Bandidos mascarados fogem pela cobertura de um prédio. Antes de chegar ao helicóptero para lograr êxito no seu crime, chega subitamente com sua capa esvoaçante um certo super-herói vindo do planeta Krypton, que, após derreter as armas que os meliantes tinham em punho, gaba-se que os alarmes silenciosos não são tão silenciosos assim para a sua superaudição e oferece as alternativas de se renderem pacificamente ou não. Um dos criminosos saca outra arma e, tremendo, atira no chamado “homem de aço”. As balas, que comumente ricocheteiam no seu tórax, atravessam seu corpo e o Superman (ou Super-Homem, para os mais velhos) cai, atônito e incrédulo.
Essa é a descrição das primeiras páginas de Poder Absoluto, uma minissérie em quatro partes da DC Comics, escrita por Mark Waid e desenhada por Dan Mora, que chega ao Brasil por meio da editora Panini. Não é de hoje que essas grandes sagas (ainda) alimentam as escassas bancas de jornal pelo país e as lojas — especializadas ou não — em histórias em quadrinhos, cada vez mais adepto das luxuosas e caras edições compiladas, em capa dura e toda a pompa possível para o frisson dos colecionadores de plantão.
Até a expressão “lombadeiros” foi criada nesse meio, remetendo aos leitores que alinham as lombadas dessas edições que formam propositalmente um painel de um desenhista do momento.
Ainda tendo público, a Panini, que publica tanto os super-heróis da DC como os da Marvel, coloca à disposição esse formato mais barato (cerca de 40 páginas por edição e com lombada “canoa” — aquela grampeada) para “democratizar” ainda o gibi, mesmo ele sendo em tamanho maior que os “formatinhos” de antigamente e com um papel melhor do que o que chamávamos de jornal (o pisa brite).
Outra expressão corriqueira na chamada “gibisfera” (dos amantes de colante e capa) é a do “massa, véio!”, principalmente quando se tem uma splash page (página inteira, geralmente dupla) com um desenho impactante para esse povo, vide o Superman caindo baleado, provavelmente sem poderes, no início de Poder Absoluto.
Independentemente da qualidade do roteiro, há um segmento que tem como sua válvula de escape do entretenimento esse impacto visual. Nos anos 1990, isso foi muito disseminado nos EUA — e consequentemente aqui, no Brasil —, com os bad boys anabolizados, cheios de pochetes, armados até os dentes, que, por sua vez, rangiam e babavam feito um animal ensandecido pelas “bombas”. Pior: atualmente, eles estão voltando a explodir em reedições.
Não obstante, há obras boas nesse período, mas houve uma bolha especulativa de “edições especiais” e o advento da Image Comics, que melhoraram a qualidade gráfica, mas colocaram o enredo ladeira abaixo, agarrando definitivamente os clichês que fingimos não saber para curtir o “massaveísmo” do momento. “Será que Superman sobreviverá?” ou “Será que ele recuperará os seus poderes?”… Isso, definitivamente, fica para uma próxima edição.
Enquanto isso, a Terra sempre será o principal alvo de alienígenas malvados, os super-heróis sempre vão trilhar a tal da jornada do herói e o grand finale sempre seguirá para mais uma minissérie que trará impacto real para os leitores de primeira viagem e o impacto disfarçado dos leitores veteranos.
A roda continua a girar.
To be continued…
*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 11 de junho de 2025.