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Seu Mauricio, o verdadeiro “imortal”

publicado: 01/08/2023 11h52, última modificação: 01/08/2023 11h58
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Num lotado painel do Imagineland, várias gerações foram ver o Mauricio de Sousa - Foto: Imagineland/Divulgação

tags: Mauricio de Sousa , Imagineland , Audaci Junior

por Audaci Junior*

Na coletiva na qual Mauricio de Sousa realizou no segundo dia do Imagineland, no último sábado (dia 29), ele fez uma pergunta que comumente faz às plateias pelo Brasil afora: “Quem de vocês teve a Turma da Mônica na infância?”. Mil desculpas, Nelson Rodrigues, mas houve quem levantou as duas mãos e quem falou em meio aos jornalistas e influencers: “Oxi, pelo amor de Deus!”

Aqui, em um texto opinativo, eu posso falar tranquilamente: ver o homem tão de perto assim, na fila do gargarejo da coletiva, montada como se fosse um pelotão, não tem preço. Estava muito emocionado por dentro, mesmo que a minha carapaça jornalística fosse tão rígida quanto o melhor dos escudos ou o melhor dos blindados na melhor das batalhas cotidianas das redações.

Não estava morrendo, mas todo um filme passava por mim, desde quando um gibi colhido a esmo nas fileiras do front de uma banca perto da escola era convocado para a missão de ser o meu amigo durante a longa viagem diária de coletivo, do Centro de João Pessoa para casa, na periferia…

Uma das ferramentas da minha alfabetização eram os personagens da Turma da Mônica – inclusive os periféricos como Cascão e Magali –, independente da ladainha que “gibi estraga a vista” ou “é ruim para a formação das crianças” (sim, houve época que os “ecos” da famigerada Sedução dos Inocentes, do psiquiatra alemão Fredric Wertham, pousaram no Brasil, como os alardes e especulações bélicas). Ora, essa, o melhor exercício mental que eu, quando fazia jus ao Júnior, destrocava o “L” pelo “R” do Cebolinha ou “traduzia” na minha cabeça o “caipirês” de Chico Bento, acrescentando um legítimo sotaque nordestino.

“Quantos dedinhos, puxa vida”, exclamou o Seu Mauricio, que também ficou admirado quando foi recebido com aplausos. Admirado, vejam só: um homem cuja personagem completa seis décadas neste ano, e, no alto dos seus quase 88 anos (que serão festejados em 27 de outubro próximo) ainda se admira por poucos aplausos, de uma pequena plateia. Um homem que atrai multidões, em que mães já jogaram (literalmente!) seus filhos para o palco, a fim de se encontrar com o “pai” da Mônica, a personagem de quadrinhos mais conhecida do país e uma das únicas personagens femininas mais conhecidas do mundo, ao lado da Mafalda, do hermano Quino (1932-2020).

“É muito bom saber que vocês estão com a turma da Mônica na cabeça, no cérebro e no coração desde quando estavam começando a ler e a folhear os gibizinhos, pois com isso nós estamos alfabetizando a criançada”, complementou o quadrinista, depois de fazer a sua pequena pesquisa na coletiva.

Por isso, Mauricio de Sousa venceu a batalha, mesmo perdendo de uma “lavada” quase unânime na recente votação da Academia Brasileira de Letras. Às favas com isso, pois o Seu Mauricio é imortal. Foi eleito pelo povo, não por senhores carcomidos da guerra de egos das letras. A melhor condecoração que se pode ter: um coração vermelho e não púrpura. Basta ver as gerações que lotaram o painel protagonizado por ele no último domingo (30), marcando uma grande estreia, com o pé direito, da primeira edição do Imagineland.

(Nunca a Academia ficou tão evidente quando foi na época do pleito, a exemplo da manchete em um dos jornais do país: “Mauricio de Sousa perde vaga na ABL”. Mas… quem venceu mesmo?)

Como bom soldado, vi com todo o meu desvelo o Seu Mauricio andar com passos calculados por conta da sua idade… porém, subindo com agilidade os três lances de escada para coletiva, com toda a energia jovial de uma Mônica Toy. Que preserve assim por um bom tempo: segura essa guerra aí, Seu Mauricio.

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-Excepcionalmente hoje não teremos a coluna de André Cananéa, que retornará na próxima semana.

 

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 1 de agosto de 2023.