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ESPORTES: Benditos são os intermináveis

publicado: 18/06/2021 08h00, última modificação: 21/06/2021 11h18


O tempo é implacável com os atletas profissionais. Por mais que alguns se cuidem para prolongar a atividade em alto rendimento, existem limites. O esporte chegou a um patamar em que o rigor físico está cada vez mais em evidência. Com o avanço da idade, o corpo não responde mais da mesma forma como respondia no auge. Em algumas modalidades, como no atletismo, fica impossível competir com os mais jovens. Nos esportes em que a técnica é determinante para o desempenho, o fator idade se mostra mais flexível. Há exemplos de atletas mais velhos que desafiam o tempo. E além destes, há os intermináveis. 

É possível determinar quando acaba a carreira de Gianluigi Buffon? Na quarta-feira, o goleiro italiano de 43 anos foi anunciado pelo Parma, time que o revelou em 1995. Tudo bem que o clube está na segunda divisão italiana, mas Buffon chega com contrato de dois anos e o brilho de um grande reforço. 

O goleiro carrega nas costas o peso de títulos importantes, como a Copa do Mundo de 2006, pela seleção italiana, além de dezenas de taças nacionais por onde jogou. Na Juventus foram duas despedidas, e o defensor continua a atuar em alto nível. Nesta nova fase, no Parma, Buffon pretende levar o clube de volta à primeira divisão e ainda garantir ao menos a vaga de terceiro goleiro da Itália na Copa de 2022. 

São muitos os exemplos de jogadores de futebol que passam dos 40 anos de idade e continuam em atividade. Mas se for considerar aqueles que têm queda drástica no rendimento e saem pingando Brasil afora em clubes pequenos, divisões inferiores, levando consigo apenas o currículo e o nome, a lista nem cabe nesta coluna. 

Vamos falar apenas dos intermináveis em grande estilo. 

Há uma lenda no Palmeiras de que Zé Roberto não se aposentou, na verdade “foi aposentado”. Craque por onde passou, seja na Seleção Brasileira ou no futebol alemão, Zé Roberto estava aos 42 anos em forma física superior a muitos novinhos na Série A do Brasileirão. 

A excelente condição do veterano ficou ainda mais evidente quando precisou atuar como lateral. Ninguém acreditava que daria conta quando apareceu na escalação. Zé Roberto desafiou o tempo ao jogar como lateral, subindo para o ataque e voltando para apoiar a defesa. A piada entre os boleiros diz que os colegas pediram que se aposentasse, pois daquele jeito ele desqualificava a categoria, já que ninguém chegaria no mesmo nível, tampouco restariam desculpas aos mais jovens para cansaço e falta de entrega em campo. 

No futebol paraibano, vi de perto o melhor dos exemplos daqueles que podem ser incluídos com honra no rol dos “intermináveis”. Betinho chegou ao auge da carreira no Fluminense, quando o time jogava a Série C do Brasileirão, sob o comando do técnico Parreira. Mas foi no Botafogo da Paraíba que ele fez história. Era um meia clássico, o camisa 10 que hoje faz falta a muitos times. É difícil dizer até que idade Betinho jogou em alto nível, pois depois dos 40 ainda desequilibrava com passes mais do que precisos. Chegou a entrar em campo aos 47, não do segundo tempo, de idade mesmo, para salvar o Santa Cruz de Santa Rita. Betinho dizia com orgulho que jogador profissional precisa ter título, senão fica só o “de eleitor”. 

*Coluna publicada na edição impressa de 18 de junho de 2021.