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Resenha

Você tem medo de quê?

publicado: 06/08/2025 08h43, última modificação: 06/08/2025 08h43
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Imagens: Divulgação/JBC

por Audaci Junior*

Fobia é um transtorno de ansiedade que tem como principal característica o medo irracional e intenso de determinadas situações, objetos ou atividades específicas. Desde lugares abertos, passando por tomar banho, até não poder ir ao circo por temer os palhaços, há um grande número de fobias, incluindo uma denominação específica para cada uma delas.

Listando alguns desses medos irracionais como tema, os autores japoneses Katsunori Hara (roteiro) e Yukiko Goto (arte) criaram uma série de terror psicológico com histórias curtas, independentes e sem personagens fixos. Divididos em três volumes, Fobia (JBC, 200 páginas) já teve seu primeiro tomo lançado no Brasil e o segundo com previsão de publicação para este mês.

O primeiro volume do mangá (como são chamados os quadrinhos nipônicos) apresenta cinco contos de fobias bem conhecidas do grande público e outras que podem ser novidades para quem nunca parou para tentar elencar quantos medos irracionais o ser humano pode colecionar. 

No volume, cinco “temores”, como o medo de frestas

Na leitura, não esperem uma pegada “documental” da coisa. Respeitando o gênero, os autores escolhem as mais diversas situações grotescas e/ou absurdas para levar as fobias ao nível mais bizarro.

Começando pelo medo de frestas. Qualquer tipo de abertura. Em nenhum momento, o mangá é didático, apenas foca no terror psicológico, que pode descambar para o horror corporal, de uma hora para outra. Há quem afirme, por exemplo, que o inferno está localizado entre as frestas do mundo.

Tripofobia é o medo persistente e excessivo de espaços estreitos ou aberturas. Tal fobia deve ser pior em lugares como o Japão, onde há um respeito pelo seu “espaço particular”. Sem pudores, a personagem pode fechar uma bolsa aberta alheia ou até mesmo o zíper da calça de um desatento passageiro no trem. O temor pode vir até de onde menos se espera, como a boca de quem ronca durante o sono.

A segunda história é pautada nos odores. A bromidrofobia é o medo do mau cheiro corporal, levando a comportamentos excessivos de higiene.

Na terceira, a mais inventiva em termos de narrativa visual, coloca o personagem com a acrofobia — o medo irracional de altura.

O conto visual mais fraco é a demofobia, ou oclofobia, que é o medo específico de multidões. No caso do mangá, uma jovem do interior acaba de se mudar para Tóquio e encontra algumas dificuldades em se adaptar à metrópole.

Por fim, um medo bastante famoso: a claustrofobia. Porém, a dupla Hara e Goto fez algo que não foge do banal (uma pessoa enterrada viva), mas com o desenrolar bem diferente e inusitado desse “plano de vingança”. Não basta apenas desenterrar o rancor, tem que plantar uma ideia após o trauma.

Fobia mostra um outro lado do roteirista Katsunori Hara, conhecido por seus seinens (demografia direcionada a jovens adultos do sexo masculino) de comédia. Também é o primeiro projeto ao lado da quadrinista Yukiko Gotou, que tem obras mais voltadas ao drama, com os seus desenhos funcionais e a sua narrativa ágil.

Originalmente, no Japão, a série foi publicada na revista Big Comic Superior, da editora Shogakukan, de dezembro de 2020 a maio de 2024, sendo compilada nesses três volumes trazidos para o Brasil pela JBC.

Para quem gosta de terror psicológico, com um pouco de horror corporal e cenas de sexo, e está cansado de Junji Ito (inclusive, que chegou a recomendar a leitura desse mangá).

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 06 de agosto de 2025.