Nos Estados Unidos, os chamados comics — lê-se “histórias em quadrinhos” — têm as dimensões de 17 x 26 cm, um “formato padrão” para as revistas mensais de super-heróis. Por questões econômicas, as revistas no Brasil adotaram, em determinado período, o “formatinho” (19 x 13,5 cm).
Eu cresci lendo as revistas em “formatinho”, nos anos 1980. Na verdade, essas dimensões nunca “saíram de moda”, principalmente com a popularização do mangá (os quadrinhos japoneses) pelo mundo. Hoje, as principais editoras dos Estados Unidos estão adotando um formato menor para “fisgar” novos leitores, colocando na ponta desse anzol os gibis considerados “clássicos” ou consagrados.
Até na Europa está sendo adotado para o gênero de super-heróis, tipo exportação. O que não é uma surpresa, já que o mangá se encontra em uma igual queda de braço com os quadrinhos produzidos no Velho Mundo.
Aqui, no Brasil, as HQs “de bolso” estão de volta. A Panini lançou a série DC de Bolso, com as dimensões maiores que o “formatinho”: 14,5 x 21,5 cm.
Depois de sagas como O Reino do Amanhã e Watchmen, o que chega neste mês às bancas e livrarias pelo selo é Batman — A Piada Mortal (136 páginas), com roteiro do premiado e consagrado Alan Moore e com (raríssima) arte de Brian Bolland, que era mais capista do que desenhista de séries ou obras longas, em virtude da sua lentidão na produção.
“Para muitos, A Piada Mortal é a história definitiva do Batman — ou, pelo menos, a história definitiva do Coringa”, resumiu Gary Spencer Milldge, autor de Alan Moore — O Mago das Histórias (Mythos Books), quando o entrevistei, em 2013. “Belamente ilustrada por Brian Bolland, é uma das obras menos favoritas de Moore, ‘dizendo nada sobre a condição humana’”, apontou o biógrafo oficial do roteirista inglês.
Com cerca de 50 páginas, a narrativa mostra uma possível origem para o Coringa (que está em voga atualmente, pelas polêmicas continuações hollywoodianas), basta ter apenas um dia ruim. Há também um acontecimento que permaneceu por um bom tempo na cronologia do Universo DC: o arqui-inimigo do Homem Morcego atira na Bárbara Gordon, mais conhecida como a Batmoça, deixando ela em uma cadeira de rodas.
Falando em polêmica, o que vez por outra reaparece nas redes sociais é o que foi conjecturado pelo roteirista escocês Grant Morrison para a sequência final da obra, lançada originalmente em 1988: Batman mata Coringa, quebrando o pescoço do vilão.
Lamento informar que não “é óbvio”, como Morrison especulou. Por dois motivos. Um é semiótico: após a piada contada pelo Coringa, o herói apoia a sua mão no braço do Palhaço do Crime, às gargalhadas. O outro é prático: não há nada nas páginas do roteiro original de Moore que indique o óbito (vide a edição “absoluta” da obra, com o texto na íntegra, lançada pela Panini, em 2022).
Além de uma breve HQ de Bolland feita originalmente para a série Batman — Preto e Branco, completa a versão DC de Bolso, uma reinterpretação da primeira aparição do Coringa, que aconteceu em 1940. O Homem que Ri (2005) tem roteiro assinado por Ed Brubaker e desenhos de Doug Mahnke. Realmente, uma edição para os novos leitores.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de novembro de 2024.