Por vezes, ser metódico pode levar o artista a novas perspectivas. O ator e diretor Paul Dano, por exemplo, quando aceitou o papel do vilão Charada/Edward Nashton na mais recente produção cinematográfica do Batman, batizada de “The” Batman (2022), dirigido por Matt Reeves. Para entender melhor o personagem, ele fez várias anotações, criou um preâmbulo e compartilhou a sua criação do retrato psicológico com o realizador do longa-metragem, que foi certeiro: isso poderia ser um gibi.
O resultado pode ser visto no encadernado da minissérie, lançado recentemente no Brasil, Charada: Ano Um (Panini, 216 páginas). De ator para roteirista, Paul Dano aborda as origens da versão do criminoso mais sombria, bem distantes anos-luz das caricaturas de Frank Gorshin (1933-2005) na série Camp dos anos 1960 ou mesmo das caras e caretas de Jim Carrey, em Batman Eternamente (1995).
Com arte igualmente sombria (além de psicodélica e experimental) do europeu Stevan Subic, a obra acompanha Edward Nashton desde quando ele é dado ao Orfanato de Gotham, logo após o nascimento, enquanto sua mãe é internada no Asilo Arkham, que mais tarde morre em um aparente suicídio alguns anos depois. Ao longo de sua infância, ele sofre negligência devido à falta de financiamento do local e bullying devido à sua natureza tranquila, usando quebra-cabeças e enigmas para escapar deles.
Mesmo ciente de “quando” vai acabar a HQ (no caso, no começo de The Batman), Charada: Ano Um é um grande exercício de personagem que foi transportado para o cinema, mas que “nasceu” de uma história em quadrinhos. Em entrevista para o site especializado CBR, Dano falou de algumas de suas influências para se inspirar: o mago inglês Alan Moore e o “clássico” do Homem-Morcego, Batman: Ano Um, de Frank Miller e David Mazzucchelli. Um bom começo.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 07 de agosto de 2024.