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Videolocadoras de João Pessoa (parte 2)

publicado: 06/06/2023 10h28, última modificação: 06/06/2023 14h11
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Vídeo Store integrava a Rede Filmes, com intuito de fortalecer as locadoras na capital - Foto: Fabiano Nóbrega/Acervo Pessoal

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por André Cananéa*

Semana passada, na edição de 30 de maio, A União publicou a primeira parte deste texto nostálgico sobre minha relação com as videolocadoras da cidade. Não sabia eu, quando comecei a escrever, que teria tanto material que não caberia de uma só vez neste espaço, que ocupo desde 2019. E muita coisa ficou de fora, afinal, como eu disse na semana passada, as videolocadoras, do seu início ao fim, responderam por uma parte significativa da minha vida.

Parei no momento em que falava da Love Vídeo e da minha “migração” para as locadoras da praia. A Love ficava no Centro de João Pessoa, precisamente no Parque Center, da avenida Princesa Isabel, margeada, por um lado, pela lateral do Edifício Caricé, e pelo outro, pelo INSS. Era uma sala pequena, e minha lembrança registra que havia fitas do chão ao teto, muitos títulos que não se encontravam em outros lugares.

Logo a Love ficou pequena, tanto para a quantidade de filmes, como para o número de clientes, e se mudou para um espaço maior, o casarão de primeiro andar no encontro das avenidas Parque Sólon de Lucena e Almirante Barroso, em frente, à época, a Lojas Americanas da Lagoa (mais tarde Hiper Bompreço e, hoje, Carrefour). Era a famosa “Casa Rosada”, afinal era toda rosa e chamava a atenção de quem passava por ali.

A popularidade da Love vinha da força do marketing que o querido amigo publicitário Alberto Arcela imprimia sobre a locadora. Em um texto que publicou recentemente no WSCom, justamente após lembrarmos da Love em uma ligação que fiz para ele, Arcela credita ao apoio da TV Cabo Branco a impulsão de clientes e das subsequentes locações. Lá também reafirmou nossa conversa sobre as campanhas da Love, cujos VTs eram editados na Chroma Vídeo, misturando imagens da locadora com cenas de filmes famosos. “A proposta caiu nas graças do público, mas também incomodou a Igreja e as produtoras de cinema que viam nos filmes uma violação dos direitos do uso de imagem”, escreveu Arcela.

Em meados dos anos 1990, a Love ganhou uma filial no Bessa, na avenida Argemiro de Figueiredo, em um posto de gasolina (que foi demolido) em frente onde hoje está o Golfinho Restaurante. O mercado de locação de filmes era tão quente que muitas videolocadoras tinham filiais espalhadas pela cidade. A Ribalta mesmo, outra locadora da minha rota (a da Esquina 200, em Tambaú), se não me falha a memória, chegou a ter sete filiais em João Pessoa. A Love do Bessa, entretanto, tinha uma particularidade: funcionava 24 horas. Morando em Intermares, era comum eu sair das baladas em Tambaú e passar por ali para alugar um ou dois filmes em plena madrugada.

Acredito que o mercado local de videolocadoras tenha ido de 1981, quando surgiu o Videoclube da Cidade (mais tarde, Center Vídeo), até 2015, quando a Video Store fechou suas portas. Aqui há uma divergência. Para muitos, a Video Store era a última no modelo de negócios de locação, mas ainda ficou de pé, depois dela, a Kauai do lendário Vianei (morto em outubro de 2017), na citada Esquina 200, mas praticamente produzindo cópias dos filmes para uma clientela bastante específica.

A Vídeo Store, que teve início em 1997, abrigada em um posto de gasolina no Retão de Manaíra (demolido por volta de 2017 para dar lugar ao Liv Mall), chegou a ter filial no Bessa, onde viveria seus últimos dias. Ela integrou a Associação Rede Filmes. Criada em 1998, a Rede Filmes agregou dez videolocadoras e nunca teve um fim formal. “As locadoras foram fechando e, consequentemente, deixando a associação”, comentou Fabiano Nóbrega, proprietário da Vídeo Store.

Eternal, Quality, Master (que também tinha loja em Bayeux), Premiere, Ribalta, R&P, Tela Vídeo, Top Vídeo, Vídeo Magia e a citada Vídeo Store integravam a Rede Filmes, criada com o intuito de fortalecer as lojas com capacitação, marketing e, sobretudo, barganhar melhores preços junto aos revendedores de filmes, afinal, comprando em quantidade, atendia a exigência do pedido mínimo praticado pelas empresas e distribuía o filme de acordo com a necessidade de cada loja.

A Rede Filmes, inclusive, foi à luta quando a pirataria começou a tomar conta das ruas de João Pessoa. Perdendo espaço para os “piratas”, que pululavam em cada esquina vendendo DVDs ilegais (e de qualidade duvidosa) por até menos de um terço do valor da locação, integrantes da associação foram às ruas, à Câmara de Dirigentes Lojistas e até a Assembleia Legislativa pedirem fiscalização e providências para conter a concorrência desleal.

Infelizmente, a pirataria das ruas, o download ilegal de filmes e, por fim, a concorrência das plataformas de streaming, como Netflix, destruíram o mercado de locação de filmes, mas mais do que isso: exterminaram a cultura da videolocadora, uma comunidade viva e pulsante, de troca de experiências, dicas de filme e, sobretudo, a disseminação de conhecimento cinematográfico que as plataformas não fornecem. E os tempos atuais parecem não ter interesse.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 6 de junho de 2023.