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Sun Rock 10 anos: a aventura que trouxe o Scorpions para JP

publicado: 08/09/2020 00h03, última modificação: 15/09/2020 14h13
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tags: SCORPIONS , SUN ROCK FESTIVAL , CANANÉA , ANDRÉ CANANÉA

 

Meninos e meninas, eu não apenas vi, mas também participei do maior evento de rock da história da Paraíba, o Sun Rock Festival, evento que prometia, enfim, colocar João Pessoa na rota dos grandes shows internacionais. Realizado há 10 anos - nos dias 11 e 12 de setembro de 2010, exatamente - foi o primeiro do gênero (e até agora, único) no maior estádio de futebol do Estado, o Almeidão, reunindo uma constelação de bandas, que começava pelos grupos locais, como a lendária Shock, até a venerada banda alemã Scorpions, um dos pilares da história do heavy-metal.

Mas o que era para ser o piloto de uma série de shows, se transformou numa grande aventura e quem cantou, a plenos pulmões, hits como ‘Wind of change’ e ‘Big city night’, não sabe o esforço hercúleo empreendido pela produção para fazer o Sun Rock acontecer. Nos bastidores, contratempos, orçamentos estourados e um certo amadorismo colocavam, a cada minuto, o evento em risco. 

Eu estava lá, coordenando a equipe de imprensa e divulgação do festival, um desafio enorme e um orgulho muito grande de ter feito parte dessa história ao lado de outros tantos guerreiros, como Elton Oliveira, João Paulo Sette e Fuba.

Dez das melhores bandas de rock foram escaladas para o evento, cinco para cada dia. No primeiro, um sábado, abririam a noite, pela ordem, Shock, Unidade Móvel e Sonzera Band (RN). Em seguida, o público veria Cachorro Grande (RS) e Scorpions (Alemanha). No domingo, haveria a local Children of The Beast, Terra Prima (PE), Matanza (RJ), Angra (RJ) e a banda mineira mais internacional do país, Sepultura.

A estrutura era de primeira: equipamento de áudio e vídeo de ponta, piso especial para não prejudicar a grama do estádio (desses que você só vê em shows do U2 no Morumbi, em São Paulo) e a produção ainda patrocinou vários reparos no combalido Almeidão de 2010. Tudo isso para atrair um público não só local, mas de praticamente todo o Nordeste, afinal o cardápio de atrações era ótimo e alegava-se que essa seria a turnê de despedida do Scorpions, com um único show na região, justamente aqui (o outro seria só em São Luís, estrategicamente voltado ao público do Norte).

No papel, era lindo. Na prática, o festival era muito maior do que a produção havia mensurado. Arranjos de última hora desprenderam muita energia e toneladas de dinheiro. O Scorpions era uma atração premium internacional, o que exigia tudo do bom e do melhor, a partir de cinco carros de luxo para os integrantes se deslocarem, automóveis que precisaram vir de Recife, porque o mercado aqui ainda não os possuía.

Mas mesmo com tudo amarrado, os contratempos não deixaram de surgir. Começou com o voo de que traria a banda para cá. Não lembro agora o motivo que fez com que o grupo não conseguisse embarcar em uma avião de carreira, e foi necessário que a produção fretasse uma aeronave particular para trazer banda e equipe da Venezuela para João Pessoa, aeronave que desembarcou na madrugada do dia 10 de setembro no Castro Pinto. Frete de um voo internacional, o leitor sabe, não é barato…

Particularmente, senti o estômago revirar quando, ao chegar em João Pessoa, o crew do Scorpions rejeitou o charmoso Hardman Praia Hotel, que havia passado por uma bela reforma e foi completamente fechado para o grupo alemão. Preferiram o Hotel Tambaú, cuja estrutura há muito tempo havia deixado o passado de glória para trás, e por mais que produção do festival alertasse que, na troca, a banda sairia em desvantagem, assim foi feita a reserva de última hora para a banda e seu staff - e uma cena se instalou na memória de João Pessoa: o vocalista Klaus Meine passeando sossegadamente na praia de Tambaú, flagrante exclusivo da TV Cabo Branco.

Os shows também tiveram lá seus contratempos. Um atraso nos ajustes para a apresentação do Scorpions alteraram a agenda do sábado, fazendo os shows de Shock e Unidade Móvel serem transferidos para o dia seguinte. Os ajustes também irritaram a turma do Cachorro Grande, que não poupou xingamentos ao Scorpions quando subiram ao palco. 

Mas tudo isso não impediu que os alemãs fizessem um grande show, com quase duas horas, para 18 mil pessoas. No repertório, praticamente todos os hits: “Banda alemã tem tantos sucessos que nem precisou tocar a balada ‘Still Loving You’ no show em João Pessoa”, registrou o jornal Folha de SP, através da cobertura do repórter Thales de Menezes, que escreveu: “João Pessoa foi sacudida por um festival com grandes nomes, ótimo som, telões impecáveis e uma audiência que lavou a alma diante de ídolos antes inalcançáveis”. O domingo pode não ter tido, numericamente, o mesmo público que o sábado, mas quem esteve lá também se fartou com as grandes performances de Angra e Sepultura.

*coluna publicada originalmente na edição impressa de 08 de setembro de 2020.