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publicado: 06/12/2023 10h42, última modificação: 06/12/2023 10h42
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Mestre Antônio, um dos mais importantes leitores que este jornal já teve - Foto: Érika Catarina/Divulgação

por Audaci Junior*

A cidade de Taperoá, no Cariri paraibano, é famosa por emprestar o seu chão aos palcos de teatro, quando encenavam o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. Na Zona Rural do município vive o octogenário Antônio de Sousa Salviano, mais conhecido como Mestre Antônio, o único dos mestres do Boi de Carnaval com vida.

Ele estampou a nossa capa no começo do ano, em matéria assinada por Guilherme Cabral, no dia 18 de janeiro, com uma campanha para não deixar o folguedo popular morrer e dar visibilidade ao artista, o “último dos moicanos” na região.

Negro, analfabeto, interiorano e sem visibilidade devida. Um dos papéis da imprensa, de modo geral, é trazer à tona esses artistas, bem como as mestras mulheres (um salve para Mestra Penha Cirandeira, Mestra Ana do Coco, Mestra Vó Mera e tantas outras espalhadas pelo estado).

Resgato essa pauta aqui, porque fora das páginas do jornal – sejam elas físicas ou virtuais – o Mestre Antônio se tornou minha nova perspectiva de “leitor anônimo” ou “leitor imaginário”: aquele que o jornalista ou editor escreve/edita quando está na batalha diária de trazer algum tipo de contribuição e reflexão para as pessoas que religiosamente leem o periódico ou eventualmente “topam” com ele, mesmo que seja brevemente pela “ponta do iceberg” que aparecem nas redes sociais do mesmo.

Sendo analfabeto, a produtora cultural da região, Érika Catarina, levou a edição do jornal para ele e leu de cabo a rabo a matéria protagonizada pelo mestre. Fico imaginando a sua reação, sendo valorizado e (talvez) sendo uma energia a mais para seguir em frente. O jornal sendo levado oralmente. Às vezes, perdemos essa conscientização: assim como devemos nos importar com os artistas e temas marginalizados, há também o “leitor imaginário” que não lê ou o que não enxerga (frisando que o jornal tem a Sala de Imprensa Braille). Temos que pensar e focar neles também.

Mais do que qualquer magistrado, político ou qualquer outro leitor “letrado”, temos também que pensar também em todas as outras pessoas que possam se tornar leitores e leitoras desse periódico, mesmo que seja por uma edição ou por uma página ou ainda por uma matéria. Mesmo que seja pelo auxílio dos dedos ou pela voz de terceiros.

E aqui, deste lado, devemos continuar oferecendo a visibilidade aos “Mestre Antônios” e toda uma diversidade de artistas que são marginalizados, independente do gênero.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 06 de dezembro de 2023.