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Um mundo de aventuras

publicado: 31/05/2022 09h03, última modificação: 31/05/2022 09h03
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Foto: Divulgação

por André Cananéa

Com Indiana Jones 5 batendo à porta (previsto para estrear no ano que vem, com Harrison Ford de volta ao papel do aventureiro, mas sem Steven Spielberg na direção ou George Lucas nos argumentos), pululam histórias envolvendo expedições ao redor do mundo, grandes perigos e tesouros jamais imaginados. Sou fã desse tipo de filme, que como o próprio Spielberg já confessou, a respeito de seu famoso arqueólogo, tem sua origem nas revistas pulp ali do final do século 19, início do século 20.

Desde os anos 1980, não via chegar às telas um número tão considerável de filmes desse tipo. Embora Z: A Cidade Perdida pareça um exemplar solitário no já longínquo ano de 2016, é a partir do ano passado que o bicho pega com a estreia de Alerta Vermelho na Netflix, filme estrelado por Dwayne “The Rock” Johnson, Ryan Reynolds e Gal Gadot, com bastante ação e muito humor.

A história gira em torno de um refinado larápio (Reynolds) que procura os três ovos de ouro que Cleópatra teria ganhado do marido Marco Antônio no dia do casamento (premissa pra lá de ficcional). No encalço do ladrão estão um agente do FBI (The Rock) e um misterioso “Bispo” (Gadot). Nessa caçada de gato-e-rato, há todo tipo de aventura ao redor do mundo, com boas sequências numa floresta da América do Sul, em um castelo na Itália e até numa masmorra secular (todos construídos em estúdio).

Nessa pegada, seguiram-se três produções lançadas este ano: Cidade Perdida, Uncharted - Fora do Mapa e a minissérie Cavaleiro da Lua, da Marvel, o melhor dos três títulos.

Estrelada por Sandra Bullock, Channing Tatum e o eterno Harry Potter Daniel Radcliffe (com uma breve participação Brad Pitt), Cidade Perdida é bastante genérico, a começar pelo título. Narra a história de uma reclusa romancista que acaba por viver uma aventura típica de suas histórias pulp ao lado do modelo que ilustra a capa de seus livros, quando ela é sequestrada por um vilão (Radcliffe, exageradamente caricato) que tem certeza que a escritora sabe a localização de um tesouro escondido.

Sim, história parecida você já viu lá nos anos 1980, no superior Tudo por uma Esmeralda (1984), estrelado por Michael Douglas e Kathleen Turner (que repetiram a dose na sequência A Joia do Nilo, lançada no ano seguinte). Reza a lenda que o personagem de Brad Pitt, Jack Trainer, é uma referência ao filme de 1984, já que une o nome do personagem de Douglas (Jack) ao sobrenome da esposa de Robert Zemeckis (diretor do longa), chamada Mary Ellen Trainor. E quando a rápida participação de Pitt é a melhor coisa do filme, então já viu, né?

Uncharted - Fora do Mapa é a adaptação cinematográfica do conhecido jogo para Playstation, que já deu origem a quatro títulos, e se você esquecer a comparação com os games poderá até achar graça na aventura que envolve dois caçadores de relíquias, o “Homem-Aranha” Tom Holland e Mark Wahlberg, em busca de um tesouro deixado pelo navegador português Fernão de Magalhães (premissa que tem um pé na realidade). Por outro lado, um milionário espanhol (Antonio Banderas) também busca o mesmo tesouro, numa corrida pelo prêmio que envolve algumas charadas (tal qual o jogo).

Embora o diretor Ruben Fleischer não consiga imprimir o mesmo ritmo de diversão de dois dos seus filmes, Zumbilândia e Zumbilândia: Atire Duas Vezes, Uncharted, apesar dos pesares, Uncharted é aquela Sessão da Tarde boazinha, que impressiona para valer apenas no último ato, com uma batalha entre navios antigos suspensos no ar através de helicópteros.

Cavaleiro da Lua, do Disney Plus, é, disparado, o melhor dos três. Baseado em um obscuro super-herói da Marvel, mostra a história de um mero balconista de souvenir de museu (vivido com maestria por Oscar Isaac) que parece sofrer de uma dupla personalidade (dividindo-a com um combativo mercenário), um distúrbio que o fará se envolver com deuses egípcios e uma aventura pelo Egito.

Aqui, sim, uma produção empolgante, envolvendo história antiga e muita (boa) ação. E se peca, peca pelo final, que busca, a todo instante, surpreender o espectador com o tal plot twist (ou “virada surpreendente de roteiro”), o que não funciona muito bem, leva a trama para o poço da pieguice e, como diz um certo youtuber, passa a apelar para a tal “fada da conveniência” para remendar a história, que a essa altura, já desceu alguns degraus. Mesmo assim, Cavaleiro da Lua vale muito o seu tempo.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 31 de maio de 2022