Notícias

ESPORTES: Atletas enfrentam o racismo

publicado: 19/06/2020 00h03, última modificação: 29/06/2020 12h16

 

Marcelo é um gigante. O lateral esquerdo do Real Madrid e da Seleção Brasileira foi o primeiro brasileiro jogador de futebol a se manifestar dentro de campo contra o racismo desde o início da onda de protestos que acontece em todo o mundo por conta da morte do segurança negro George Floyd, brutalmente assassinado por um policial branco nos Estados Unidos. No último domingo (14), na vitória do Real Madrid contra o Eibar, pela 28ª rodada da Liga Espanhola, o brasileiro marcou o terceiro gol de sua equipe e comemorou de joelhos, em referência à forma como o ex-oficial da polícia de Minneapolis, Derek Chauvin, motivado por ódio de raça, matou, em serviço e com força desproporcional, o civil Floyd.

Não foi a primeira vez que Marcelo se posicionou contra o racismo desde o assassinato de Floyd. No dia 2 de junho, o lateral publicou em seu perfil no Instagram uma foto com o texto “BLACK LIVES MATTER” (“vidas negras importam”, em tradução livre do inglês) como legenda. 

Mas protestar dentro de campo, durante um jogo oficial, tem outro peso. Marcelo foi corajoso, desafiou o sistema. A FIFA proíbe que atletas façam qualquer manifestação que tenha caráter político ou religioso durante as partidas, mas diante da força do movimento antirracista, que vem crescendo entre os desportistas ocupando espaços em diversas modalidades, a maior entidade do mundo do futebol flexibilizou a regra. Logo após o assassinato de Floyd, jogadores do Borussia Dortmund, na Alemanha, protestaram contra o racismo e não foram punidos. 

Marcelo é um ícone brasileiro da luta antirracista no futebol internacional. Em 2014, o lateral esquerdo sofreu com o racismo da torcida do Atlético no clássico entre os dois clubes de Madrid. O chamaram de “macaco” e agrediram seu filho, que na época tinha quatro anos. 

Outro brasileiro que já sofreu racismo na Espanha foi o lateral direito e capitão da Seleção Brasileira, Daniel Alves. Quando o hoje meia do São Paulo defendia a camisa do Barcelona, torcedores jogaram bananas na beira do gramado, por onde Dani Alves corria. Ele ignorou o ato, pegou a banana e comeu, em resposta aos racistas. A FIFA, que tanto cerceia a liberdade de opinião dos atletas, não puniu os clubes com a devida rigidez. 

Atletas do crossfit reagem

Não colou entre os atletas profissionais a saída de Greg Glassman do cargo de presidente da Crossfit. Após intensos protestos diante de seu comentário racista num infame trocadilho entre a pandemia causada pela covid-19 e a morte de George Floyd, a empresa sentiu uma verdadeira debandada de atletas e associados. Para tentar frear a onda de desfiliações, Glassman entregou o cargo, no entanto, mantém-se como dono, ou seja, todo o lucro em decorrência das ações da empresa e de quem mobiliza o esporte para sustentar a marca continuam contribuindo para o benefício dele. 

Muitos atletas se posicionaram contra a postura racista de seu então presidente e fundador logo após o comentário racista. A primeira a levantar sua voz contra essa jogada de marketing para manter o poder econômico em torno de Glassman foi a islandesa Katrin Davidsdottir, duas vezes campeã mundial da modalidade. 

Greg Glassman não deve ter percebido que o mundo mudou, o fluxo de informações é intenso e, assim como não cabe mais retrocesso social com racismo, homofobia e xenofobia, há cada vez menos espaços para os “espertos”. Perdeu grandes patrocinadores, como Reebok e Rogue, centenas de academias pelo mundo aproveitaram o justo motivo para desvincular seus nomes da marca, e talvez nunca mais recupere o patamar alcançado. O esporte deve continuar, com avanços e novos atores. 

*publicado originalmente na edição impressa de 19 de junho de 2020.