Notícias

Bolsonaro é a doença

publicado: 16/03/2020 13h19, última modificação: 16/03/2020 13h19

tags: bolsonaro , coronavirus , felipe gesteira

 

O mundo assistiu estarrecido à conduta do presidente Jair Bolsonaro, no último domingo (15), diante das manifestações públicas a favor de seu governo. A Organização Mundial de Saúde já havia declarado pandemia de coronavírus, mas para o chefe de Estado do Brasil, pouco importa o bem-estar da população quando se pode fazer política. Foi criminoso desde o início quando os protestos se organizavam em torno de um viés antidemocrático, e novamente cometeu crime quando, de forma irresponsável, rompeu a quarentena e foi pessoalmente cumprimentar as pessoas, expondo-as ao risco de contágio.

Pelo menos onze pessoas da comitiva que voltou dos Estados Unidos com o presidente testaram positivo para o coronavírus. Bolsonaro fez um primeiro teste que, segundo o Planalto, deu negativo. Um assessor de seu filho havia confirmado à FOX News que o teste teria dado positivo. Independente das divergências, o protocolo recomenda que o paciente sob suspeita se mantenha em quarentena e, apesar de não apresentar sintomas, refaça o teste após sete dias. Foi nesse intervalo que Bolsonaro resolveu cumprimentar as pessoas. O partido PSol anunciou que fará uma denúncia formal de crime contra a saúde pública à OMS cometido pelo presidente brasileiro.

Até o fechamento desta coluna eram 200 casos confirmados no Brasil. Considerando os números totais, podemos concluir que a comitiva do presidente da República reunia 5% dos casos confirmados em todo o país.

Bolsonaro é criminoso, irresponsável e, também, cretino. Na verdade, Bolsonaro é uma doença.

Ainda no domingo, à noite, em entrevista ao canal CNN Brasil, o presidente disse que essas medidas tomadas em todo o país para controlar a doença são uma “histeria”. Bolsonaro criticou a decisão anunciada pela Confederação Brasileira de Futebol de suspender os jogos para evitar aglomerações. Não é a primeira vez que ele faz pouco caso.

Além de não ter a grandeza de um chefe de Estado nas decisões que toma, seu comportamento incita outras pessoas ao mesmo nível de incredulidade e desleixo diante de um problema internacional.

O bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, proprietário da Rede Record de televisão e um dos principais apoiadores de Bolsonaro foi outro que se posicionou contra todos os protocolos de saúde pública para prevenção ao coronavírus. Disse que se trata de obra de “satanás”. A doença interfere diretamente no seu negócio, pois, como as igrejas irão arrecadar se a população resolver evitar aglomerações?

Para piorar, há economistas do lado do governo espalhando que este é o momento de se aprovar a agenda liberal. Não há mesmo limites para a maldade humana. Pensar no mercado enquanto milhares de pessoas correm sérios riscos de morrer só demonstra a verdadeira face do que este governo representa.

Nos próximos dias deveremos enfrentar o que os europeus já estão vivendo há algumas semanas. O aumento no número de casos de coronavírus no Brasil irá forçar algumas mudanças de comportamento. No Recife, as aulas da rede escolar já foram suspensas. É possível que a medida seja adotada em outras capitais, e para que isto tenha alguma efetividade, é imprescindível que as pessoas sejam liberadas de seus empregos para a realização dos trabalhos de casa, em modo home office, quando possível. 

A pandemia é muito mais grave do que o presidente da República consegue enxergar, no entanto, é preciso ter serenidade, pois deve passar nos próximos meses. Torcemos para que, apesar da incompetência do líder, o excelente Sistema Único de Saúde do Brasil tenha a capacidade de acolher a população, e que os danos sejam mínimos. Cuidemos uns dos outros e, principalmente, dos nossos idosos.

*publicado originalmente na edição impressa de 17 de março de 2020.