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Quando o protagonismo da sua vida deixa de existir

publicado: 12/07/2023 00h00, última modificação: 12/07/2023 11h22
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Arte angulosa e estilizada da premiada autora francesa Léa Murawiec - Imagem: Comix Zone/Divulgação

tags: O Grande Vazio , Audaci Junior , Léa Murawiec

por Audaci Junior*

Atualmente, tudo é “instagramável”. Seu humor no dia vai depender de quantas “curtidas” estará nas suas redes sociais. Sua vida é dividida em duas: a “real” e a virtual, mas a primeira desesperadamente depende da segunda. Não é uma escolha salomônica, muito menos de Sofia. Quer um simples teste? Não toque no seu celular ou não acesse a internet por 24 horas.

Há uma década, o renomado cineasta alemão Werner Herzog mostrou uma série de relatos dignos de um filme de terror através de pessoas que foram afetadas ou causaram acidentes enquanto digitavam textos em seus smartphones ao volante. Tudo registrado no documentário de média-metragem It Can Wait (“Isso pode esperar”, em tradução livre), que ele realizou para uma campanha nas escolas. Isso demonstra o quanto as redes sociais podem ser fatais, além de escravizar o indivíduo ou colocá-lo para baixo.

Para Manel Naher não tem isso de ser notada. Ela vive em uma metrópole, mas poderia ser uma minúscula traça nela. Uma traça que vive (feliz) especificamente dentro de uma livraria. Porém, quando ela descobre que existe uma homônima (não confundir com doppelgänger), sua vida muda completamente. E não é apenas porque ela é uma cantora famosa e “da moda”.

História em quadrinhos de estreia da francesa Léa Murawiec, O Grande Vazio (Comix Zone, 208 páginas, R$ 119,90) o universo que gira em torno dessa metrópole tem uma “lei” bem específica: se todo mundo começar a pensar apenas na outra Manel Naher, que está ficando cada vez famosa, em vez de pensar na Manel Naher que passa seus dias nos fundos de uma pequena livraria... ela simplesmente deixa de existir.

Por isso, a cidade é cheia de painéis com nomes de todos os tipos e tamanhos para chamar a atenção, os sem-tetos mendigam por atenção e, além dos limites, há o chamado “grande vazio” do título, onde ninguém nunca mais voltou. Para cada um manter a “Presença” no mundo.

Com uma arte ousada, angulosa e estilizada (e que é um complemento vital para a já madura narrativa), O Grande Vazio rendeu para Léa Murawiec o Prêmio do Público France Télévisions, no tradicional Festival de Angoulême, na França, em 2022.

Excepcionalmente nesta semana, não teremos a coluna ‘Gi com Tônica’, de Giovanna Ismael, que retornará na próxima semana.

*Texto publicado originalmente na edição impressa de 12 de julho de 2023.