), de Wilder, e nada menos que seis filmes de Fellini, como Noites de Cabíria (1957), A Doce Vida (1960) e 8 e ½ (1963).

Ah, e tem sete filmes de Hitchcock, entre eles Ladrão de Casaca (1955), Os Pássaros (1963), Trama Macabra (1976)  e… Psicose!

Me surpreendeu, nesta quarentena, a injeção de clássicos que o Prime Vídeo da Amazon recebeu. O menu não é de clássicos vultosos, mundialmente reconhecidos, mas de pequenas pérolas do terror e do faroeste (italiano, ainda por cima). Há, por exemplo, do cultado Suspiria (1977), de Dario Argento, aos bang-bang espaguete Requiem Para Matar (1967), de Carlo Lizzani, Um Homem, Um Cavalo, Uma Pistola (1966), de Luigi Vanzi, e Os Quatro da Ave Maria (1968), de Giuseppe Colizzi, estrelado por Eli Wallach (Três Homens em Conflito) e Bud Spencer (que na sequência faria uma série de filmes muito populares com Terence Hill).

Aliás é no terror que o Prime parece investir bastante. As cine-séries Sexta-Feira 13 e Halloween estão lá de clássicos obrigatórios como O Bebê de Rosemary (1968, entre outros filmes de Polanski), A Bruxa de Blair (1999) e o cult Donnie Darko (2001), além de uma farto cardápio dos chamados filmes slasher (tipo esses do Jason).

Mas há westerns também da terra de Tio Sam, como o celebrado O Último Pistoleiro (1976), de Don Siegel, estrelado por John Wayne e Lauren Bacall. Wayne, aliás, também comparece com McLintock! (lançado em 1963, no Brasil recebeu o título de Quando um Homem é Homem). E o catálogo tem até uma versão remasterizada de Jovens Pistoleiros, filme de 1988 estrelado Emilio Estevez, Charlie Sheen e Kiefer Sutherland.

Além da obrigatória trilogia O Poderoso Chefão (1972-1990), também vi pelo Prime vários filmes de Bruce Lee, como a trilogia O Dragão Chinês (1971), A Fúria do Dragão (1972) e O Voo do Dragão (1972), além de Jogo da Morte, tanto o primeiro, quanto o segundo, e vários filmes de ação e artes marciais dos anos 1980.

Portanto, nesta quarentena, só fica entediado quem quer. Nos catálogos dos serviços de streaming há um vasto universo de filmes esperando serem (re)descobertos. #fiqueemcasa e veja um bom filme!

*publicado originalmente na edição impressa de 28 de abril de 2020.