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Resenha

O que está ruim pode piorar?

publicado: 29/05/2024 09h16, última modificação: 29/05/2024 09h16
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Com uma história minimalista, sempre carregada de um tom pessimista, a série sul-coreana ‘O Horizonte’ apresenta uma das sequências mais impactantes de um massacre civil | Imagem: Divulgação/NewPop

Não precisa nem entrar em uma guerra para ter seus traumas. Para o sul-coreano Jung Ji Hun, bastou o alistamento militar obrigatório. Foi nesse período que ele teve a ideia que ganhou forma em O Horizonte, um manhwa (termo para designar uma história em quadrinhos coreana) que chega em três volumes no Brasil pela editora NewPop.

Sua bela capa, uma pintura, já faz o convite para ler a primeira edição bem encorpada (376 páginas): um garoto sozinho perante a grandiosidade do mundo. Porém, o “soco certeiro na cara” vem nas primeiras páginas, quando o autor apresenta uma das sequências mais impactantes tomando como cenário um massacre civil por militares. Sem balões, no silêncio, apenas com gestos e ações do mais puro desespero. É de destroçar o coração. Totalmente.

A história é simples: em um mundo perdido aparentemente pela guerra, a sociedade se desfaz. No caos, um menino, único sobrevivente de um massacre, sai pela estrada, em busca do horizonte. Na sua jornada, ele encontra uma garota, em pé de igualdade como a única sobrevivente de um grupo que fugia. O que está ruim pode piorar?

Sempre carregado de um tom pessimista, percebe-se o quanto foi traumatizante para Jung Ji Hun terminar o serviço militar. O enredo é bem minimalista, a jovem dupla se depara com um senhor que carrega consigo apenas os traumas daquela situação. Enlouquecido, balbuciando o que antes eram palavras que “amoleceram” de tanto permanecer na sua boca. Sem nenhum sinal de que já foi “civilizado”, despido de moral e que colocou no pelotão de fuzilamento da sua mente o ser social de que já foi um dia.

Por vezes violento (o que vai acarretar no segundo “soco na cara” do volume páginas à frente), as crianças devem fugir dos tiros e da violência, ao mesmo tempo em que estão “acorrentadas” ao senhor insano, já que a estrada é longa. Muito longa...

Dono de uma arte bastante estilizada (com passagens que beiram ao clima de fanzine), o quadrinista tem plena consciência narrativa. Os ângulos, o ritmo, as hachuras, o uso do nanquim branco e as “viradas de páginas” são todas bem pensadas. A leitura de O Horizonte flui de um fôlego só, até o bom gancho pra próxima edição.

No segundo volume, o autor continua surpreendendo. A primeira metade é mais episódico, já a segunda é um interlúdio que oferece algo mais reflexivo e filosófico. Não há, de certa forma, um gancho, mas existe uma ponta solta que fará o leitor e a leitora quererem ir para último volume, que será lançado no próximo mês, quando finalmente descobriremos o que reservará o fim desse horizonte.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 29 de maio de 2024.