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Você já foi ao metaverso?

publicado: 26/10/2021 08h00, última modificação: 26/10/2021 08h32
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por André Cananéa*

Desde que a internet chegou em nossas casas e abriu milhares de portas e janelas, centenas de empresas têm se esforçado para criar serviços que sejam úteis ao nosso dia a dia. Basta lembrar que o Google surgiu como um eficiente sistema de buscas de sites, o Facebook tinha o (nobre?) propósito de conectar pessoas e a Amazon foi criada, inicialmente, para vender absolutamente todos os livros em catálogo nos Estados Unidos.

De lá para cá – coisa de 30 anos, apenas – nos acostumamos a conversar e até fechar negócios pelo WhatsApp, ver e compartilhar vídeos no YouTube, dificilmente saímos de carro sem o Waze, ou o Maps do Google, a pandemia nos levou a pedir cada vez mais comida pelo iFood e conheço poucas pessoas, hoje, que prefiram chamar um táxi na rua a pedir uma carona pelo Uber, através do celular.

Puxei toda essa historicidade para falar sobre um novo projeto que promete levar as relações interpessoais no campo virtual para outro patamar: o Metaverso. Empresas como Facebook (dona da rede social homônima, do WhatsApp e do Instagram) e Epic Games (que criou o jogo Fortnite, um retumbante sucesso entre a garotada) têm investido milhares de dólares na iniciativa.

Trocando em miúdos, o projeto consiste em criar um universo virtual 3D de imersão total. Assim, munido de um óculos de realidade virtual, você, leitor, pode, por exemplo, participar de reuniões, eventos, festas, shows e praticamente tudo que se faz na “vida real”, só que reclinado no sofá da sala, deixando-se guiar por seu “avatar” (sua representação virtual nesse ambiente).

A Facebook, por exemplo, afirma que está testando esse modelo há alguns meses, com muito sucesso. A empresa mira no mundo corporativo, para isso tem feito reuniões no modelo virtual com seus colaboradores em home office. Nessas reuniões virtuais, funcionários interagem tridimensionalmente, podem apresentar e editar documentos, escrever, gravar dados etc. Seria um modelo para substituir as atuais reuniões por Zoom e aplicativos similares, que utilizam chamadas de vídeo para conectar pessoas.

A ideia não é a nova. Foi bastante explorada em livros e filmes – se você já assistiu a O Vingador do Futuro, estrelado por Arnold Schwarzenegger, o celebrado Matrix e até o clássico da Disney, Tron, lançado no distante ano de 1982, sabe exatamente do que eu estou falando.

Além do mais, a tecnologia imersiva virtual já está disponível por aí. Criada há quase 20 anos, o Second Life se propunha ser exatamente isso: um espelho da vida real no ambiente da internet. O aplicativo, que não necessitava de óculos 3D, colocava o usuário na tela a partir de um avatar. Uma vez lá dentro, seu “eu virtual” poderia assistir shows, fazer compras e até ir a bancos (instituições financeiras apostaram no projeto e se colocaram lá dentro, bem como outras empresas).

Encontrei uma matéria do canal Techtudo que dizia que o Second Life passava por um novo boom com o isolamento social. O texto é de março do ano passado, quando a pandemia mal havia chegado ao Brasil. Não vi o Second Life “pegar” por aqui, mas vi a garotada jogando às turras o tal do Fortnite, o jogo de tiro em terceira pessoa que, aos poucos, foi adquirindo algumas características do Second Life, como shows e eventos realizados em tempo real – meu filho, de 10 anos, foi um dos que ficou acordado numa madrugada para conferir um apresentação, sentado na cadeira gamer do seu quarto.

Isso sem falar nas conectividades virtuais dos jogos de videogame. O Playstation, por exemplo, tem um óculos de realidade virtual para se conectar ao console. E oferece desde jogos de terror (eu mesmo joguei um que simula uma montanha russa bizarra) até salas de recreação (Rec Room, por exemplo) em que usuários do mundo inteiro se conectam para flanar sem objetivo concreto, conversando entre si através do microfone do equipamento, uma Torre de Babel explodindo nos alto falantes da TV. E, lá, o usuário ainda pode voar, jogar bolinhas de papel em quem passar na frente ou participar dos jogos propostos por monitores virtuais, que nada mais são que inteligência virtual comandando a brincadeira.

E, pode anotar: para seus netos, ou filhos, iniciativas como o Metaverso são tão banais quanto, para muitos de nós, é o WhatsApp.

Não sei se esse projeto proposto pelo Facebook e outras gigantes vai vingar. Afinal, no mundo da internet, há inúmeros projetos que não deram certo – lembro de, no passado, ter escrito sobre o Google Wave, do qual fui usuário beta, e que acabou não dando certo sua proposta de transformar o e-mail numa espécie de Google Docs, e até o Glass, aqueles óculos inteligentes que o Google prometeu, mas não levou adiante.

E, diz para mim: quem é que ainda usa smartwatch para algo que não seja ver as horas?

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 26 de outubro de 2021.