por Felipe Gesteira*
Todo bom pavão é amostrado. Aquele rabo bonito, garboso, exibido que só, para não falhar no momento certo da conquista de sua amada. No reino animal, o pavão se exibe para acasalar. No universo dos machos humanos heterossexuais oriundos de uma educação conservadora, o ‘pavão’ trabalha para alcançar um quantitativo, mesmo que seja vazio de amor, ou repleto de amores, pois de tanto amar somente a si, encontra na constante rotatividade de parceiras o combustível para seu ego.
Rodrigo era o clássico pavão paraibano. Jovem, alto, disposto, porte atlético. Tinha todos os requisitos da época identificados como o padrão da beleza masculina, isso no tempo em que não existia internet e a TV ditava moda e costumes. Para completar, era atleta. Nadador profissional, começou ainda jovem sua trajetória nas piscinas, o que lhe dava um diferencial entre os rapazes. Além de pavonear diante das meninas, Rodrigo também se pabulava.
Ele viajava por toda a Paraíba para competir nas categorias juvenis. A cada parada, uma namorada, e sempre fazendo questão de aumentar seus feitos. Se vencia a prova, Rodrigo dizia que tinha ido mal, que no treino havia se machucado, por isso o desempenho abaixo da média, mas que mesmo assim decidiu competir e caiu na água sentindo dor. Ele gostava de ver a admiração nos olhos das meninas, que ouviam atentas seus feitos de suposta superação. Se perdia, aí sim a mentira era ainda maior.
Conforme a idade avançava, crescia também sua determinação nos treinos. Era de fato um bom nadador, porém muito mais atraído por elogios do que por vitórias. E de tanto treinar, vez por outra conseguia vencer nas piscinas. Na borda, em sua incessante busca por garimpar corações inocentes, Rodrigo quase sempre ‘vencia’.
Mas a carreira de atleta da natação não dura para a vida toda. Rodrigo deixou as piscinas e decidiu se tornar político. Não que todo político seja vaidoso, mas ele encontrou na vida política o contínuo alimento para seu ego, e assim como sempre se esbarrava com um babão, também aproveitava a notoriedade dos cargos eletivos para derramar sua conversa mole por cima das moças paraibanas, da capital ao Sertão.
Além de mentir, Rodrigo gostava de impressionar. E desde os tempos de nadador tinha o hábito de presentear suas parceiras. O problema é que ele não comprava os presentes. Catava de algum lugar e inventava uma história. Era quase uma cleptomania romântica.
— Está vendo esta moeda velha e enferrujada? Foi presente do meu avô, que lutou na Segunda Guerra Mundial. Ele guardou esta moeda no bolso até o dia em que ela salvou-lhe no combate ao resvalar um tiro à queima roupa. Me deu para que eu tivesse sorte a vida toda. Tome, agora ela é sua! — disse para uma moça de Cajazeiras ao lhe entregar uma moeda que ele acabara de roubar no mercadinho.
Certa vez, já político, saindo de Campina Grande para Bananeiras com um costumaz comparsa de raparigagem, estavam os dois, no fim da festa, com duas mulheres no carro e ele não conseguia encontrar nada para impressionar a sua escolhida. Passando a mão por cima do banco de trás achou uma folha de papel, nela estava pintada uma rosa, toda em giz de cera. Era uma pintura do filho do parceiro de Rodrigo que seria entregue no dia seguinte à esposa do amigo, como presente de dia das mães. O bom nadador, político e pavão não contou conversa, surrupiou o desenho do menino e entregou como obra de arte valiosíssima. Foi seu recorde de corações arrasados com uma só mentira.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 15 de abril de 2022.