por Felipe Gesteira*
Não tem coisa melhor do que farra na piscina. Mergulhar, nadar, jogar bola, fazer batalha submarina, bolhinha, brincar de pega. Tudo isso numa brincadeira que só tem hora pra terminar quando o avançado sistema usado como medidor de tempo de menina e menino na piscina acusa que a diversão precisa parar. Não adianta esconder, nem tem como, o engelhado nas pontas dos dedos entrega o mais experiente nadador infantil. É hora de comer, dormir e recarregar as energias para o dia seguinte.
Michael sonhara com o mês inteiro de férias disponível para folia na água. Brincar com os primos, amigos. Familiares em volta da piscina sempre com o lanche a postos e uma toalha quentinha para que o pequeno não perdesse um só mergulho. O menino Michael se dedicou inclusive às práticas avançadas.
“Explosão” é uma das formas mais legais de se espalhar água para fora da piscina. Uma técnica difícil, que exige treino e concentração. A criança toma distância, corre em direção à piscina, salta da borda com o maior impulso possível rumo ao centro e, ainda no ar, eleva os joelhos junto do peito e os abraça, caindo na água como uma bola, ou um tatu completamente enroscado. A técnica ganha 50% a mais de efetividade se for executada com um grito de guerra aleatório. Vale qualquer coisa, contanto que se grite com vontade! Outra também muito conhecida é o pulo de frecheiro, mas, rápido como ele, pularemos a explicação.
Na volta às aulas, Michael estava ansioso para contar aos coleguinhas e à professora o quanto tinha aproveitado na piscina. A “tia” reuniu a turminha em um círculo e falou sobre as férias, da importância, do quanto é bacana aquele momento deles com as famílias. Logo depois começou a perguntar, em grupo, o que haviam feito.
— Quem aqui foi à praia?
— Eeeeeeuuuu — diziam, em coro, com os dois braços levantados. Todos, menos o menino Michael, que aguardava sua vez.
— Quem aqui foi ao zoológico? — continuava a professora.
Enquanto os coleguinhas faziam o movimento de erguer os braços, já com o sonoro “eeeeuuuu” solto da garganta, Michael ia até o meio do caminho e os braços paravam na altura do cotovelo. O ar puxado para soltar o grito junto aos outros ia embora como respiração, num ato que suspendia sua resposta. Mas a próxima seria piscina, claro.
— Quem aqui foi ao cinema?
De novo, o pequeno nadador vai até a metade do caminho quando percebe que não, não ainda, e tem seu grito interrompido.
— E quem foi ao shopping?
Michael quase desiste. Dessa vez ele só fez menção com os ombros, os braços mal subiram. Estava prestes a desanimar quando a professora fez a última pergunta, que nem todos responderam:
— Quem tomou banho de piscina?
Ouviu-se na sala um grito aliviado, mas alegre, triunfal, como o grito de gol em final de campeonato marcado pelo jogador que saiu do banco aos 37 minutos do segundo tempo para desempatar a partida e levar a torcida ao delírio. Aquela resposta era a confirmação das atividades do principal atleta aquático da classe, ou da criança que mais sabia se divertir na piscina. E seu eco reverberou por todo o berçário-escola. Um vibrante “eeeeeeeeeeeeeeeuuuuuuuuuuuuuuu!”.